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| - “Os médicos recomendavam fumar”, destaca-se na publicação em causa, datada de 26 de fevereiro. Mostra uma imagem do que parece ser uma publicidade antiga, impressa em papel de revista, com a seguinte mensagem: “Dê umas férias à sua garganta… Fume um cigarro fresco” (tradução livre a partir do original em língua inglesa).
“Dos anos 1930 aos anos 1950, a frase mais poderosa da publicidade – ‘recomendação dos médicos‘ – foi combinada com o produto de consumo mais mortal do mundo. Os cigarros não eram vistos como perigosos na época, mas faziam os fumantes tossirem. Para acalmar os temores, as marcas de tabaco contrataram médicos para explicar que a culpa era da poeira ou dos germes, não dos cigarros em si”, alega-se no texto associado à imagem.
Esta publicação foi denunciada como sendo falsa ou enganadora. Confirma-se ou não que o consumo de tabaco foi publicitado como “recomendação dos médicos” nas décadas de 1930 a 1950?
De facto, na década de 1930, o recrutamento de médicos especialistas para a promoção de produtos de tabaco era bastante comum. A correlação entre o consumo de tabaco e o cancro do pulmão começava a ser comprovada por cada vez mais estudos científicos, pelo que a indústria tabaqueira recorreu à credibilidade dos médicos junto da população em geral para tentar dissipar a crescente preocupação em torno dos malefícios dos cigarros.
Segundo um artigo publicado no American Journal of Public Health (edição de fevereiro de 2006), a primeira empresa de tabaco a recrutar médicos de clínica geral para os seus anúncios publicitários foi a American Tobacco. Em 1930, essa empresa publicou um anúncio com a seguinte mensagem: “20.679 médicos dizem que os Luckies são menos irritantes” [para a garganta].
Para chegar a tal número, a agência de publicidade da empresa enviou maços de tabaco da marca Lucky Strike a médicos e cartas questionando sobre se achavam que esses cigarros eram menos irritantes para gargantas sensíveis, com a observação de que “muito boas pessoas” já tinham respondido de forma afirmativa. A empresa utilizou as respostas dos especialistas para validar a ideia de que a “tostagem” (processo de cura térmica da folha de tabaco, em oposição à simples secagem ao Sol) evitava a tosse e tornava os cigarros menos irritantes para a garganta.
Em 1937, a empresa Philip Morris, recém-chegada ao mercado, lançou uma campanha audaciosa centrada em supostas investigações conduzidas por médicos. Num anúncio publicado na revista norte-americana Saturday Evening Post lia-se o seguinte: “Homens e mulheres com irritações do nariz e da garganta devido ao tabaco foram aconselhados a mudar para os cigarros Philip Morris. Dia após dia, os médicos mantiveram registos de cada caso. Os resultados finais, publicados em jornais médicos certificados, provaram que, quando os fumadores mudaram para a Philip Morris, todos os casos de irritação desapareceram completamente ou melhoraram“.
De acordo com o mesmo artigo, estes “resultados” derivaram de uma “busca agressiva de médicos”, focando-se no conceito de que “a adição de uma substância química nos cigarros, o dietilenoglicol, tornava-os mais húmidos e menos irritantes” do que os das outras marcas.
Questionada pelo Polígrafo, fonte oficial da Philip Morris confirma que “a indústria tabaqueira fazia publicidade e chegou a utilizar depoimentos de médicos”. No entanto, sublinha que atualmente “não só o quadro regulamentar é muito diferente, como principalmente o conhecimento científico sobre produtos de tabaco e saúde pública aumentou exponencialmente“.
“A Philip Morris Internacional/PMI e a Tabaqueira, a sua subsidiária portuguesa, têm desenvolvido, de há anos a esta parte, produtos alternativos menos nocivos para os fumadores. Na visão empresarial que comunica de forma abrangente, a empresa chega a afirmar que a melhor alternativa para os fumadores é deixarem de fumar“, conclui.
Sim, é verdade que, ao longo das referidas décadas, muitos médicos foram recrutados por empresas de tabaco para a promoção dos seus produtos. Contudo, o Public Health Cigarette Smoking Act, aprovado no Congresso dos EUA em 1969, determinou a proibição da publicidade a produtos de tabaco na televisão e na rádio. A mesma lei obrigou a que todos os maços de tabaco tenham rótulos com advertência do perigo que estes representam para a saúde dos consumidores.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
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Verdadeiro: as principais alegações do conteúdo são factualmente precisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “verdadeiro” ou “maioritariamente verdadeiro” nos sites de verificadores de factos.
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