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| - Vídeos e fotografias de automóveis a arder, com relatos assustadores, assim são as publicações que se têm multiplicado nos últimos dias nas redes sociais e que garantem que o álcool-gel é uma bomba-relógio, quando deixado dentro de um automóvel: “Um aviso muito importante. Não deixem o álcool em gel dentro do carro ao Sol… O meu carro acabou de pegar fogo. Voltei do mercado e estacionei na rua. Não demorou 30 minutos… E o carro estava a pegar fogo. Por sorte o vizinho viu e conseguimos apagar com a mangueira. Graças a deus ninguém se aleijou”; “Álcool-gel dentro do carro! Não deixem! Isto aconteceu na minha cidade-natal”.
Os posts, alguns com mais de 20 mil partilhas, parecem fazer todo o sentido já que, se o álcool etílico é inflamável, o álcool-gel também será, uma vez que o primeiro é o principal constituinte do segundo. Tendo em conta que os dias de calor estão a chegar, que o desinfetante de mãos se tornou num bem essencial utilizado pela maioria das pessoas e que o carro é um lugar propício à sua utilização porque significa, muitas vezes, a saída para a rua e o manuseamento de superfícies que podem estar contaminadas, o risco de incêndio em milhares de automóveis aparenta, de facto, ser real.
Porém, é caso para dizer que as aparências iludem. É falsa a alegação de que o álcool-gel pegue fogo sozinho, caso seja deixado dentro de um veículo, exposto ao Sol.
Questionada pelo Polígrafo, Júlia Alves, coordenadora do Gabinete de Segurança, Saúde e Sustentabilidade da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, assegurou que as alegações nas redes sociais não têm qualquer correspondência com a realidade, uma vez que “o ponto de auto-ignição do etanol, o componente mais inflamável do álcool-gel, é de 455 ºC. Ou seja, seria preciso o líquido atingir esta temperatura para arder sem ser necessária qualquer fonte de ignição“.
Ora, considerando que a temperatura dentro do habitáculo de um automóvel, mesmo nos dias mais quentes de Verão, dificilmente ultrapassa os 65 ºC, é fácil perceber que jamais serão reunidas as condições para que a solução de desinfetante das mãos comece a arder de forma espontânea.
De qualquer modo, Júlia Alves, que tem mestrado em Engenharia Química, desaconselha que se deixe o desinfetante das mãos, ou outros produtos inflamáveis, dentro de viaturas, “isto porque pode evaporar, caso não estejam devidamente fechados, ou é fácil dentro do carro haver outras fontes de ignição. Portanto não é isento de riscos, mas não pega fogo sozinho”.
Em conclusão, é falso que o álcool-gel tenha a capacidade de pegar fogo espontaneamente se for deixado dentro de um carro, mesmo que exposto ao Sol em dias de muito calor. As fotografias que circulam nas redes sociais, alegando o o contrário, mostram realmente carros consumidos pelo fogo, mas a causa do incêndio foi outra que não a auto-ignição do álcool-gel.
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Avaliação do Polígrafo:
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