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| - Recebido à entrada do Pavilhão Rosa Mota, no Porto, por alguns manifestantes, o primeiro-ministro terá ignorado a contestação. No final da entrevista de ontem à noite à RTP, porém, deixou claro que não os vê como uma ameaça. E que nem sequer lhe parece estranha a revolta social: afinal, vivemos numa “democracia madura”, reforçou o secretário-geral do Partido Socialista (PS), no dia em que festejou, durante a tarde, os 50 anos do partido.
Eleições antecipadas, por dissolução do Parlamento, não são um cenário plausível para António Costa. As greves e manifestações são “normais”, disse, recorrendo a indicadores como o aumento da inflação para justificar o descontentamento social: “Temos que compreender que da democracia faz parte a liberdade sindical e é natural, sobretudo em momentos como aquele que vivemos o ano passado, em que a inflação de um ano para o outro sobe de 1% para 8%, que haja descontentamento social. Estranho seria que não houvesse. As manifestações fazem parte da nossa vida democrática.”
Quanto à subida da inflação, os números são confirmados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) nos boletins relativos aos anos de 2021 e 2022. No ano passado, e como arredondou António Costa, o Índice de Preços no Consumidor (IPC) registou uma variação média anual de 7,8%, 6.5 pontos percentuais acima da variação registada no conjunto do ano 2021 (1,3%).
Segundo o INE, esta foi a variação anual mais elevada desde 1992. “Excluindo do IPC a energia e os bens alimentares não transformados, a taxa de variação média situou-se em 5,6% (0,8% no ano anterior). A taxa de variação homóloga do IPC total evidenciou uma acentuada subida ao longo de 2022, com maior intensidade na primeira metade do ano. No segundo semestre de 2022 a variação homóloga do IPC manteve-se elevada e acima da média do ano, mas observou-se uma desaceleração dos preços nos últimos dois meses do ano. A variação média registada no segundo semestre (9,5%) foi superior à do primeiro (6,1%)”, acrescentou o Instituto.
Inflação em máximos históricos
De acordo com o INE, os primeiros anos do século XXI não foram os melhores para o poder de compra dos portugueses: em 2002, por exemplo, a média anual de inflação foi de 3,6%, um valor que desceu 0,4 pontos percentuais logo em 2003, para 3,2%. As quedas foram consecutivas até ao ano de 2005, mas foi só em 2009 que Portugal registou uma inflação abaixo dos 2%. Neste caso, foi também a primeira inflação negativa do novo milénio: -0,83%.
A partir desse ano, só em 2011 e em 2012 é que se registaram inflações acima dos 2% (3,7% e 2,8%, respetivamente), sendo que entre 2013 e 2021 os valores ficaram sempre entre os 1,37% e os -0,28%. Em média, a inflação foi de 1,6% nos 20 anos que antecedem 2022. Quanto aos últimos cinco anos, a inflação atingiu os valores mais baixos das últimas décadas (1,3% em 2021, 0,01% em 2020, 0,34% em 2019, 0,99% em 2018 e 1,37% em 2017), registando uma média de 0,8%.
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