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| - O que estão compartilhando: vídeo mostra impactos e riscos de não menstruar. O conteúdo afirma que a menstruação tem “um papel essencial na limpeza do útero” e que a falta do sangramento pode trazer doenças, como câncer.
O Estadão Verifica checou e concluiu que: é enganoso. Primeiramente, não é correto afirmar que a menstruação é uma limpeza uterina. Segundo especialistas da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp), trata-se de um processo natural do corpo de descamação do endométrio, e não tem função “purificadora”. Os médicos informaram que a falta da menstruação não necessariamente está ligada a doenças; ela pode ocorrer também devido ao uso de métodos contraceptivos e terapias hormonais, que não apresentam riscos aos pacientes. Pessoas que tiverem menstruação irregular devem procurar um médico para avaliar individualmente seus sintomas.
Saiba mais: Um vídeo com mais de 220 mil visualizações no Instagram divulga informações distorcidas sobre os riscos de não menstruar. Segundo o conteúdo, o processo fisiológico é uma “limpeza do útero” e, por isso, há consequências para pessoas que não menstruam. No entanto, o conceito é antigo e a falta do sangramento não está ligada diretamente a doenças.
De acordo com o médico José Maria, presidente da Comissão de Ginecologia Endócrina da Febrasgo, a saúde uterina não está ligada necessariamente à menstruação. “Não se pode fazer uma generalização de que não menstruar está relacionado a um risco ou uma doença. Uma mulher que usa uma pílula, por exemplo, não menstrua. Isso não significa que ela tem algum problema ou algo grave”, disse. “Em alguns casos, a não menstruação pode ser benéfica para pacientes que sofrem de anemia por conta do fluxo intenso, por exemplo”.
O ginecologista João Bosco, professor e membro da Sogesp, afirmou que há métodos contraceptivos seguros que podem interromper a menstruação sem riscos: pílulas contínuas, implantes subcutâneos e implantes intrauterinos medicados.
“Esse é um comportamento comum para os jovens e uma escolha de muitas pessoas hoje em dia”, explicou. “Há várias opções no mercado em que a pessoa fica sem menstruar e isso não quer dizer que ela não esteja com seus hormônios funcionando normalmente, simplesmente está usando um método para suspender o ciclo”.
Opções contraceptivas como a pílula bloqueiam a ovulação e, portanto, a descamação do endométrio – camada interna uterina. Além disso, pessoas trans e não-binárias também podem deixar de menstruar devido a terapias hormonais.
É importante citar que o acesso à contracepção é um direito sexual e reprodutivo. No Sistema Único de Saúde (SUS), há uma lista de métodos disponíveis gratuitamente nas unidades de saúde.
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Menstruação não é limpeza no útero
Os médicos explicam que a ideia de que a menstruação é uma “purificação” do útero é antiga. “O útero não faz uma ‘limpeza’. Isso não existe e já caiu por terra há muito tempo”, explicou Bosco. “Menstruar é descamar o endométrio mensalmente como um comportamento reprodutivo normal. Se você, por uma ação orientada por um médico, usar contraceptivos e não menstruar, não tem problema nenhum”.
De acordo com o professor, a amenorreia, ausência da menstruação citada no vídeo viral, pode ou não estar ligada a doenças. “Há condições que devem ser diagnosticadas e tratadas por um médico, como a síndrome do ovário policístico (SOP) ou a falência ovariana prematura, que chamávamos de menopausa precoce. Mas misturar isso com a não menstruação pode assustar desnecessariamente”, disse ele.
A SOP é um distúrbio hormonal em que pequenos cistos se formam dentro dos ovários, responsáveis por produzir os hormônios sexuais femininos. Ela acomete cerca de 6% a 10% das mulheres em idade fértil e pode gerar sintomas como menstruações irregulares, acne, obesidade e infertilidade. Já a falência ovariana, ou insuficiência ovariana prematura (IOP), é a perda da função ovariana antes dos 40 anos de idade, que atinge cerca de 1% das mulheres.
O ginecologista José Maria alerta que, diferentemente do que sugere o vídeo viral, a falta de menstruação não está ligada diretamente ao risco de doenças graves, como câncer. “O mais indicado é que as pacientes procurem um médico para avaliar individualmente os seus sintomas”, disse. “Não confie em informações na internet que façam generalizações”.
Como lidar com posts do tipo: É comum que informações sobre saúde sejam divulgadas de maneira confusa e distorcida nas redes sociais para causar medo. Antes de acreditar, procure por um profissional na área ou pesquise em portais oficiais, como o Ministério da Saúde. Neste caso, o vídeo foi produzido com imagens aleatórias, indicações generalistas e uma narração robótica, o que alerta sobre a possibilidade de o conteúdo não ter sido produzido por especialistas no tema.
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