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| - A denúncia sobre a posição incongruente do Chega tem circulado nas redes sociais, em forma de meme: do lado esquerdo, é visível a frase “Chega exige que Novo Banco devolva 850 milhões de euros ao Fundo de Resolução”; do lado direito, surgem as palavras “Aprovado, suspensão dos pagamentos do Fundo de Resolução ao Novo Banco, votos contra do PS, IL e Chega”.
A imagem dá, assim, a entender que André Ventura votou no sentido de permitir que se injete mais dinheiro público no Novo Banco, uma vez que se opôs à proposta de alteração ao Orçamento do Estado apresentada pelo Bloco de Esquerda, para anular a transferência de 476 milhões de Euros do Fundo de Resolução para aquela instituição bancária, no próximo ano. Curiosamente, o meme sugere também que, já este ano, o líder do Chega exigiu que o banco devolvesse 850 milhões de euros que recebeu do Fundo de Resolução, uma posição contrária que põe em causa a coerência do discurso do deputado e do partido.
Contudo, será que a alegação feita nas redes sociais corresponde à realidade e, com o voto no Parlamento, Ventura deu o dito por não dito?
A resposta é não. Porém é certo que o Chega, em menos de 24 horas, votou a proposta do Bloco de todas as maneiras possíveis.
Por um lado, é autêntico que, em maio, depois de ser conhecida uma injeção de 850 milhões de euros do Fundo de Resolução no Novo Banco, o Chega, através de um comunicado, exigiu que o empréstimo fosse devolvido, enquanto não estivesse “concluída a auditoria” ao banco. Para o partido, o caso foi uma prova da “incongruência e desfaçatez do Governo: esmifrar à classe média enquanto continua a sustentar a banca, atirando areia para os olhos de todos”, isto porque a injeção terá sido “aparentemente desconhecida do primeiro-ministro”.
Por outro lado, também é verdadeiro que o Chega votou contra a proposta do Bloco de Esquerda no debate na especialidade, na quarta-feira à noite.
No entanto, no plenário que discutiu o Orçamento do Estado, na quinta-feira de manhã, tudo mudou. Apesar de, enquanto discursava, André Ventura garantir que não iria votar a favor da proposta e de, numa primeira votação, se ter abstido, numa segunda ronda de votos, depois da mudança de posição do PSD/Madeira, o deputado do Chega acabou por votar a favor da proposta do Bloco de Esquerda, que foi aprovada e que dita a retirada, do Orçamento do Estado, de uma transferência de 476 milhões de euros para o Novo Banco.
Em bom rigor, a votação final é a votação decisiva, o que significa que Ventura votou a da proposta do Bloco, facto que retira validade à informação veiculada pelo meme que circula nas redes sociais.
O Polígrafo contactou o Chega, que reitera a convicção inicial de André Ventura: “Não queríamos viabilizar, porque a proposta está juridicamente mal feita e pode passar a ideia de incumprimento”. Em relação à mudança de sentido de voto, o partido remeteu para a conferência de imprensa dada por Ventura no Parlamento: “Assumo que mudámos de posição, não porque gostemos da proposta, mas porque ela é um mal menor», disse o deputado aos jornalistas, ao mesmo tempo que esclareceu que o objetivo era “garantir que a proposta seria aprovada”.
Em conclusão, o Chega votou contra a proposta o Bloco de Esquerda para anular a transferência de 476 milhões de euros para o Novo Banco, mas apenas no debate na especialidade. Na votação final, num primeiro momento, André Ventura absteve-se, mas com a mudança de sentido de voto do PSD/Madeira, o líder do Chega acabou por votar a favor da proposta do BE. Significa, isto, que, em menos de 24 horas, Ventura usou todos os sentidos de voto possíveis em relação à proposta em causa.
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Avaliação do Polígrafo:
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