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| - “Comprei um carro elétrico há uns tempos. Estou super contente, mas tem de ser carregado em casa. Caso contrário, o Estado e lobbies dos amigos (EDP, Galp, Efacec) já tomaram conta do negócio dos carregamentos. Reparem como para carregar 10,04 euros de energia, paguei 33,57 euros no total“, denuncia-se num tweet de 21 de fevereiro, indicado ao Polígrafo com pedido de verificação de factos.
Apresenta mesmo uma imagem com dados sobre os custos associados ao carregamento em causa. Em vez dos 33,57 euros referidos, na realidade são 32,54 euros que se dividem em 10,04 euros de energia, 14,44 euros pelo posto de carregamento e ainda 8,07 euros em taxas.
A imagem dá-nos ainda outras pistas, nomeadamente: o posto pertence à empresa portuguesa Miio, a duração do carregamento foi de duas horas e oito minutos (com um custo de 0,88 euros por cada kWh) e foram carregados 37,2 kWh no total. Foi ainda aplicado o tarifário bi-horário.
A tarifa a aplicar é bi-horária, ou seja, o carregamento é mais barato nas horas de vazio (entre as 22h e as 8h) e ao domingo. No entanto, o carregamento foi feito entre as 12h e as 14h, logo num horário em que o consumidor não usufrui de um carregamento mais barato. Acresce o custo de utilização do Operador de Posto de Carregamento (OPC) que também é variável.
Em esclarecimento ao Polígrafo, a Miio explica que aquele valor final se deveu ao uso indevido do carregador. “A sessão de carregamento que deram como exemplo foi realizada numa tomada AC (Type2, que debita energia a uma baixa velocidade), num posto de carregamento super rápido, durante o período de 2 horas. Pagou um total de 33,57€. Um uso adequado de um Posto de Carregamento Super Rápido teria sido usar uma tomada DC (CCS ou Chademo). Teria pagado, nesse mesmo dia e nesse mesmo posto 12,5€ para carregar a mesma quantidade de energia”, explica a marca.
Acresce que “em caso de incompatibilidade com uma destas tomadas, um posto de carregamento rápido deve ser usado apenas quando não existe qualquer alternativa, sendo que no caso da sessão dada como exemplo, tinha um PCN (Posto de Carregamento Normal)”.
Daniela Simões, co-fundadora e presidente executiva da Miio, frisa que aquele não foi um “uso normal” do posto de carregamento. “À data que aquela sessão de carregamento foi feita, se tivesse sido usada a tomada correta tinha sido 12,50 euros. Só que naquela altura, a energia estava muito cara, ainda não existia o mecanismo de texto máximo do gás nem nada disso. Fizemos a simulação e hoje [31 de março] dava apenas 5,81 euros“, esclarece Simões.
“Foi um mau uso associado a uma época que a energia estava muito cara e tudo junto deu aquele preço”, aponta a presidente executiva da Miio.
A empresa sublinha ainda “ao usar a aplicação Miio, o condutor teve acesso antecipado ao custo final antes de proceder ao carregamento, logo ao perceber que iria pagar aquele valor, poderia não ter efetuado o carregamento e ter selecionado outro posto ou outra tomada que efetivamente se traduzisse numa utilização mais correta e, logo, mais eficiente em termos de custo final”.
Ora, em janeiro de 2022 a DECO Proteste já tinha alertado que ter um carro elétrico só compensa se carregar em casa e justificou essa conclusão.
De acordo com a organização de defesa do consumidor, “no contexto atual, o carregamento em casa é a solução mais prática e eficiente para os utilizadores de automóveis elétricos” devido às novas tarifas da Entidade Gestora da Mobilidade Elétrica (EGME), a Mobi.E, divulgadas pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) no final de 2021 e cuja aplicabilidade começou em 2022.
“Foi decidido subir a taxa aplicada aos Comercializadores de Eletricidade para a Mobilidade Elétrica (CEME) e aos operadores de pontos de carregamento (OPC) em 79%: a tarifa passou de 0,1657 para 0,2964 cêntimos por carregamento”, explica a DECO Proteste.
E como é que funciona o abastecimento de uma bateria na rede pública? Os postos de carregamento da rede pública são geridos pela Mobi.E e para conseguir carregar o seu carro nestas estações precisa de ter um cartão adquirido junto de um dos CEME.
Este cartão, independentemente do comercializador que escolher, “dá acesso a 1.559 postos com 3.390 pontos de carregamento que compõem a rede pública, sendo os montantes debitados na conta associada no contrato”.
Cada comercializador pratica o seu tarifário, que varia em função do tipo de carregamento (de 3,6 kW a 150 kW). Também o tipo de plano escolhido acaba por influenciar a conta final a pagar.
Quanto ao carregamento de um carro elétrico na rede pública, seja qual for o posto ou a comercializadora, o Polígrafo contactou Alexandre Marvão, especialista em mobilidade da Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (DECO), o qual reconheceu que o carregamento de um carro elétrico na rede pública é sempre mais caro do que em casa, uma vez que em casa só se paga a eletricidade e o posto de carregamento quando se adquire o mesmo. Além disso, em alguns casos não é necessário o posto de carregamento, pelo que nem sequer este custo entra na equação.
“Um carregamento de carro na rede pública tem duas grandes componentes: uma é o CEME que é o fornecedor de eletricidade, a quem pagamos a eletricidade que carregamos, outra é o pagamento do OPC que é o carregador em si”, realça Marvão.
Os custos variam consoante o OPC, que pode ser de vários proprietários. O operador do posto de carregamento estabelece o preço a pagar dependendo da velocidade de carregamento (quanto mais rápido, mais caro), da zona do posto, ou até pela marca. Mais: caso o preço seja aplicado por cada minuto de carregamento, quanto mais tempo ficar conectado, mais o consumidor pagará.
O tweet apresenta também uma informação falsa ao nomear a Efacec que não possui este tipo de serviço. Na realidade, a empresa Efacec é apenas responsável pelo fornecimento de postos de carregamento.
Na página da Mobi.E informa-se detalhadamente sobre quais os custos de carregar na rede pública: “O valor a pagar por um carregamento na rede Mobi.E é aquele que contratualizar com o seu CEME, mas, regra geral, é uma combinação de quatro parcelas, nos termos do Regulamento de Mobilidade Elétrica (RME).”
Estas quatro parcelas são o tarifário CEME, o tarifário OPC, a parcela de taxas e impostos (definidos pelo Estado português, incluindo o imposto especial sobre o consumo de energia elétrica e o imposto sobre o valor acrescentado) e ainda outros serviços que possam ser prestados.
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Avaliação do Polígrafo:
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