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  • Os utensílios e os recipientes de cobre são usados desde a Antiguidade para cozinhar e servir comida ou bebidas. Publicações que alegam que beber água em vasos de cobre é “muito saudável para os seres humanos” tornaram-se virais nas redes sociais nas últimas semanas. Num destes posts, um autor enumera as supostas qualidades do cobre, explicando que o mesmo é “tóxico para bactérias, fungos e outros microrganismos”, uma vez que se desinfeta “a cada 8 horas”. Entre os supostos benefícios que este mineral tem é referido, por exemplo, que o cobre ajuda a “curar mais rápido”, “reduz o risco de cancro” e a “dor da artrite”, “regula a tiroide” e a “produção de melanina” e, ainda, que “impulsiona a saúde cardiovascular”. Numa outra publicação, um utilizador garante que “depois de 3 dias” a beber água de vasos de cobre será possível notar “uma diferença significativa”, sublinhando que o uso deste elemento “regula o equilíbrio” e “protege a energia” de cada um. Mas será que isto é verdade? É um facto que o cobre é um mineral importante para a saúde humana. Na página do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável da Direção-Geral da Saúde (DGS) pode ler-se que o cobre “está presente em maior concentração no fígado, cérebro, coração e rim” e “é um componente de muitas enzimas”. Por essa razão, é também referido no site da DGS que, caso existam défices deste elemento, os mesmos podem levar a “falhas nessas mesmas enzimas” e cujos sintomas são “caracterizados por anemia, neutropenia e anormalidades esqueléticas”. Ainda assim, não há evidências científicas que comprovem que beber água ou qualquer bebida a partir de um vaso de cobre traga benefícios para a saúde. Especialistas citados pela agência de notícias France Presse (AFP) levantam dúvidas sobre a eficácia do uso destes recipientes, por exemplo, na perda de peso ou na regulação da tiroide ou da função cerebral. Mellanie Dutra, neurocientista e cordenadora da Rede Análise, explica mesmo à AFP que “nem sequer há evidências de que a pessoa [que usa vasos de cobre] está realmente exposta” a este mineral, uma vez que este tipo de recipientes passam “por um processo de selagem”. Por exemplo, os utensílios de cobre utilizados para cozinhar são, geralmente, revestidos a aço. Também o Centro Médico da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, cita vários especialistas num artigo publicado online e no qual sublinha que “provavelmente não existem benefícios ou riscos reais para a saúde” que resultem de “beber fluídos” de um vaso de cobre. Neste texto é igualmente referido que a maioria destes recipientes “são selados no interior, pelo que não existe uma exposição real” a este elemento. Fact Check. Salsa é o melhor tratamento para limpar os rins? E apesar de os dados científicos relativos ao uso de vasos ou potes de cobre serem escassos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) dá conta de vários relatos de toxicidade em seres humanos que consumiram água com níveis elevados de cobre. O artigo, que serve de base às orientações da OMS para a qualidade do consumo de água, relata as consequências para a saúde que resultam do consumo de água estagnada em canos e acessórios compostos por cobre, bem como de sistemas de canalização domésticos que permitem que este elemento contamine a água. Foram dados que levaram a Agência de Proteção Ambiente norte-americana a estabelecer um limite de 1.3mg/l de cobre nos sistemas de água pública do país. Importa também referir as publicações virais em análise omitem os riscos que a alta exposição de cobre pode representar para a saúde. Questionado pelo Observador, Félix Carvalho, professor catedrático da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP), confirma que o cobre “é um elemento essencial para o organismo”, sublinhando que, nesse ponto de vista, “uma ingestão normal de cobre é importante”. Ainda assim, ressalva o investigador, basta a “quantidade que obtemos a partir da alimentação normal”. “Não precisamos de suplementos de cobre a não ser que haja uma deficiência”, acrescenta, “e em caso de deficiência há medicamentos para isso”, a solução não passa por “suplementos que podem causar problemas graves”. Usando como exemplo a referência que é feita ao facto de o cobre ser “tóxico para bactérias e fungos”, Félix Carvalho, também responsável pelo Laboratório de Toxicologia da FFUP, adianta que “ter um efeito anti-bacteriano” não significa que o cobre “é bom para organismo”. “Imaginem o que é ter um antibiótico constante na nossa flora gastrointestinal”, questiona o professor catedrático: “Teríamos problemas graves se isso acontecesse”. Fact Check. Limão congelado e as respetivas cascas têm capacidade “milagrosa” para curar o cancro? O investigador dá alguns exemplos de como o cobre é negativo para o organismo, sublinhando o que se passa em “doenças genéticas, como a doença de Wilson” — uma rara doença hereditária, na qual “há uma acumulação de cobre” no fígado, causando-lhe danos. De resto, detalha Félix Carvalho, “quando está em excesso [o cobre] pode provocar problemas hepáticos, neurológicos e oftalmológicos”, podendo mesmo levar à morte “se esse excesso não for eliminado”. Ou seja, conclui o professor catedrático da FFUP, “esta publicação não parece ser adequada”. Importa sublinhar que as redes sociais são frequentemente palco para a propagação de teorias e remédios caseiros relacionados com a saúde humana. Publicações semelhantes a esta já foram, igualmente, desmentidas no passado por factcheckers internacionais como o da AFP. Conclusão A publicação é falsa. Vários especialistas rejeitam a ideia de que beber água de vasos de cobre é positivo para a saúde, uma vez que não há quaisquer evidências científicas. O excesso de cobre no organismo pode, aliás, provocar vários problemas, por exemplo, no campo hepático e neurológico. Posts semelhantes a estes já foram também desmentidos no passado. Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é: ERRADO No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é: FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos. NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.
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