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| - “Já passou mais de meio ano desde as últimas eleições legislativas e vários meses desde a tomada de posse do Governo de António Costa. O primeiro-ministro disse que queria ser avaliado pelos resultados do seu Governo. Pois bem. Vamos então avaliar”, começa por se indicar no post de 7 de agosto no Facebook que foi remetido ao Polígrafo com pedido de verificação de factos.
“Este Executivo não foi capaz de inverter a escalada de pobreza, com quase meio milhão de portugueses enviados para a pobreza nos últimos anos. A esta tragédia junta-se o flagelo da emigração jovem que continua e a imigração ilegal vai crescendo e sem controlo aparente. A inflação agiganta-se a cada mês que passa, estando já em níveis recorde, e os portugueses nunca pagaram tanto pelo gasóleo e pela eletricidade”, destaca-se.
Ora, os últimos dados do Eurostat e do Instituto Nacional de Estatística (INE) compilados na Pordata demonstram que a taxa de risco de pobreza antes de qualquer transferência social passou de 42,4% em 2019 para 43,5% em 2020, resultando no primeiro aumento neste indicador desde 2013.
Quanto à taxa de risco de pobreza após transferências sociais passou de 16,2% em 2019 para 18,4% em 2020, resultando também no primeiro aumento neste indicador desde 2013.
Estes aumentos registados em 2020 são indissociáveis do advento da pandemia de Covid-19 e subsequente paralisação económica. Ainda assim, a taxa de risco de pobreza antes de qualquer transferência social permanece abaixo do nível registado em 2011 (45,4%). Por seu lado, a taxa de risco de pobreza após transferências sociais está abaixo do nível registado em 2012 (18,7%), assim como é inferior a todo o período da série estatística entre 1994 e 2005.
De acordo com os dados disponíveis até 2020, apesar do aumento global em comparação com as décadas de 1990 e 2000 (no que concerne à taxa de risco de pobreza antes de qualquer transferência social), o facto é que desde o final de 2015, quando António Costa assumiu o cargo de primeiro-ministro, até foi diminuindo: 45,2% em 2016, 43,7% em 2017, 43,4% em 2018, 42,4% em 2019. Só voltou a aumentar em 2020.
Aliás, a taxa de risco de pobreza após transferências sociais, apesar do aumento significativo em 2020, continua a ser inferior à registada entre 1994 e 2005.
No último boletim sobre “Rendimento e Condições de Vida” do INE, publicado em dezembro de 2021 (pode consultar aqui), informa-se que “o Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, realizado em 2021 sobre rendimentos do ano anterior, indica que 18,4% das pessoas estavam em risco de pobreza em 2020, mais 2,2 pontos percentuais (p.p.) do que em 2019. A taxa de risco de pobreza correspondia, em 2020, à proporção de habitantes com rendimentos monetários líquidos (por adulto equivalente) inferiores a 6.653 euros (554 euros por mês)”.
“O crescimento do risco de pobreza foi mais severo no caso das mulheres (mais 2,5 p.p., de 16,7% em 2019 para 19,2% em 2020), em particular no caso das mulheres idosas (mais 3,0 p.p., de 19,5% para 22,5%)”, realçou o INE.
Emigração de jovens tem vindo a diminuir desde 2014
Quanto ao suposto “flagelo da emigração jovem que continua”, de acordo com os dados mais recentes, compilados na Pordata, em 2021 registou-se um total de 65.983 emigrantes, dos quais 25.079 permanentes e 40.904 temporários.
A título de exemplo comparativo, durante o período de assistência financeira da troika (2011-2014), o nível de emigração foi sempre mais elevado, variando entre um mínimo de 100.978 pessoas em 2011 e um máximo de 134.624 pessoas em 2014.
No âmbito dos subgrupos de emigrantes permanentes e temporários, os números referentes ao período da troika também foram sempre mais elevados do que em 2021.
Mas a publicação em análise refere-se à “emigração jovem“, não indicando a correspondente faixa etária. Se aplicarmos ao conceito de “jovem” a faixa etária até aos 29 anos de idade, em 2020 registou-se um total de 30.061 emigrantes, dos quais 12.584 permanentes e 17.477 temporários.
Mais uma vez, durante o período da troika (2011-2014), o nível de emigração na faixa etária até aos 29 anos de idade foi sempre mais elevado. Em 2012, por exemplo, registou-se um total de 56.962 emigrantes na referida faixa etária.
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Avaliação do Polígrafo:
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