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  • Aristides de Sousa Mendes, cônsul de Bordéus entre 1938 e 1940, destacou-se na História de Portugal e do mundo por, no ano da França pelos nazistas alemães, ter passado vistos a quem quisesse atravessar Espanha e entrar em Portugal. Através dessa iniciativa, Sousa Mendes terá salvo muitos judeus e outros perseguidos pelo regime de Adolf Hitler. Estes factos históricos são contestados num texto publicado num blog, datado de 2018, que está a circular nas redes sociais, partilhado por centenas de pessoas. O respetivo autor nega qualquer gesto heróico de Sousa Mendes. No texto em causa, intitulado como “Aristides de Sousa Mendes, a verdade da mentira”, lamenta-se “o aproveitamento político de uma mentira, de um embuste para denegrir a imagem de Salazar e do Estado Novo, elevando um homem comum sem virtudes aparentes ao estatuto de herói quando na realidade nunca o foi”. Mais, “não foi um bom diplomata, não foi um bom português, não foi um exemplo de seriedade”. O primeiro ponto de discórdia relativamente aos factos inscritos nos livros de História consiste no número de vistos que o cônsul carimbou naqueles dias. O autor da publicação ridiculariza os alegados 30 mil vistos emitidos, dos quais 10 mil seriam a judeus. Depois faz um cálculo de forma a comprovar essa afirmação: “Três dias perfazem 72 horas. Mesmo que só tirassem 10 horas para dormir, comer, toilette, etc., ficam 42 horas livres, ou seja 2.520 minutos. Um visto, pago e registado, não se processa em menos de cinco minutos. Mas, admitamos que o zelo e a destreza eram tais que tudo se faria em quatro minutos. Ora, 2.520 minutos a dividir por quatro [Aristides de Sousa Mendes, um dos filhos, o genro e o secretário José Seabra], dá 630 vistos”. Os números estão longe de ser concretos, ressalva Irene Flunser Pimentel, historiadora com um vasto número de publicações sobre o Estado Novo, em declarações ao Polígrafo. O autor do texto “Aristides de Sousa Mendes, a verdade da mentira” volta a desmentir o legado histórico de Sousa Mendes ao dizer que “Aristides nem sequer salvou ninguém da morte, tal como Portugal em França, porque naquela altura ninguém ali estava em perigo de vida”, alegando que o cônsul “apenas deu uma série de vistos irregularmente”. Pimentel remete para uma contabilização feita por Avraham Milgram, historiador do Museu do Holocausto – Yad Vashem, em Jerusalém, indicando que Sousa Mendes “terá concedido 2.862 vistos, entre 1 de Janeiro e 22 de Junho de 1940, dos quais 1.575, no período entre 11 e 22 de Junho”, mas explica que estes são apenas “os vistos que foram documentados”, uma vez que “não existem registos dos concedidos sob a autoridade de Aristides de Sousa Mendes no consulado de Bordéus, no vice-consulado de Baiona e Hendaia [cidades no sul de França], tanto na rua como na fronteira”, onde o cônsul terá posto “o visto em vários documentos e, no final, até em meras folhas de papel, o que não possibilita a sua quantificação”. No texto do blog denuncia-se também que o número de 2.862 vistos que Sousa Mendes terá emitido, “trata-se de um número psicologicamente fabricado para dar a impressão de que é exato e comprovado”. Este número é, exatamente, o número de vistos passados que Avraham Milgram contabilizou e que foi citado pela historiadora portuguesa. O autor do texto “Aristides de Sousa Mendes, a verdade da mentira” volta a desmentir o legado histórico de Sousa Mendes ao dizer que “Aristides nem sequer salvou ninguém da morte, tal como Portugal em França, porque naquela altura ninguém ali estava em perigo de vida”, alegando que o cônsul “apenas deu uma série de vistos irregularmente”. Pimentel refuta esta ideia, porque mesmo que o Holocausto só tenha sido iniciado em 1941, “se muitos judeus, anti-nazis, polacos ou outros perseguidos pelo nazismo não tivessem recebido os vistos de Aristides de Sousa Mendes, em junho de 1940, teriam ficado em territórios ocupados pelos nazis e viriam a ser alvos do Holocausto, quando este começou”. A historiadora salienta ainda que “um visto nesses tempos sombrios representava a vida, em vez da morte anunciada”. A historiadora Irene Pimentel sublinha que “só no dia 24 de junho, em que a fronteira portuguesa foi encerrada […] Espanha deixou de reconhecer os vistos portugueses”. Nessa altura estavam em França “cerca de 4 mil pessoas munidas de vistos portugueses atribuídos por Sousa Mendes” e “entre esse dia 24 de junho e 8 de julho, quando regressou a Portugal, Aristides de Sousa Mendes foi visto a assinar vistos na estação ferroviária de Hendaia e na fronteira”. Na publicação sob análise aponta-se também para a validade dos vistos atribuídos. “Os vistos que Sousa Mendes deu com carácter revolucionário, como já referimos, não salvaram ninguém, porque não foram aceites pelas autoridades espanholas da fronteira, sendo juridicamente nulos, e até assim classificados por Portugal, e, consequentemente, de nenhum valor”, alega-se. Questionada sobre essa alegação, Pimentel sublinha que “só no dia 24 de junho, em que a fronteira portuguesa foi encerrada […] Espanha deixou de reconhecer os vistos portugueses”. Nessa altura estavam em França “cerca de 4 mil pessoas munidas de vistos portugueses atribuídos por Sousa Mendes” e “entre esse dia 24 de junho e 8 de julho, quando regressou a Portugal, Aristides de Sousa Mendes foi visto a assinar vistos na estação ferroviária de Hendaia e na fronteira”, acrescenta. No texto do blog garante-se aliás que as pessoas com vistos irregulares “ficaram retidas na fronteira, tal como muitos outros, só vindo para Portugal, clandestinamente, através da operação de Leite Pinto”. Ora, Francisco Leite Pinto, que viria a ser ministro da Educação Nacional entre 1955 e 1961, era na altura administrador da Companhia de Caminhos de Ferro da Beira Alta e, segundo José Hermano Saraiva, também ministro da Educação durante o Estado Novo (1968-1970), terá organizado uma “operação de salvamento dos refugiados republicanos espanhóis e dos judeus que, no início da Segunda Guerra Mundial, se acumulavam na fronteira de Irun [cidade espanhola na fronteira com França], na ânsia de salvar as vidas. Vieram embarcados nos vagões da Companhia dos Caminhos de Ferro da Beira Alta, que iam até Irun carregados de Volfrâmio, e voltavam a Vilar Formoso carregados de fugitivos”. Pimentel desmente essa história, assegurando que “nada disso está comprovado, não havendo traços de que os comboios que transportavam volfrâmio para a Alemanha nazi, traziam no regresso para Portugal refugiados judeus”. O autor do texto coloca depois em causa a sanidade mental de Sousa Mendes, afirmando que deu os vistos “tresloucadamente, levado também pela ira”. Por seu lado, Pimentel limita-se a explicar que essa foi a informação que Armando Lopo Simeão, enviado do Ministério dos Negócios Estrangeiros a Bordéus para verificar o que estava a acontecer, deu ao Governo liderado por António de Oliveira Salazar. A maior parte das alegações veiculadas no texto são falsas, prontamente desmentidas pela historiadora Irene Flunser Pimentel que, pelo contrário, enaltece as ações e qualidades humanas de Aristides de Sousa Mendes. Na verdade, o antigo cônsul de Bordéus salvou milhares de vidas da II Guerra Mundial e do Holocausto, ao conceder vistos de entrada em Portugal sem olhar a etnias ou religiões. Posteriormente, o autor do texto aborda o que terá acontecido a Sousa Mendes depois de ter saído do consulado de Bordéus, alegando que nunca foi demitido nem alvo de um processo disciplinar. “Salazar ignorou completamente a proposta conclusiva do procedimento disciplinar, porque, a meu ver, compreendeu que Aristides tinha grandes atenuantes. Por isso, em vez de lhe dar qualquer pena disciplinar, e muito menos as propostas, foi para uma solução diferente, que consistia numa faculdade do Ministro (vigente em França, Espanha, Itália e em muitos outros países, para eventual aplicação aos diplomatas ou cônsules que se julgava não estarem em condições de desempenhar convenientemente as suas funções), a disponibilidade fora do serviço por determinado período, podendo, quando o Ministro assim o entendesse, ser o diplomata ou cônsul chamado novamente ao serviço ativo”, lê-se no texto, realçando-se que Salazar terá colocado “Aristides fora do serviço por um ano, e aguardando aposentação”, mas como o cônsul não estava próximo dos 70 anos de idades (tinha 54 em junho de 1940), não podia “ser aposentado com todo o vencimento”. Para Sousa Mendes, esta foi “uma medida mais severa” de Salazar, segundo o entendimento de Pimentel, até porque o chefe de Governo “decidiu de imediato demitir o ex-cônsul em Bordéus, após um ano de inatividade, com metade do vencimento da categoria, embora os instrutores do seu processo tivessem proposto uma pena menor”. Aristides de Sousa Mendes acabaria por falecer em Lisboa, no dia 3 de abril de 1954, com 68 anos. Em suma, a maior parte das alegações veiculadas no texto são falsas, prontamente desmentidas pela historiadora Irene Flunser Pimentel que, pelo contrário, enaltece as ações e qualidades humanas de Aristides de Sousa Mendes. Na verdade, o antigo cônsul de Bordéus salvou milhares de vidas da II Guerra Mundial e do Holocausto, ao conceder vistos de entrada em Portugal sem olhar a etnias ou religiões. _______________________________ Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social. Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é: Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos. Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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