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| - “Cavaco Silva foi Primeiro-Ministro (PM) poucos meses antes de Portugal aderir efectivamente à CEE. O manancial de fundos europeus dessa envergadura nunca mais acontecerá. A destruição dos sectores primários portugueses e a chegada do neoliberalismo surtem efeitos até hoje”. Este tweet, divulgado a 22 de maio, segue as declarações escritas do também antigo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, sobre a gestão monetária do Governo socialista, a 9 de maio.
A este propósito, o economista e deputado do Iniciativa Liberal (IL), Carlos Guimarães Pinto, partilhou no Twitter um gráfico, feito por si, tendo por base dados da Pordata sobre transferências públicas da União Europeia: “Independentemente da opinião que se tenha sobre ele, há uma falácia que aparece sempre que se fala do tempo de governação de Cavaco Silva: a de que recebeu muitos mais fundos europeus do que os seus sucessores. Não é isso que dizem os dados da Pordata.”
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Não é mesmo isso que eles dizem: o Polígrafo teve acesso aos cálculos de Guimarães Pinto, validou-os e confirmou a sua precisão. Apesar disso, as dúvidas permanecem: é possível medir um indicador com contas aparentemente tão simplistas?
Guimarães Pinto somou os valores do período de governação de cada PM português, desde Cavaco Silva até António Costa, e dividiu pelos anos no ativo. Depois, fez a conversão para preços constantes (2022): estava calculada a média estatística, que na opinião os economistas contactados pelo Polígrafo não é a melhor escolha, embora não possa ser considerada errada.
Se ajustado pelos preços de 2022, foi entre 2002 e 2004, com Durão Barroso e depois Santana Lopes no Governo, pelo PSD, que Portugal mais recebeu dinheiro europeu: seriam agora mais de 4 mil milhões de euros por ano, um valor que, no total (12 mil milhões de euros), se mostra bastante inferior àquele que recebeu Cavaco Silva em 10 anos, por exemplo (quase 23 mil milhões de euros em preços de 2022).
Já António Costa, entre 2016 e 2022, recebeu sensivelmente 2,5 mil milhões de euros por ano, quase 18 mil milhões de euros em sete anos de governação, ficando assim em último lugar na tabela dos PM que mais engordaram Portugal com dinheiro europeu. Costa é seguido de perto por Cavaco Silva, cuja média de fundos é de 2,54 mil milhões de euros por ano (a preços de 2022).
Susana Peralta e Samuel Almeida, economistas, validam os cálculos de Guimarães Pinto, mas apontam-lhes algumas falhas. Desde logo, Samuel Almeida considera que para a análise ser completa seria necessário olhar para o volume total dos fundos recebidos, já que “as médias estatísticas podem ser enganadoras”. Susana Peralta sugere outros métodos, alegando que esta não é a perspetiva de análise “mais interessante”: para o ser, o melhor seria calcular o montante total em % do PIB ou da despesa total.
Já a atualização a preços constantes é bem feita e necessária, assegura Samuel Almeida: “A atualização de preços faz sentido para ter os valores harmonizados.”
O Polígrafo questionou o deputado sobre a escolha da forma de cálculo. Carlos Guimarães Pinto retornou com novo gráfico: o saldo dos fundos europeus recebidos, média por ano, em % do PIB: embora Cavaco Silva se aproxime, desta vez, dos Governos com gastos mais elevados, continua a não ser o mais beneficiado.
Estes cálculos, porém, não invalidam os inicialmente divulgados pelo deputado liberal: são apenas duas formas diferentes de olhar para um indicador. Em suma, a média de transferências da União Europeia para Portugal durante a governação de Cavaco Silva é uma das menores quando comparada com os mandatos que o seguiram.
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Avaliação do Polígrafo:
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