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  • O que estão compartilhando: um vídeo em que um cardiologista desestimula mulheres a fazerem mamografias anuais. Ele alega que a exposição recorrente ao exame pode desenvolver câncer de mama, em vez de preveni-lo; e que, por isso, deve ser feito somente de três em três anos. O médico acrescenta que a maioria das pacientes detecta o câncer apalpando os seios. O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. A Organização Mundial de Saúde (OMS), o Ministério da Saúde e as principais sociedades médicas do Brasil refutam que a mamografia possa causar qualquer tipo de câncer. A realização anual do exame é a forma mais recomendada por entidades nacionais e internacionais para prevenir e diagnosticar a doença precocemente, reduzindo o risco de mortalidade. Saiba mais: o vídeo investigado é um recorte de uma entrevista feita com o médico Lair Ribeiro pelo canal do YouTube “Maluco Beleza”, apresentado pelo português Rui Unas. O conteúdo voltou a viralizar após quatro anos e conta com mais de 90 mil compartilhamentos no Instagram. As visualizações do vídeo original, publicado em 26 de março de 2019, passam de 1,4 milhão. A radiologista Beatriz Maranhão, da Comissão Nacional de Mamografia (CNM), afirmou que a fala de Lair “vai de encontro ao que dizem todas as autoridades médicas”. “Exames de imagem têm radiação com baixas doses e um papel fundamental para a detecção precoce. Quando realizado de forma periódica, uma vez ao ano, não aumenta as chances de um carcinoma radioinduzido — (tipo de câncer) que está associado a exames de altas doses”, disse. Uma pesquisa publicada em 2012 na revista científica British Medical Journal afirmava que a mamografia aumentava os riscos do câncer de mama para mulheres de até 30 anos com mutação nos genes BRCA1 e BRCA2. Mas a oncologista Daniele Assad, do Comitê de Tumores Mamários da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), explicou que essa hipótese caiu por terra. “Por muito tempo acreditava-se que houvesse um risco maior [nesses casos], mas a relação nunca foi confirmada”, afirmou. A especialista também discordou que a melhor forma de prevenção seja pelo autoexame de toque. “A mamografia descobre a doença quando ainda não é palpável. Quando se nota o nódulo apalpando, ele já está grande, o que leva a um tratamento mais invasivo”, disse. Já o mastologista Darley de Lima, da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), refuta que o exame deva ser feito de 3 em 3 anos, como recomendou o vídeo. “O câncer de mama cresce mais ou menos 1 centímetro ao ano. Se inicialmente uma paciente tem um tumor de 0,5 centímetros, o tumor já vai estar com 3,5 centímetros após 3 anos, aumentando o estágio clínico. Quanto mais cedo identificar, melhor”, defendeu. Além dessa, o Verifica já checou outras falas do cardiologista. Defensor de terapias alternativas, o médico recomendou o uso de óleo de magnésio para controlar a febre em crianças e afirmou que a retirada da vesícula biliar poderia aumentar o risco de enfarte no miocárdio. Ambas as afirmações não possuem comprovação científica. Câncer de mama no Brasil O câncer de mama é a neoplastia que mais atinge as mulheres no Brasil, segundo o Inca, e a principal causa de morte por câncer do País — com exceção do Norte, região liderada pelo câncer de colo de útero. Em 2020, a taxa de mortalidade pela doença foi de 11,84 por 100 mil mulheres. Estudos apontam que realizar a mamografia anualmente pode reduzir esse índice em até 40%. “Se diagnosticarmos os tumores só quando forem palpáveis, vamos perder muitos cânceres em in situ, que ainda não chegaram à invasão, e tumores pequenos”, disse Beatriz Maranhão. Sociedades médicas brasileiras recomendam que o exame comece a ser feito a partir dos 40 anos de idade, enquanto o Ministério da Saúde o realiza a partir dos 50 anos. “Mulheres com síndromes genéticas ou histórico familiar de câncer devem começar as avaliações antes, a partir dos 30 anos ou 10 anos antes do primeiro caso família”, indica Assad. “Em resumo, a maior discussão sobre o rastreio mamográfico gira em torno de quando começar, quando terminar e a associação desse rastreio com o risco individual para desenvolver câncer de mama de cada mulher e nunca com a não realização desse exame”, lembrou o mastologista Marcelo Bello, diretor do Hospital do Câncer II, do Inca. O exame comprime a mama de forma lenta e gradativa, dentro do limite aceitável, visando espalhar o tecido mamário e identificar lesões. “Quanto menor a espessura da mama, mais fica comprimida no mamógrafo, e menor é a radiação emitida na área estudada”, contou Maranhão. Dados do Ministério da Saúde mostram que o índice de mamografias de rastreamento está em crescimento, mas ainda não atingiu a taxa ideal. Em 2012, somente 52,8% dos exames foram realizados em mulheres entre 50 e 69 anos, percentual que cresceu para 65,3% em 2021. “A cobertura ainda é ineficaz, precisamos de mais políticas públicas para educação da população”, reiterou Assad. Lair Ribeiro foi procurado por e-mail mas não respondeu. Como lidar com publicações do tipo: desconfie de recomendações médicas feitas pela internet que vão de encontro ao que dizem as maiores autoridades em saúde do mundo e do Brasil. Procure seguir as orientações da OMS e do Ministério da Saúde e, quando necessário, procure um especialista.
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