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| - “Nos últimos cinco dias o preço do crude baixou 23 dólares, mas o assalto aos nossos bolsos continua“, lê-se numa publicação datada de 14 de outubro, no Facebook.
No post, partilhado mais de 500 vezes nos últimos dias, é divulgado um gráfico do indicador “Brent Crude Oil Continuous Contract” em que é destacada a descida mencionada, de 130 para menos de 110 dólares. No entanto, não é possível confirmar quais as datas tomadas como referência na análise.
Ora, foi também a 14 de outubro, na passada sexta-feira, que foi anunciada a subida do preço dos combustíveis que se verificou esta semana. Quem atestou o depósito na segunda-feira, 17, pagou mais 11,5 cêntimos por litro de gasóleo face à semana anterior. O litro de gasolina passou a custar mais sete cêntimos.
Mas será verdade que, apesar desta subida, o preço do crude baixou 23 dólares?
Em primeiro lugar, o gráfico da publicação parece ter sido extraído do site de informações financeiras “Market Watch”. No entanto, a 10 de outubro, o Brent estava cotado em 96 dólares. Até ao dia 14 de outubro, desceu para 91 dólares.
Contactado pelo Polígrafo, Gonçalo Aguiar, engenheiro electrotécnico e especialista em energia, confirma que a informação divulgada é totalmente falsa. “O preço do petróleo não chega aos 130 dólares por barril desde 2008”. Ressalva, no entanto, que é factual uma “descida do preço do petróleo desde o início de agosto“. Porém, trata-se de uma descida gradual, que se verificou ao longo de cerca de dois meses e meio.
Segundo António Comprido, secretário-geral da Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas (Apetro), na semana que está a servir de referência aos preços que estão a ser praticados atualmente, “houve 1,3% de aumento no Brent, isso pelo efeito combinado das cotações e da desvalorização do euro”. Afirma ainda que “a gasolina e o gasóleo, em euros, encareceram respetivamente 5,6% e 3,4%”.
“As variações de que tenho conhecimento [na valorização do Brent] são na ordem dos quatro ou cinco dólares. Pelos indicadores que utilizamos para a aferir a evolução dos preços não houve nenhuma descida de 23 dólares nesse período de tempo“, garante ainda. Mesmo assim, o secretário-geral da Apetro explica que “não se pode comparar o preço do crude em dólares com o preço da gasolina e do gasóleo em euros” e que mesmo entre estes dois combustíveis, “existem variações diferentes, porque cada um tem um mercado próprio”.
Em suma, segundo António Comprido, os preços desta semana “estão a refletir a média das cotações da gasolina e do gasóleo na semana anterior”, na qual se registou um aumento em relação há duas semanas. Além disso este aumento “foi superior ao aumento do crude e mais acentuado no gasóleo”, bem como “agravado pelo efeito da desvalorização do euro em relação ao dólar”.
Pedro Silva, especialista da área de energia da Deco Proteste reforça: “A cotação do petróleo nos mercados internacionais é definida em dólares. Neste âmbito importa salientar o impacto da taxa de câmbio do euro face ao dólar, em particular a forte depreciação da divisa europeia desde o inicio de 2022.”
“Em Janeiro de 2022, um euro valia cerca de 1.14 dólares, atualmente, cada euro vale aproximadamente 0.98 dólares. Considerando um preço fixo de 100 dólares/barril, em janeiro o contravalor em Euros era de cerca de 88 euros, já em outubro são necessários 102 euros para adquirir esse mesmo barril. Como se demonstra o fator cambial tem influência neste contexto”, informa ainda o especialista.
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Avaliação do Polígrafo:
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