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  • O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu nesta sexta-feira (26) a primeira entrevista desde que foi preso. Aos Fatos checou suas declarações e já constatou que ele errou ao comentar a respeito de convite aos encontros do G8 e sobre a desigualdade social do Peru. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo e ao site El País, Lula criticou líderes da Operação Lava Jato e fez críticas ao atual governo. Abaixo, o que foi checado: 1. Lula disse que foi convidado para todas as reuniões do G8, que reúne alguns dos países mais ricos do mundo. Porém, em 2004, o próprio ex-presidente reclamou da ausência de convite para o evento daquele ano. 2. O petista erra ao dizer que, apesar de forte crescimento econômico, o Peru também experimentou aumento da desigualdade nos governos de Alejandro Toledo e Alan Garcia. Em ambos os casos, a alta do PIB veio acompanhada de redução da pobreza, segundo o Banco Mundial. 3. O ex-presidente exagerou o valor da multa da Petrobras aos cofres públicos que seria usado para fundação privada de combate à corrupção. 4. Lula também exagerou ao dizer que, nos governos petistas, 36 milhões de brasileiros saíram da miséria. Estudo do Ipea apontou que foram 8,4 milhões a menos em situação de extrema pobreza entre 2002 e 2012. Já outros 25,3 milhões de brasileiros saíram da condição de pobreza nesse período. 5. É impreciso dizer que a fome foi considerada erradicada no Brasil nos governos do PT. O indicador de desnutrição das Nações Unidas caiu gradualmente desde que o partido chegou o poder até atingir, no período 2008-2010, o nível "abaixo de 2,5%", menor patamar possível na pesquisa e em que também estão os países desenvolvidos. Mas o IBGE apontava, em 2013, que 3,2% da população ainda vivia em grave insegurança alimentar. 6. Lula acerta quando diz que as exportações brasileiras quase quadruplicaram na era petista no governo federal: eram US$ 60,2 bilhões em 2002, último ano de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e chegaram a US$ 255,9 bilhões, valor 4,2 vezes maior, em 2011, durante o governo Dilma Rousseff (PT). Veja, abaixo, em detalhes. Eu fui o único presidente a ser chamado para todas as reuniões do G8. A afirmação é FALSA, uma vez que o próprio ex-presidente reclamou, em 2004, de não ter sido convidado pelo governo dos Estados Unidos para a reunião do grupo em uma entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. Em 2010, fato semelhante também aconteceu, desta vez no Canadá. Durante o período que ocupou a Presidência da República, entre 2003 e 2010, Lula não participou de dois encontros do G8: em 2004 e em 2010. O G8 era o grupo de alguns dos países mais ricos do mundo, integrado por Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Canadá e Rússia. Os russos foram excluídos em 2014 e o grupo voltou a ser chamado de G7. Cabe ao chefe de Estado do país anfitrião decidir quais nações serão convidadas além das que integram o grupo. Em 2003, o Brasil foi um dos convidados da 29ª edição do encontro, realizado na França em junho daquele ano. No ano seguinte, o país não recebeu convite dos EUA, país anfitrião daquele ano. Em entrevista à Folha de S.Paulo, em 31 de agosto de 2004, Lula reclamou da falta de convite: "Este país já foi a oitava economia mundial. Quando éramos a oitava economia mundial, não tinha o grupo dos oito. Era só o G7. Quando nós caímos para décimo lugar, aí criaram o G8, porque já não era mais o Brasil. Possivelmente não coubesse um país latino-americano no grupo dos países mais ricos. Mas como nós somos brasileiros e não desistimos nunca, este país ainda vai voltar a ser a sétima, a sexta ou a oitava economia do mundo para ver se os mais ricos vão diminuir o grupo dos privilegiados", disse o presidente à Folha. O então presidente participou de todos os demais encontros do G8, exceto em 2010, quando a reunião ocorreu no Canadá e não teve participação brasileira. Criado em 1975 pelos seis países mais industrializados do mundo que pretendiam discutir problemas globais como a crise do petróleo do começo daquela década, o grupo virou G7 com a entrada do Canadá no ano seguinte. O grupo se tornaria oficialmente G8 em 1998, quando da entrada da Rússia. Em 2014, os integrantes decidiram retirar a Rússia do grupo após a decisão do presidente Putin de anexar a região ucraniana da Crimeia. Desde então o grupo voltou a ser chamado de G7. ... eles [Peru] crescem, mas não tem distribuição de renda. Então, o país cresce a 5% e a miséria cresce a 10%. Diferentemente do que afirmou Lula, a extrema pobreza caiu no Peru tanto no mandato de Alejandro Toledo (2001-2006) quanto no de Alan Garcia (2006-2011), ex-presidentes do país. Segundo dados do Banco Mundial, durante a gestão Toledo, a porcentagem da população que vivia com menos de US$1,90 por dia caiu de 17,2% em 2001 para 15,3% em 2006. Já no governo Garcia, o número foi de 15,3% para 5,2% em 2011. Ainda segundo o Banco Mundial, o PIB do país (em preços de 2010) foi de US$ 86,3 bilhões em 2001 a US$ 113,7 bilhões em 2006 (crescimento de 31% no período) e a US$ 156,9 bilhões (crescimento de 38% desde 2006). … [O procurador Delton] Dallagnol pegando R$ 2,5 bilhões da Petrobras para criar uma fundação para ele. A declaração foi considerada EXAGERADA porque, embora o procurador do Ministério Público Federal Deltan Dallagnol, que coordenar a força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba, tenha articulado a criação de uma fundação ligada à Operação Lava Jato, ela administraria apenas metade do valor citado pelo ex-presidente. A Petrobras assinou, em setembro de 2018, um acordo com o Departamento de Justiça dos EUA no qual se comprometeu a pagar uma multa de US$ 853 milhões (R$ 3,35 bilhões na cotação atual) como punição pelas irregularidades cometidas por executivos da empresa. Desse dinheiro, US$ 170,6 milhões (R$ 670,8 milhões ou 20% do total) ficam com autoridades americanas e US$ 682,6 (R$ 2,7 bilhões ou 80%) com as brasileiras. A empresa foi multada pela Justiça americana porque negocia ações na Bolsa de Valores de Nova York. Em janeiro, quando foi homologado pela Justiça brasileira, o acordo previa que todo o dinheiro fosse depositado em uma conta vinculada à 13ª Vara Federal de Curitiba. Mas metade do valor (R$ 1,3 bilhão) seria usado para eventuais acordos com acionistas brasileiros que foram lesados. A outra parte (R$ 1,3 bilhão) seria usada para a criação de uma fundação privada, administrada pelo MPF, que teria como objetivo o combate à corrupção. O texto foi assinado pelo coordenador da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, e por outros 11 procuradores. A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, considerou a iniciativa ilegal e entrou com uma ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) no Supremo Tribunal Federal para cancelá-la. No pedido, ela afirmou que o ato lesava "direitos fundamentais e estruturantes da República". Em 12 de março, a força-tarefa da Lava Jato anunciou que, "diante do debate social existente sobre o destino dos recursos", desistiu da criação da fundação. Dias depois, o ministro Alexandre de Moraes acatou o pedido de Dodge e suspendeu o acordo firmado pelo MPF com a Petrobras. Tiramos 36 milhões de pessoas da miséria [nos governos do PT]. Esse número tem sido repetido por membros do PT desde o governo Dilma Rousseff, mas está incorreto. Segundo um estudo do Ipea, baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE, o número de brasileiros vivendo em extrema pobreza (renda de até R$ 70 por mês) caiu de 14,9 milhões de pessoas em 2002 (8,8% da população) para 6,5 milhões em 2012 (3,5% da população), uma redução, em números absolutos, de 8,4 milhões de pessoas. Mesmo se for considerada a redução na pobreza (renda de até R$ 140 por mês), os números não chegam aos mencionados por Lula. Nesse caso, a redução é de 25,3 milhões, passando de 41 milhões, em 2002, para 15,7 milhões em 2012. Em 2014, a Folha de S. Paulo registrou que o governo Dilma chegou à conta dos 36 milhões calculando o número de beneficiários do Bolsa Família que estariam na miséria se não recebessem o benefício, e não fazendo uma comparação entre quantos estavam na extrema pobreza antes e depois do programa. Acabamos com a fome [nos governos do PT]. Durante o período em que o PT esteve no poder (2003-2015), a prevalência da fome no Brasil caiu para níveis de países desenvolvidos, mas não foi eliminada. Desta forma, é IMPRECISO dizer que os governos do partido acabaram com o problema. Segundo dados da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), 8,7% da população brasileira era subalimentada na média do triênio 2001-2003 (os estudos são feitos a cada três anos). O indicador caiu gradualmente até atingir, no período 2008-2010, o nível "abaixo de 2,5%", menor patamar possível na pesquisa e em que também estão os países desenvolvidos. O órgão define subalimentação como a condição "em que uma pessoa não consegue consumir comida suficiente para atingir requisitos dietéticos diários mínimos". Em 2010, em reconhecimento por seu trabalho nessa questão, Lula recebeu da FAO o prêmio de "Campeão Mundial da Luta contra a Fome". Em 2014, o órgão anunciou que o Brasil saiu do "Mapa da Fome". O índice de subalimentação no Brasil se manteve o mesmo até 2017, quando o último levantamento foi divulgado. Vale mencionar que, mesmo antes de Lula assumir o poder, esse indicador já estava em queda – foi de 11,9% no triênio 1999-2001 (primeiro dado disponibilizado pela FAO), para 8,7% em 2001-2003. Contudo, não é possível atestar que houve erradicação completa do problema. Segundo um estudo do IBGE, 3,2% dos brasileiros viviam problema grave de insegurança alimentar em 2013. Em 2004, esse número era de 6,9%. Quase quadruplicamos as nossas exportações [nos governos do PT]. Segundo dados do Ministério da Economia, as exportações brasileiras somaram US$ 60,2 bilhões em 2002, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Em três anos durante o governo Dilma Rousseff, esse número foi pelo menos quatro vezes maior: 2011 (US$ 255,9 bilhões), 2012 (R$ 242,2 bilhões) e 2013 (US$ 241,9 bilhões). O número caiu em 2014 (US$ 225 bilhões), 2015 (US$ 190,9 bilhões) e 2016 (US$ 185,2 bilhões), voltou a subir a partir de 2017 (US$ 217,7 bilhões) e, no ano passado, chegou a US$ 239,9 bilhões. As importações no período 2003-2014 também aumentaram significativamente, o que levou a uma queda no saldo comercial brasileiro. Em 2002, o Brasil teve um resultado positivo de US$ 13,1 bilhões; em 2014, um negativo de US$ 4,1 bilhões. Fontes: 1. The Guardian 3. G8 2010 5. Petrobras 6. Bloomberg 7. Bloomberg 8. MPF 9. MPF 10. MPF 12. Ipea 14. FAO 15. G1 *Este texto foi alterado às 10h23 de 30 de abril de 2019 para corrigir informações sobre a balança comercial brasileira. Os valores de exportações e importações inicialmente usados para comparar o último ano do governo FHC com os anos PT eram relativos apenas ao período de janeiro a março, não ao ano todo. Os números foram corrigidos, mas não alteraram o selo VERDADEIRO conferido à declaração. *Esta checagem foi alterada às 16h de 30 de abril de 2019 para incluir dados do IBGE sobre insegurança alimentar. Tais informações fizeram com Aos Fatos reavaliasse o selo de classificação da declaração de Lula de VERDADEIRO para IMPRECISO.
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