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| - “O que eu não quero é o desenvolvimento [do país] preconizado pelo atual Presidente [da República] que deixou claro no debate que fez comigo. O senhor Presidente da República orgulha-se de ter sido autarca durante 20 anos do concelho mais pobre do país e tê-lo deixado pobre“, declarou Tiago Mayan Gonçalves, candidato à Presidência da República apoiado pelo partido Iniciativa Liberal, no debate que juntou todos os candidatos ao Palácio de Belém, ontem à noite, na RTP.
“E a perspetiva de futuro para este país é, de facto, se Marcelo Rebelo de Sousa for reeleito, terminar o seu mandato como Presidente do país mais pobre da Europa”, acrescentou o candidato liberal.
De facto, no debate que opôs Mayan a Rebelo de Sousa na RTP, a 3 de janeiro, o Presidente da República (e recandidato ao cargo) proferiu a seguinte afirmação: “Eu fui autarca 20 anos. Estive no terreno de uma das autarquias mais pobres do país, não é Lisboa nem Porto, é Celorico de Basto“.
É verdade que Rebelo de Sousa foi autarca durante cerca de 20 anos (ou cerca de 18 anos, rigorosamente), mas não apenas em Celorico de Basto. Na realidade foi presidente da Assembleia Municipal de Cascais (1979-1982), vereador da Câmara Municipal de Lisboa (1990-1993) e presidente da Assembleia Municipal de Celorico de Basto (1997-2009).
No que concerne ao referido “concelho mais pobre do país” (ou um dos mais pobres, rigorosamente), essa distinção (pela negativa) de Celorico de Basto tem sido recorrente no âmbito do Estudo Sobre o Poder de Compra Concelhio do Instituto Nacional de Estatística (INE).
Em 1997, quando Rebelo de Sousa assumiu pela primeira vez a presidência da Assembleia Municipal de Celorico de Basto, esse concelho já era o quarto pior classificado do país no relatório do INE, com um indicador per capita de 28,29, superando apenas os de Calheta, Santana e São Vicente.
Já em 2009, quando Rebelo de Sousa cessou funções na Assembleia Municipal de Celorico de Basto, esse concelho persistia no fundo da tabela no relatório do INE, a par de Ribeira de Pena, Sernancelhe e Vinhais.
Na mais recente edição do Estudo Sobre o Poder de Compra Concelhio do INE, com dados referentes a 2017, Celorico de Basto destaca-se mais uma vez nas últimas posições da tabela do indicador per capita, desta vez acompanhado por Cinfães, Ponta do Sol e Tabuaço.
A persistente má classificação de Celorico de Basto nos estudos do INE, ao longo de décadas, levou mesmo o presidente da Câmara Municipal, Joaquim Mota e Silva, a ameaçar que iria agir judicialmente contra o INE em 2013, porque “é sempre a mesma pessoa a fazer o trabalho e parte de uma base errada que gera uma imagem errada da terra, que acarreta prejuízos grandes“, como declarou na altura ao “Jornal de Notícias”.
Mais recentemente, em 2018, o mesmo Mota e Silva foi condenado, por prevaricação, a três anos de prisão, com pena suspensa, e a perda do mandato autárquico. Segundo reportou o jornal “Público”, o autarca era acusado do crime de prevaricação em cargo político relacionada com contratação da empresa “Casa do Portelo – Agroflorestal, Turismo e Serviços” da qual o seu pai, Albertino Mota e Silva, era o dono. Logo no ano seguinte, porém, acabou por ser absolvido pelo Tribunal da Relação de Guimarães.
Em suma, é verdade que Rebelo de Sousa foi autarca durante 12 anos (e não 20 anos, embora o erro deva ser atribuído ao próprio Rebelo de Sousa e não a Mayan que estava a citar o adversário) de um dos concelhos mais pobres do país (em alguns relatórios do INE aparece mesmo na última posição, mas não em todos) e que assim continou a ser pelo menos até 2017, de acordo com os dados mais recentes.
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Avaliação do Polígrafo:
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