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| - “Ao contrário do que aparece nos panfletos locais (neste caso preciso da EDP), o consumo de energias renováveis não ultrapassou o das não renováveis, no melhor dos caso terá sido o consumo de energia para fins de produção de eletricidade. Tendo em conta a produção de eletricidade de fonte solar e eólica, esta (não confundir com o consumo) representa 1.376 GWh num total de 4.359 GWh (a 22 de dezembro o saldo exportador foi positivo em 396 GWh)”, destaca-se num post de 27 de dezembro no Facebook, remetido ao Polígrafo com pedido de verificação de factos.
“Em Portugal, a taxa de dependência de petróleo bruto, gás natural e combustíveis sólidos ronda os 70%“, conclui-se.
“De grosso modo isto está correto“, confirma João Coutinho, professor catedrático no Departamento de Química da Universidade de Aveiro e diretor do Instituto de Materiais de Aveiro (CICECO), questionado pelo Polígrafo.
Está em causa informação divulgada em novembro de 2022 pela Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN), recolhida a partir da base de dados da REN – Redes Energéticas Nacionais.
“Ao olhar para os dados de novembro de 2022, que estão na APREN, é muito claro. Em relação à energia elétrica, esta representa de grosso modo um quinto da energia consumida em Portugal: 60% é renovável, ou se quisermos 55% é renovável e mais 5% é de bombagem. Bombagem é, na hidroelétrica, a água ser passada das barragens de cota mais baixa para mais alta para guardar água para voltar a atualizar na produção de energia elétrica. E, portanto, estamos a falar, num ano mau como este em que a energia hídrica esteve muito muito abaixo daquilo que é normal, ainda assim a produção total foi de cerca de 60% para renovável e 40% para fóssil“, explica Coutinho.
O problema é que “a maior parte dos nossos carros não são elétricos, a maior parte do nosso transporte não é elétrico, e na indústria também a maior parte dos processos não estão eletrificados. A produção de cerâmicas, cimento, a maior parte das coisas que se faz em Portugal não é com energia elétrica. Tem razão quando diz que a nossa taxa de [dependência de] energia fóssil, digamos assim, ronda talvez os 70%. É perfeitamente razoável este valor”.
“Quando se fala do consumo em termos de energias renováveis, estamos sempre a falar da energia elétrica porque as energias solares, eólicas, hidráulicas, é tudo para produção de energia elétrica”, sublinha o diretor do CICECO. “A energia elétrica onde estamos muito avançados em termos de produção de renováveis representa apenas um quinto [do consumo] da energia total do país“.
De resto, “não é previsível que, num futuro próximo, a maior parte da nossa energia seja elétrica e de fontes renováveis, porque isso exigirá uma mudança muito radical no nosso parque automóvel” e “uma mudança muito radical também na indústria. E quando digo mudança muito radical falo na cerâmica em que estão a trabalhar fortemente para substituir parte do gás natural por energia verde, mas isto não é uma coisa que vá acontecer de hoje para amanhã, demorará uns anos para acontecer”.
No mesmo sentido aponta Rui Baptista, professor do Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), que em resposta ao Polígrafo confirma que “a energia que é aqui considerada são as fontes de energia que são utilizadas para produção de eletricidade, que é uma das formas de consumo final”.
Baptista considera que o maior problema das energias renováveis “é a questão do armazenamento“, além de serem “intermitentes”, ou seja, dependentes do vento e do Sol que são “fontes não controláveis”.
Mais, “em Portugal não temos nem carvão, nem petróleo, nem gás considerados viáveis para exploração comercial“, o que contribui para a dependência de energia importada.
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Avaliação do Polígrafo:
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