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| - “Sempre que vemos uma banda num filme, a música é, na melhor das hipóteses, razoável”, disse o ator Michael Cera ao “Los Angeles Times”. A equipa de produção de “Scott Pilgrim Vs The World” – adaptação cinematográfica da novela gráfica “Scott Pilgrim”, de Bryan Lee O’Malley – decidiu contrariar o estereótipo apontado pelo protagonista do filme, embora as primeiras versões do guião “se afastarem bastante da música”, sublinha o LA Times. Tudo mudou quando entrou em cena o produtor Nigel Godrich, conhecido pelos seus trabalhos com Beck, Radiohead e Paul McCartney. Citado pelo “Los Angeles Times”, Godrich confessa compreender “a razão pela qual se pode secundariza a música num guião. É uma daquelas situações em que talvez seja melhor não ouvir qualquer som e deixar essa área à imaginação dos espetadores – e a música seria, assim, tão boa quanto fosse imaginada.” Contudo, acrescenta, “depois de algumas conversas, tornou-se evidente que poderíamos contar com a contribuição de algumas pessoas e foi uma possibilidade fantástica.”
Que pessoas são essas? Beck é uma delas. É a música do cantor, compositor e produtor americano que estrutura todo o genérico filme. “A produção recrutou Beck para escrever todas as canções dos Sex Bob-Omb”, refere a “Pitchfork”.
O processo demorou “dois dias”, escreve a “Rolling Stone”, que cita o autor, sobre as canções: “Tinham que ser divertidas, mas também queria que soassem a música crua, pouco produzida. Como uma demo.”
O facto de alguns atores terem que aprender a tocar instrumentos e a cantar, ajuda a criar essa atmosfera mais experimental, mais crua, sem filtros. A atriz Alison Pill desempenha o papel de Kim, a baterista, e, confessou à “MTV News“, teve a oportunidade de conhecer o baterista de Beck que a ensinou a tocar para conseguir acompanhar as canções. Um processo que durou duas semanas. “Bateria é um instrumento extremamente difícil de aprender”, sublinhou.
Mark Weber passou pelo mesmo processo, mas com a guitarra. O ator dá corpo a Stephen Stills, o líder e vocalista da banda. Num dos extras da edição em DVD, o diretor musical Chris Murphy recorda que Mark “teve que começar do zero.” O ator confessou estar à beira de “um esgotamento e um ataque cardíaco. Até há dois meses, nunca tinha tocado guitarra nem cantado qualquer canção – muito menos em frente de alguém. E hoje tenho que cantar em frente a várias pessoas e perante um dos maiores produtores de rock de todos os tempos… estou com muito medo.”
O único elemento desta banda que sabia tocar algo – baixo – antes do início da rodagem era Michael Cera. “Ele é demasiado bom. Aliás, ele teve que tocar menos bem para não deixar o Mark ficar mal…”, diz Murphy no mesmo extra do DVD.
Apesar da inexperiência dos atores nos domínios musicais, este grupo que saltou da banda desenhada para o grande ecrã portou-se muito bem. De tal forma bem que a revista “Rolling Stone” incluiu os Sex Bob-Omb na lista das 25 melhores bandas de filmes – ficaram no 16º posto -, resumindo, assim, o seu código genético sonoro: “Le Tigre com White Stripes e Buzzcocks”.
Michael Cera acabaria por “juntar-se um super-grupo indie rock, os Mister Heavenly, com elementos dos Modest Mouse e dos Man Man and Islands”, relatou o “The Guardian”. Com os Mister Heavenly, “o protagonista de ‘Scott Pilgrim Vs The World’, não estará apenas de passagem, a fingir que toca rock – o ator de 22 anos [este texto do “The Guardian” foi escrito em dezembro de 2010] irá aprimorar os seus dotes musicais, tocando baixo durante a digressão da banda.” Cera já não faz parte do alinhamento dos Mister Heavenly.
Quanto a Beck, que teve honras de escrever a música de abertura do filme, não foi o único consagrado – ele também surge em nome próprio no alinhamento da banda sonora – a juntar-se a Scott Pilgrim. No alinhamento da banda sonora estão lá os Metric, que são a sombra dos The Clash at Demonhead (sem desprimor para a vocalista dos Metric, Emily Haines, a atriz Brie Larson vai muito bem como líder da banda), os Broken Social Scene (surgem como Crash and the Boys), Frank Black (dos Pixies) assina canção e alguns “clássicos dos T. Rex e Rolling Stones”, acrescenta a “Pitchfork”.
E assim se transforma um som que a banda desenhada original descreve como “manhoso”, numa banda sonora com excelentes canções.
Avaliação do Polígrafo:
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