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| - São recorrentes nas redes sociais publicações que defendem o regresso de António de Oliveira Salazar para resgatar o país dos seus problemas financeiros. Um artigo de 2016, que voltou a ganhar vida recentemente, garante que Otelo Saraiva de Carvalho, um dos capitães de Abril que participou no golpe militar de 1974, acredita que nos dias de hoje “um homem honesto como Salazar” fazia muita falta.
No texto, publicado numa página com mais de 30 mil seguidores, é citada uma entrevista ao Jornal de Negócios onde Otelo Saraiva de Carvalho terá dito que “precisávamos de um homem com inteligência e a honestidade do ponto de vista do Salazar, mas que não tivesse a perspetiva que impôs, de um fascismo à italiana (…) Alguém que fosse um bom gestor de finanças, que tivesse a perspetiva de, no campo social, beneficiar o povo, mesmo e sobretudo em detrimento das grandes fortunas”.
A citação completa inclui uma parte que foi omitida do texto: “Falta-nos quem saiba orientar o povo com honestidade, generosidade, com espírito de missão. Salazar foi uma pena, porque era um crânio em economia e finanças, podia ter feito maravilhas pelo povo, mas era um tipo de miopia política. Precisávamos de um homem com a inteligência e a honestidade do ponto de vista do Salazar, mas que não tivesse a perspetiva que impôs, de um fascismo à italiana. Isso é que não”.
A entrevista original não está disponível no site do Jornal de Negócios por se tratar de uma publicação bastante antiga. No entanto, o Polígrafo encontrou um anúncio na página do jornal, datado de 21 de abril de 2011, que incluía uma parte da citação e que surgia no seguimento do lançamento do livro do capitão de Abril, intitulado “O Dia Inicial”. Também noutros jornais portugueses foi feita a publicação das frases de Otelo, citando o Jornal de Negócios.
Segundo a versão do Público, a citação completa inclui uma parte que foi omitida do texto: “Falta-nos quem saiba orientar o povo com honestidade, generosidade, com espírito de missão. Salazar foi uma pena, porque era um crânio em economia e finanças, podia ter feito maravilhas pelo povo, mas era um tipo de miopia política. Precisávamos de um homem com a inteligência e a honestidade do ponto de vista do Salazar, mas que não tivesse a perspetiva que impôs, de um fascismo à italiana. Isso é que não”.
Otelo Saraiva de Carvalho contou ao Polígrafo que não se recorda exatamente das palavras que utilizou na entrevista, mas reforça que, na altura, referiu que “considerando as qualidades de inteligência, capacidade de gestão por parte de Salazar, era bom que tivéssemos um Salazar de esquerda, com preocupações sociais profundas que procurassem elevar o nível cultural, económico e social de toda a população portuguesa, sobretudo a mais carente, coisa que Salazar, de facto, não fazia”. Durante a época do Estado Novo, grande percentagem da população não tinha acesso à escola e era analfabeta.
“A minha maior ambição desde jovem era um dia participar no derrube do ‘botas’ [alcunha dada ao ditador entre os movimentos de oposição] e, infelizmente, ele já tinha morrido quando eu tive a possibilidade de integrar esse grande movimento dos capitães, dos oficiais das forças armadas e do MFA no sentido de derrubar o ditador Marcello Caetano”, conta Otelo Saraiva de Carvalho reforçando que queria “quebrar o mito da invencibilidade de Salazar”.
Ou seja, apesar de não concordar com a ideologia defendida pelo antigo ditador, o capitão de Abril não nega as qualidades que o governante tinha: “Tenho de reconhecer nos meus inimigos as qualidades que eles possuem”, reforçou acrescentando que “um rapaz que na altura foi catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra aos 29 anos, vindo de origens humildes, era de facto um homem com grandes capacidades de inteligência e de domínio das matérias. O que o levou até à presidência do conselho de ministros e a implementar no país um regime que durou 36 anos”.
Concluindo, a entrevista dada pelo capitão de Abril é real e Otelo Saraiva de Carvalho reconhece as capacidades do António de Oliveira Salazar, mesmo discordando completamente com as ideias por si defendidas.
“A minha maior ambição desde jovem era um dia participar no derrube do ‘botas’ [alcunha dada ao ditador entre os movimentos de oposição] e, infelizmente, ele já tinha morrido quando eu tive a possibilidade de integrar esse grande movimento dos capitães, dos oficiais das forças armadas e do MFA no sentido de derrubar o ditador Marcello Caetano”, conta Otelo, reforçando que queria “quebrar o mito da invencibilidade de Salazar”.
Concluindo, a entrevista dada pelo capitão de Abril é real e Otelo Saraiva de Carvalho reconhece as capacidades do António de Oliveira Salazar, mesmo discordando completamente com as ideias por si defendidas. O ideal, segundo Otelo Saraiva de Carvalho, seria “transpor as qualidades que era possível encontrar em Salazar para as preocupações de quem governasse em prol e em favor da população portuguesa”.
Avaliação do Polígrafo:
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