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| - Está a circular nas redes sociais uma publicação com uma lista de 57 agentes patogénicos que, alegadamente, também dão resultado positivo nos testes PCR concebidos para detetar a infeção pelo SARS-CoV-2. Afirma-se mesmo que essa informação consta das bulas informativas dos testes.
Embora nunca se refira a fonte da lista, os vírus e bactérias que nela constam são mencionados nas instruções para utilização de um kit para deteção PCR do SARS-CoV-2 da farmacêutica Fosun, que tem autorização para uso em emergência da Food and Drug Administration (FDA) nos Estados Unidos. Mas o documento explica claramente que esses agentes patogénicos foram utilizados em contexto laboratorial precisamente para confirmar que o teste PCR não resultava positivo para outros vírus e bactérias além do SARS-CoV-2.
Essa explicação surge num subtítulo dedicado à reação cruzada. A farmacêutica esclarece que o teste “foi projetado para detetar todas as variantes do SARS-CoV-2” e que os componentes foram “criados com base em regiões específicas do genoma” do vírus, “garantindo a deteção específica do ARN viral do SARS-CoV-2“.
Prova disso é que, em análises computacionais, houve uma “homologia significativa” entre duas regiões do material genético do SARS-CoV-2 — uma referente à proteína N e outra à proteína E — e as sondas utilizadas no teste PCR da Fosun. O mesmo não aconteceu com os outros microorganismos: “Todas as outras homologias não foram significativas para o par de primers e sondas, portanto um falso resultado positivo não é provável“.
Os primers e as sondas são moléculas utilizadas nos kits de testagem PCR que têm capacidade para se unirem a porções específicas do material genético do microorganismo que se pretende detetar — e, se isso acontecer, o teste é positivo. Com o SARS-CoV-2, se essas partes específicas do material genético do vírus estiverem presentes (neste caso partes da proteína N e da proteína E que não existem noutros microorganismos), então os primers ligam-se a eles. Se não estiver, o processo pára e o teste é negativo.
Fact Check. Testes PCR não fazem distinção entre os vários coronavírus?
Numa outra experiência, os cientistas recolheram amostras com uma zaragatoa em gargantas artificiais contaminadas com vários vírus (incluindo o SARS-CoV-2) e bactérias. Cada amostra foi testada três vezes com kits retirados de três lotes diferentes. Compreendeu-se assim que o teste PCR da Fosun “exibiu especificidade analítica satisfatória e não apresentou reatividade cruzada com vírus e bactérias testados”.
Mesmo que a publicação não se refira à bula informativa deste teste em particular, a FDA explicou à Reuters que estes vírus e bactérias são geralmente avaliados em estudos de reação cruzada, cujos resultados são públicos nos Estados Unidos e podem ser consultados aqui.
Isto não significa que não exista testagem PCR para nenhum dos microorganismos listados, nem que ele só seja aplicado a casos suspeitos de infeção pelo SARS-CoV-2. Esta tecnologia já era utilizada antes da pandemia de Covid-19 para detetar o material genético de outros agentes patogénicos específicos. Por exemplo, é com recurso a um teste PCR que se diagnostica uma infeção pelo vírus do papiloma humano (HPV) e também pode ser usado para detetar células cancerígenas.
Por isso, não seria estranho encontrar informação sobre um teste PCR dedicado a detetar outros agentes patogénicos — cada um é adaptado para conseguir sondar o material genético que compõe os vírus ou células para que foi concebido detetar.
Conclusão
É falso que a lista que surge nestas publicações mostre outros agentes patogénicos que também dão um resultado positivo quando se aplica um teste PCR para deteção do SARS-CoV-2. Os microorganismos em causa são utilizados em testes precisamente para garantir que eles não resultam positivo para outros agentes patogénicos além do SARS-CoV-2.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.
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