About: http://data.cimple.eu/claim-review/924b9da47d32dc7233f04c64958989d90dcaab76833765a5e1ca2e5f     Goto   Sponge   NotDistinct   Permalink

An Entity of Type : schema:ClaimReview, within Data Space : data.cimple.eu associated with source document(s)

AttributesValues
rdf:type
http://data.cimple...lizedReviewRating
schema:url
schema:text
  • Várias publicações no Facebook afirmam que o governo britânico admitiu que as vacinas contra a Covid-19 “danificam o sistema imunológico natural dos vacinados” e que uma pessoa totalmente vacinada com as duas doses “nunca mais poderá adquirir imunidade natural total contra as variantes do Covid, ou possivelmente contra qualquer outro vírus”. O texto baseia as suas afirmações num relatório redigido pelo governo do Reino Unido sobre a vigilância das vacinas contra a Covid-19, que pode ser consultado aqui. Mas não é verdade que o governo britânico tenha afirmado que as vacinas contra a Covid-19 prejudicam o sistema imunitário, nem que a vacinação contra esta doença não permita adquirir imunidade natural contra o coronavírus ou outros agentes patogénicos. Pelo contrário, todo o conteúdo do relatório assevera os benefícios diretos e indiretos da vacinação contra a Covid-19, a segurança do procedimento para a saúde individual e a vantagem para a saúde pública. Ter menos anticorpos contra a proteína N não significa pior imunidade ao vírus Vamos por partes. Na página 23 do relatório, as autoridades de saúde britânicas apontam que, segundo as observações mais recentes da Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido (o documento foi publicado na semana entre 17 e 23 de novembro), “os níveis de anticorpos N parecem ser mais baixos em indivíduos que adquirem infeção após duas doses de vacinação”. A publicação, falaciosa, conclui que isso significa que “a vacina interfere na capacidade inata do corpo, depois de infetado, de produzir anticorpos, não apenas contra a proteína Spike, mas também contra outras componentes do vírus”. Neste caso, na lógica dos autores da mensagem, “as pessoas vacinadas parecem não produzir anticorpos para a proteína do Nucleocapsídeo, a ‘casca’ do vírus, que é uma parte crucial da resposta em pessoas não vacinadas”. Mas essa interpretação tem falhas, tal como explicam o bioquímico Miguel Castanho e o imunologista Luís Graça, ambos do Instituto de Medicina Molecular, ao Observador. E para compreender porquê é preciso saber mais sobre como funciona o processo de infeção pelo SARS-CoV-2 numa pessoa que nunca recebeu a vacina contra a Covid-19 e noutra que foi previamente infetada. Vamos ao primeiro caso — uma pessoa que nunca foi vacinada e que entra em contacto com o vírus em quantidade suficiente para este se instalar e multiplicar. Quando o sistema imunitário reconhece o SARS-CoV-2 como um corpo estranho, o primeiro contacto será com as estruturas mais superficiais do vírus (nomeadamente a proteína S), por isso é contra elas que produz os primeiros anticorpos. À medida que a infeção prossegue e o vírus entra nas células, ele desagrega-se e aproveita a maquinaria celular para replicar cada um dos seus componentes, que depois se voltam a conjugar para formar novas partículas virais. Nesse processo de desagregação e nova agregação, os vários componentes virais ficam expostos na célula e o sistema imunitário tem oportunidade para produzir novos anticorpos contra eles. Um desses componentes é a proteína N. O processo é semelhante no segundo caso — o de alguém que já foi vacinado antes de estar infetado —, mas com um benefício adicional. Como as vacinas contra a Covid-19 se baseiam precisamente na informação genética da proteína S do vírus, uma das primeiras estruturas a ser reconhecida pelo sistema imunitário, a resposta imunológica será mais célere e os anticorpos são recrutados mais rapidamente. A infeção até pode continuar no organismo, com a entrada dos vírus na célula, a sua desagregação e a exposição das várias estruturas, incluindo a proteína N, no interior. Contra essa, o corpo humano ainda não terá uma resposta imunitária preparada porque as vacinas não incluem o material genética da proteína N, mas a progressão da replicação viral será muito mais lenta porque é combatida mais precocemente. Tão mais lenta que o vírus, não tendo tanta oportunidade para se multiplicar, também não fica tão exposto ao sistema imunitário, que assim não precisa de criar tantos anticorpos contra a tal proteína N. Ou seja, uma pessoa vacinada “tem menos anticorpos contra a proteína N porque o combate começou mais cedo e a doença progrediu menos”, conclui Miguel Castanho: “O ponto em que a proteína N se apresenta ao sistema imunitário é um ponto de maior fraqueza para o vírus porque o organismo já tem uma resposta mais avançada. O SARS-CoV-2 não se multiplicou tanto”. Luís Graça também assevera que “a resposta imunitária normal não é afetada pela vacinação”: “A quantidade de anticorpos contra a proteína N após a infeção pode ser menor pelo facto de a resposta induzida pela vacina conduzir à mais rápida eliminação do vírus que o que acontece em pessoas não vacinadas”. Em suma, a qualidade da resposta imunitária não é comprometida só por alguém vacinado não ter tantos anticorpos contra a proteína N, em comparação com uma pessoa não vacinada — antes pelo contrário. Ser vacinado ou esperar uma infeção? Não é preciso escolher A publicação continua, afirmando que as pessoas vacinadas serão “muito mais vulneráveis” a mutações futuras na proteína S, mesmo que já tenham sido infetadas ou recuperadas “uma ou mais vezes”. Não é o caso dos não vacinados, proclama a publicação, porque “irão adquirir imunidade duradoura, senão permanente, a todas as variantes do suposto vírus, após serem infetadas naturalmente, mesmo que apenas uma vez”. Só que estas declarações são enganadoras. A vantagem da recuperação de uma infeção ao coronavírus é que, ao invés de o organismo adquirir anticorpos exclusivamente contra a proteína S, o sistema imunitário produzirá anticorpos contra outras regiões do SARS-CoV-2. Assim, num eventual segundo contacto com o vírus, o corpo serve-se de um arsenal maior de anticorpos contra ele, em vez de se limitar, numa primeira fase, aos anticorpos contra a proteína S. A questão é que não há necessidade de dispensar a proteção induzida pela vacina e esperar unicamente por uma infeção para adquirir algum tipo de imunidade ao coronavírus: as pessoas com infeção pelo SARS-CoV-2 e que estão vacinadas adquirem uma “super imunidade”, concluiu um estudo publicado na revista Science Immunology. Sim, a resposta imunitária parece ser mais robusta em quem esteve infetado do que quem apenas foi vacinado contra a Covid-19. Mas também parece ser melhor ter a imunidade adquirida das vacinas e a imunidade natural de uma recuperação do que contar apenas com esta última. Que vacina tomou? E já esteve infetado? Estudo sugere quem está mais protegido da variante Ómicron Mais: a vacinação contra a Covid-19 é mais segura do que uma infeção pelo coronavírus. Quem está infetado pelo SARS-CoV-2 arrisca não só o desenvolvimento de um quadro clínico severo, que pode eventualmente conduzir à morte, como também o surgimento de efeitos colaterais prolongados no tempo, incluindo problemas nos pulmões e no coração, danos no fígado e rins, condições neurológicas e doenças psiquiátricas. Cicatrizes nos pulmões, risco de enfarte e até problemas cerebrais. As sequelas que a Covid-19 deixa em quem recupera Com a vacina, na esmagadora maioria dos casos, os efeitos secundários cingem-se a dores no local da picada, desenvolvimento de febre e dores musculares, dores de cabeça, sensação de fadiga e desarranjos intestinais — sintomas benignos que desaparecem ao fim de um curto período. As reações adversas graves são extremamente raras: há quatro notificações em cada 10 mil vacinas administradas, dizem os dados do Infarmed, e não é possível concluir que todas elas foram mesmo provocadas por estes fármacos. Das pessoas que notificaram as autoridades de saúde para o desenvolvimento de reações adversas graves, 0,5% destas (116, para sermos mais precisos) revelaram-se fatais. Mas atenção: a própria Infarmed esclarece que “os casos de morte ocorreram num grupo de indivíduos com uma mediana de idades de 77 anos e não pressupõem necessariamente a existência de uma relação causal entre cada óbito e a vacina administrada”. Prova disso é que este número de óbitos está dentro dos padrões normais de morbilidade e mortalidade da população portuguesa — ou seja, a vacinação não está a provocar mais mortes do que os que já costumam ser registados em Portugal; e nem sequer se sabe ainda se a vacina contribuiu para algum destes 116 óbitos. Mais de 21.500 suspeitas de reações adversas às vacinas e 116 mortes de idosos registadas em Portugal O que significa isto? Desde o início da pandemia até ao dia 31 de dezembro de 2020, antes do início da distribuição universal da vacina contra a Covid-19 na população, 6.972 das 420.629 pessoas infetadas perderam a vida — uma taxa de letalidade de 1,66% (percentagem que é ainda maior entre pessoas idosas ou com comorbilidades, além de que há inúmeros casos de morte por Covid-19 entre pessoas saudáveis). No que toca às vacinas, imaginando o pior cenário, em que todas as 116 mortes em investigação estavam mesmo associadas à vacina, isso simbolizaria apenas 0,001% das 8.698.042 pessoas com vacinação completa em Portugal. Vacinas reduzem a taxa de novas infeções. Só não é essa a sua principal missão Outro problema nesta publicação é o parágrafo em que se alega que “as vacinas não impedem a infeção ou a transmissão do vírus”, até porque, tal como se indica “os adultos vacinados estão agora a ficar infetados em muito maior percentagem do que os não vacinados” — e a palavra “maior” até surge em letras capitais. A questão é que, não só as vacinas conseguem mesmo evitar o surgimento de milhares de casos positivos, como o facto de haver mais pessoas vacinadas infetadas do que não vacinadas não se traduz em nada de estranho. Numa reunião no Infarmed em novembro do ano passado, o epidemiologista Henrique Barros, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, estimou que a vacinação contra a Covid-19 evitou 2.300 óbitos e 200 mil infeções só desde maio até àquele mês. Primeiro, porque os anticorpos produzidos por quem já foi vacinado alojam-se na proteína que o vírus utiliza para entrar nas células, pelo que a própria infeção pode ser evitada — embora o principal objetivo das vacinas seja mesmo evitar o desenvolvimento de Covid-19. Henrique Barros: “Desde maio, a adesão à vacina em Portugal poupou 200 mil infeções e 2.300 vidas” Depois, porque as pessoas infetadas que foram vacinadas, mesmo atingindo cargas virais equivalentes às de pessoas não vacinadas no pico da infeção, veem essas quantidades de vírus diminuírem num período de tempo mais curto. Ou seja, são transmissoras em intervalos temporais mais curtos, pelo que o vírus tem menos oportunidade de passar para terceiros. Depois, como as coberturas vacinas são muito elevadas no Reino Unido (71% da população está totalmente vacinada contra a Covid-19), é natural que haja mais pessoas vacinadas entre os infetados. No caso de Portugal, um ensaio redigido pelo epidemiologista Manuel Carmo Gomes e pelo engenheiro Carlos Antunes, ambos da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, confirma que, “desde o princípio de outubro, a maioria dos novos casos de infeção ocorreu já em pessoas completamente vacinadas”. Manuel Carmo Gomes defende vacinação de maiores de 80 anos até final de novembro para evitar pressão hospitalar Há vários motivos para isso. Por um lado, como nove em cada dez portugueses estão vacinados contra a Covid-19, torna-se estatisticamente mais provável um vacinado ser infetado que alguém não vacinado. Por outro lado, o aumento de incidência em vacinados associa-se à diminuição da concentração de anticorpos em circulação no sangue do indivíduo ao fim de algum tempo. Por isso é que a dose de reforço pode ser crucial. A boa notícia é que as vacinas mantêm-se altamente protetoras contra a doença grave e são mesmo capazes de evitar um cenário de internamento e mesmo de morte na esmagadora maioria dos casos. Conclusão É falso que o governo do Reino Unido tenha admitido que as vacinas contra a Covid-19 danificam o sistema imunológico natural dos vacinados a ponto de estes nunca poderem adquirir imunidade natural contra o vírus se vierem a ser infetados. O texto está repleto de interpretações erradas das informações publicadas num relatório real das autoridades de saúde britânicas, incluindo a secção em que se estuda os níveis de anticorpos contra determinadas proteínas do SARS-CoV-2. Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é: ERRADO No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é: FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos. Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.
schema:mentions
schema:reviewRating
schema:author
schema:datePublished
schema:inLanguage
  • Portuguese
schema:itemReviewed
Faceted Search & Find service v1.16.115 as of Oct 09 2023


Alternative Linked Data Documents: ODE     Content Formats:   [cxml] [csv]     RDF   [text] [turtle] [ld+json] [rdf+json] [rdf+xml]     ODATA   [atom+xml] [odata+json]     Microdata   [microdata+json] [html]    About   
This material is Open Knowledge   W3C Semantic Web Technology [RDF Data] Valid XHTML + RDFa
OpenLink Virtuoso version 07.20.3238 as of Jul 16 2024, on Linux (x86_64-pc-linux-musl), Single-Server Edition (126 GB total memory, 5 GB memory in use)
Data on this page belongs to its respective rights holders.
Virtuoso Faceted Browser Copyright © 2009-2025 OpenLink Software