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| - Ao longo da entrevista ao Infobae, Denise Crespo relatou a sua experiência como doente infetada com a Covid-19 e garantiu que já viu casos de reativação do vírus “em que [o segundo caso] se tornou pior do que o primeiro contágio”.
Como afirmou ao site de notícias argentino, a médica não tem qualquer dúvida que essa possibilidade é real: “Hoje sabemos que o coronavírus permanece no corpo e pode reativar-se.”
Haverá mesmo casos de reativação do novo coronavírus responsável pela pandemia de Covid-19?
Primeiro, é importante explicar a diferença entre reativação e reinfeção. Nos casos de reativação, o vírus mantém-se no organismo e, passado algum tempo, volta a manifestar-se, provocando sintomas ao hospedeiro. A reinfeção acontece quando o indivíduo volta a ser infetado com novos elementos do vírus, causando uma nova doença.
A reativação do vírus SARS-CoV-2 não é consensual entre a comunidade científica e Paulo Paixão, presidente da Sociedade Portuguesa de Virologia, explicou ao Polígrafo que não existe mesmo muita informação sobre o assunto. “O que ela [Denise Crespo] diz é uma meia verdade, ou seja, realmente foram descritos alguns casos de potencial reativação”, confirmou o virologista, ressalvando que este aparenta ser “um fenómeno bastante raro” e, por isso, “não é motivo para preocupação”.
Este género de declarações, alertou o virologista, pode “causar um alarme desnecessário sobre algo que, pelo que se sabe, não tem justificação”. O especialista explicou que, “caso a reativação fosse frequente, era preciso seguir as pessoas, fazer testes continuamente”.
O virologista português assumiu que existem estudos (que pode consultar aqui, aqui, aqui e aqui) em que foram reportadas reativações, mas até os investigadores apresentaram dúvidas sobre se essa conclusão seria correcta. Para que se confirme este fenómeno é necessário comparar a constituição genética do primeiro vírus com a do segundo e provar que é exatamente igual. “Se o vírus for exatamente o mesmo é reativação, se o vírus tiver pequenas diferenças – claro que é tudo Covid-19 – assumimos que é uma reinfeção porque é um vírus novo”, sublinhou.
No entanto, há vários parâmetros que limitam esta comparação. É necessário ter a primeira amostra viral para comparar e, devido ao crescente número de casos detetados todos os dias, é complicado guardar as amostras de todos os pacientes. Além disso, os testes de composição genética são dispendiosos. Em alguns casos, os investigadores referiram como limitação a não comparação da genética dos vírus, baseando-se na questão comportamental do participante no estudo para chegar a uma conclusão.
Nas redes sociais, Fabricio Ballarini, biólogo e investigador do CONICET – organização dedicada à promoção da ciência e da tecnologia na Argentina –, garantiu que “não existem artigos que confirmem que o vírus permanece no corpo e se reative gerando patologias piores”
“O que os cientistas diziam é que alguns casos apontavam mais para a reativação, não porque foi feito o estudo genético – essa é a prova final –, mas pelas características epidemiológicas. Eram pessoas que tinham contactos muito estreitos depois de terem estado infetadas. Naqueles dois ou três meses entre a primeira e a segunda infeção, a probabilidade de terem sido reinfectadas era mais baixa”, esclareceu o especialista, reforçando que ainda assim não há certezas de que estes casos sejam uma reativação da infeção.
As declarações da médica argentina motivaram reações de vários clínicos. Humberto Debat, investigador do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária e colaborador do Projeto Argentino Interinstitucional de Genónica de SARS-CoV-2, explicou à plataforma de fact-checking “Chequeado” que “até ao momento não se conhecem relatórios de potenciais reservatórios ao nível do tecido onde os vírus poderiam ‘refugiar-se’ de maneira latente para depois se reativarem, nem para o SARS-CoV-2 nem para nenhum coronavírus, uma vez que não é um mecanismo associado a essa família de vírus”.
Também nas redes sociais, Fabricio Ballarini, biólogo e investigador do CONICET – organização dedicada à promoção da ciência e da tecnologia na Argentina –, garantiu que “não existem artigos que confirmem que o vírus permanece no corpo e se reative gerando patologias piores”. O investigador disse ainda que “existem muitas hipóteses, mas poucos estudos para confirmar algo semelhante”.
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Avaliação do Polígrafo:
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