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| - Se deparasse no Facebook com um texto salientando que um jogador de futebol não quer “10 Ferraris, 20 relógios de diamantes ou dois aviões” e, em troca, utiliza o seu salário para ajudar a construir escolas, estádios, fornecer “roupas, sapatos, alimentos para pessoas de extrema pobreza”, resistiria a partilhar? Foi assim que se tornou viral uma publicação com declarações atribuídas a Sadio Mané, jogador senegalês do Liverpool.
“Sadio Mané: Para quê por que eu quero 10 Ferraris, 20 relógios de diamantes ou dois aviões? O que eles farão por mim e pelo mundo? Sofri fome, trabalhei no campo, sobrevivi às guerras, joguei futebol descalço, não tinha educação e muitas outras coisas, mas hoje com o que ganho graças ao futebol, posso ajudar o meu povo”, destaca-se na publicação. “Eu construí escolas, um estádio, fornecemos roupas, sapatos, alimentos para pessoas de extrema pobreza. Além disso, dou 70 euros por mês a todas as pessoas de uma região muito pobre do Senegal que contribuem para a economia familiar. Não preciso de exibir carros de luxo, mansões luxuosas, viagens e muito menos aviões; prefiro que os meus recebam um pouco do que a vida me deu”.
Mas será que estas declarações são reais? Confirma-se que Sadio Mané envia todos os meses 70 euros para “todas as pessoas de uma região muito pobre do Senegal”?
As declarações são falsas tal como a história do envio de dinheiro. Porém, como em muitas fake news que se propagam, desenvolve-se a partir de uma base verdadeira.
De facto, Sadio Mané tem sido autor de iniciativas generosas como, por exemplo, o financiamento de uma escola e um hospital em Bambali, no Senegal. No final da época de 2018/19, em julho, o jogador viajou até à referida cidade e foi conferir o processo das construções que financiou. Segundo fontes não identificadas, o jogador terá também distribuído 70 libras – o que corresponde a 50.000 CFA Francos -, assim como alguns equipamentos de futebol às crianças da região.
É possível que a história que agora se tornou viral tenha tido origem aqui. Existem algumas semelhanças, tais como a construção das escolas e a distribuição das 70 libras (que na publicação das redes sociais surge em euros). Contudo, em nenhum momento o jogador afirmou que envia dinheiro mensalmente a pessoas pobres no Senegal ou que abdica de quaisquer luxos.
Esta história foi desmistificada pela Boatos.org, uma plataforma brasileira de fact-checking, em artigo publicado no dia 8 de outubro. No entanto, alguns dias depois o mesmo texto começou a ser citado na imprensa internacional como se fossem declarações reais do jogador, atingindo entretanto uma repercussão gigantesca, à escala global.
Em causa está a publicação numa página de origem africana que partilhou precisamente o texto que o Boatos.org já tinha desmentido. A partir daí, vários jornais, um pouco por todo o mundo (aqui, por exemplo), partilharam as declarações, citando essa página. A informação falsa chegou mesmo a ser difundida em media portugueses ( aqui, por exemplo).
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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