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| - “Jacques Attali, 1981, então assessor de François Mitterrand, o presidente socialista, disse o seguinte: no futuro, será uma questão de encontrar uma forma de reduzir a população. Começaremos com o velho, porque assim que ultrapassar os 60-65 anos, o homem vive mais do que produz e isso custa caro à sociedade. Depois os fracos e depois os inúteis que não trazem nada para a sociedade porque haverá cada vez mais deles, e principalmente os estúpidos. A eutanásia deverá ser um instrumento essencial de nossas futuras sociedades, em todos os casos”, terá dito ou escrito Jacques Attali, numa citação que lhe é atribuída em múltiplas publicações detetadas pelo Polígrafo nas redes sociais.
Será verdade?
Jacques Attali é um economista francês que exerceu o cargo de assessor do presidente francês François Mitterrand entre 1981 e 1995. O texto, atribuído a Atalli, começa por descrever a eutanásia como um “instrumento essencial das nossas sociedades futuras uma vez que “uma população muito grande, e na maioria das vezes desnecessária, é economicamente demasiado cara”. Segundo outras publicações que o Polígrafo encontrou, alega-se que o texto terá sido escrito no ano de 1981 e está presente na sua obra “Uma breve história do futuro“(2006).
A agência AFP contactou o economista que garantiu que o texto “é totalmente inventado”. “Não se aproxima em nada do texto inicial. É como dizer que escrevi ‘Mein Kampf’ [livro de Adolf Hitler]. Como sempre, sou acusado de desejar algo que apenas prevejo e denuncio”, lamenta. As citações, adulteradas e descontextualizadas, foram retiradas de um livro de entrevistas, intitulado “L’Avenir de la vie” (1980) da autoria de Michel Salomon. Na obra, Salomon entrevista várias pessoas, entre as quais Jacques Attali.
Nesse livro, Attali foi questionado se seria “possível e desejável viver 120 anos”. Na resposta, as únicas citações semelhantes ao texto viral são apenas duas frases: “Mas assim que passamos dos 60/65 anos, o homem vive mais tempo do que produz e então custa mais à sociedade” e “Do ponto de vista da sociedade, é preferível que a máquina humana pare abruptamente ao invés de se deteriorar gradualmente”.
De seguida, e segundo a tradução da AFP, Atalli explica como a sociedade lida com a maior esperança de vida e com o lugar ocupado pelos idosos: “(…) Na própria lógica da sociedade industrial, o objetivo não será prolongar a esperança de vida, mas fazer com que, num determinado período, o homem viva o melhor possível, mas de tal forma que as despesas de saúde sejam as mais baixas possíveis em termos de custos coletivos”.
E conclui: “A eutanásia será um dos instrumentos essenciais das nossas futuras sociedades em todos os casos. Numa lógica socialista, para começar, o problema é o seguinte: a lógica socialista é a liberdade e a liberdade fundamental é o suicídio. Consequentemente, o direito ao suicídio direto ou indireto é um valor absoluto nesse tipo de sociedade. Numa sociedade capitalista, as máquinas de matar que tornarão possível eliminar a vida quando ela for demasiado insuportável ou economicamente muito cara, aparecerão e serão uma prática comum. Acredito, portanto, que a eutanásia, seja como um valor de liberdade ou como uma mercadoria, será uma das regras da sociedade do futuro”.
As afirmações de Jacques Attali já tinha sido verificadas, a 12 de outubro de 2018, pelo jornal francês Libération que recorda que os rumores são antigos, existindo vídeos de 2009 sobre o mesmo assunto. A entrevista ao economista francês e antigo assessor político pode ser lida na íntegra aqui.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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