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| - “Num país que escancara [as] portas aos imigrantes”, comenta-se no topo da publicação de 22 de julho no Facebook, remetida ao Polígrafo com solicitação de verificação de factos. Em causa está uma citação atribuída a Rosário Carneiro, vice-presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, que terá afirmado (sem indicação de fonte ou data) que “em Portugal, todos os anos os relatórios mostram o aumento do número de pobres. Há cada vez mais pessoas a ficarem para trás”.
A citação não é totalmente exata, mas confirma-se que, no sentido global, é verdadeira. “Em Portugal, infelizmente, todos os anos os relatórios mostram o aumento do número de pobres e em risco de pobreza, por isso há cada vez mais pessoas a ficarem para trás”, afirmou realmente Maria do Rosário Carneiro, em declarações à Agência ECCLESIA, no dia 21 de julho.
“Esta catadupa de crises está a deixar as pessoas estupefactas e impotentes, como reagir a tanta coisa. (…) Os últimos três anos têm sido avassaladores. (…) As tragédias afetam sempre quem tem menos”, sublinhou Rosário Carneiro.
Os dados do Eurostat e do Instituto Nacional de Estatística (INE) compilados na Pordata demonstram que a taxa de risco de pobreza antes de qualquer transferência social passou de 42,4% em 2019 para 43,5% em 2020, resultando no primeiro aumento neste indicador desde 2013.
Quanto à taxa de risco de pobreza após transferências sociais passou de 16,2% em 2019 para 18,4% em 2020, resultando também no primeiro aumento neste indicador desde 2013.
Estes aumentos registados em 2020 são indissociáveis do advento da pandemia de Covid-19 e subsequente paralisação económica. Ainda assim, a taxa de risco de pobreza antes de qualquer transferência social permanece abaixo do nível registado em 2011 (45,4%). Por seu lado, a taxa de risco de pobreza após transferências sociais está abaixo do nível registado em 2012 (18,7%), assim como é inferior a todo o período da série estatística entre 1994 e 2005.
Rosário Carneiro ainda ser refere aos “últimos três anos” que “têm sido avassaladores”, mas ainda não há dados consistentes relativamente a 2021 e 2022. De acordo com os dados disponíveis até 2020, apesar do aumento global em comparação com as décadas de 1990 e 2000 (no que concerne à taxa de risco de pobreza antes de qualquer transferência social), o facto é que desde o final de 2015, quando António Costa assumiu o cargo de primeiro-ministro, até foi diminuindo: 45,2% em 2016, 43,7% em 2017, 43,4% em 2018, 42,4% em 2019. Só voltou a aumentar em 2020.
Aliás, a taxa de risco de pobreza após transferências sociais, apesar do aumento significativo em 2020, continua a ser inferior à registada entre 1994 e 2005.
Daí que a alegação sob análise – “Todos os anos os relatórios mostram o aumento do número de pobres e em risco de pobreza” – tenha de ser classificada com um selo de “Impreciso“. Aumentou em 2020, sim, mas na sequência de uma série de anos em que até diminuiu.
No último boletim sobre “Rendimento e Condições de Vida” do INE, publicado em dezembro de 2021 (pode consultar aqui), informa-se que “o Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, realizado em 2021 sobre rendimentos do ano anterior, indica que 18,4% das pessoas estavam em risco de pobreza em 2020, mais 2,2 pontos percentuais (p.p.) do que em 2019. A taxa de risco de pobreza correspondia, em 2020, à proporção de habitantes com rendimentos monetários líquidos (por adulto equivalente) inferiores a 6.653 euros (554 euros por mês)”.
“O crescimento do risco de pobreza foi mais severo no caso das mulheres (mais 2,5 p.p., de 16,7% em 2019 para 19,2% em 2020), em particular no caso das mulheres idosas (mais 3,0 p.p., de 19,5% para 22,5%)”, realçou o INE.
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Avaliação do Polígrafo:
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