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| - Naquela que terá sido a penúltima edição de sempre do histórico programa de debate político “Quadratura do Círculo”, transmitido na SIC Notícias, a 17 de janeiro, António Lobo Xavier referiu-se ao símbolo do PSD como “uma seta para cima”, mas José Pacheco Pereira corrigiu prontamente: “Três setas!”
O historiador e militante do PSD aproveitou a ocasião para explicar: “São três setas. Quando se põe apenas uma seta, abastarda-se o símbolo. São as três setas que vêm da Alemanha, da luta dos sociais-democratas contra o nazismo. Punham três setas por cima da cruz gramada, para dar cabo da cruz gamada. É essa a origem das três setas do PSD”.
“Os nazis desenhavam a cruz gamada [ou cruz suástica] nas paredes. E os sociais-democratas, naquele período mais duro, enfiavam-lhe as três setas aqui por cima”, acrescentou Pacheco Pereira, desenhando o efeito gráfico numa folha de papel.
É verdade que as três setas do símbolo do PSD (antigo PPD) têm origem ou inspiração na luta dos sociais-democratas contra o nazismo na Alemanha? A autoria da ideia do símbolo é comummente atribuída a Augusto Cid, veterano caricaturista, ilustrador e escultor. Quanto à explicação sobre a origem e o conceito do símbolo, o texto mais referenciado e citado foi escrito pelo jurista Pedro Roseta e publicado no jornal “Povo Livre”, edição de 4 de março de 1975.
“As três setas – símbolo do PPD”. Assim se intitula o texto, dividido em dois pontos, que transcrevemos de seguidar:
“O nascimento de um símbolo
Tal como outros movimentos, também os partidos sociais-democratas adoptaram, desde o início, diversos símbolos exteriores que pudessem, de forma rápida, sugestiva e uniforme indentificá-los perante o maior número de pessoas.
Assim, durante muitos anos, o Partido Social-Democrata Alemão serviu-se largamente de diversos símbolos, entre eles a bandeira encarnada e o cravo vermelho na lapela.
Mas um novo símbolo, forjado na luta contra o totalitarismo, estava destinado a sobrepor-se aos restantes.
A descoberta, em 1931, de um feroz programa de repressão que os nazis pretendiam aplicar na Alemanha quando conquistassem o poder, através das famigeradas SA (Secções de Assalto), provocou grande agitação entre a população trabalhadora e o seu partido: o SPD (Partido Social-Democrata Alemão).
Poucos dias depois, em Heidelberg, uma das muitas cruzes suásticas que já então os nazis reproduziam em grande quantidade nas paredes das cidades alemãs apareceu cortada por um traço grosso de giz branco.
Certamente algum trabalhador, cujo nome para sempre ficará ignorado, ao ver o símbolo odiado das forças totalitárias, não se pode conter e resolveu espontaneamente riscá-lo.
Em pouco tempo os sociais-democratas lançaram-se por toda a cidade à destruição das cruzes fascistas. Segundo um testemunho da época, à palavra de ordem: ‘Ao combate, rapazes, cortai o monstro de garras com uma flecha, com um raio!’, o traço tornou-se flecha, e os militantes passavam as noites num verdadeiro delírio. Os adversários sentiram, imediatamente, que alguma coisa ocorria na cidade, abriram os olhos; novas cruzes gamadas apareceram, logo em seguida riscadas pelos sociais-democratas. Os hitleristas estavam furiosos (…) Uma curiosa guerrilha explodiu na cidade’. ‘Após uma semana de luta de símbolos, sobre os muros da cidade, o momento esperado chegou: a proporção entre o número de cruzes riscadas e intactas cresceu a favor dos sociais-democratas’. Três semanas haviam decorrido. Muitos militantes reconheceram com entusiasmo: “É extraordinário! Cada vez que se vê na rua um signo inimigo riscado, aniquilado, sente-se como que um choque interior: os nossos homens passaram por ali, estão ativos, lutam de facto’.
Entretanto e para alcançar, pela repetição, uma melhor eficácia e acentuar a ideia coletiva do movimento, a seta multiplicou-se por três.
Assim nasceram, pois, as três setas da social-democracia – expressão da luta contra o fascismo.
Significado do símbolo
Nascidas espontaneamente na luta dos militantes sociais-democratas contra o nazismo, as setas da social-democracia exprimiam muito bem a aliança entre as organizações dos trabalhadores reunidos na Frente de Bronze, a grande organização de luta anti-nazi criada pelo Partido Social-Democrata Alemão: o próprio Partido (SPD); os sindicatos; e a organização “Bandeira do Reich” com as organizações desportivas de trabalhadores. As setas simbolizavam, portanto, os três factores do movimento: o poder político e intelectual; a força económica e social; a força física. O seu paralelismo exprimia o pensamento da frente unida: tudo devia ser mobilizado contra o inimigo comum – o nazismo.
O símbolo das sociais-democracias espalhou-se depois largamente: era dinâmico e ofensivo, significava o avanço do Povo para um futuro novo e diferente. Traduzia bem, de acordo com o pensamento de Edward Bernstein, a importância fundamental do movimento, das conquistas sucessivas e progressivas realizadas por via democrática.
Lembrava aos sociais-democratas as qualidades fundamentais que lhes eram exigidas: a actividade, a disciplina e a união.
Ao símbolo do nosso Partido, as três setas, foram sucessivamente atribuídos outros significados que correspondem, na realidade, às linhas fundamentais do programa do PPD. As setas representam os valores fundamentais da Social-Democracia: a liberdade, a igualdade e a solidariedade; mostram que a democracia só existirá verdadeiramente se for simultaneamente política, económica e social.
Finalmente, as cores simbolizam movimentos e correntes de pensamento que contribuíram para a síntese ideológica e de acção da Social-Democracia: a negra, recorda os movimentos libertários do século passado, a vermelha, lembrando as lutas das classes trabalhadoras e dos seus movimentos de massa, e a branca, apontando os valores do homem, a tradição Cristã e humanista da Europa consubstanciada no Personalismo.
Em resumo, o símbolo do PPD expressa bem a nossa vontade irreversível de ascensão, de caminhada com todos os Portugueses, para um futuro diferente, para a construção de uma sociedade nova, na Justiça e na Liberdade”.
Avaliação do Polígrafo:
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