schema:text
| - Ao longo das últimas semanas, a alegação de que os países que recorreram à hidroxicloroquina tiveram maior sucesso no combate à Covid-19 voltou a tornar-se viral nas redes sociais.
Em múltiplas publicações foi citada esta frase (por vezes acompanhada de ligação para a respetiva fonte): “O estudo internacional mais recente sobre o tratamento do coronavírus com hidroxicloroquina mostra que os países que fizeram uso precoce desta substância tiveram uma taxa de mortalidade 79% menor do que os países que a proibiram”.
Que estudo é este? Quais os seus autores, premissas e data de publicação?
A menção ao alegado estudo tem origem num site – The Gateway Pundit -, cujas informações já se revelaram, por diversas vezes, comprovadamente falsas. E apresenta, desde logo, uma contradição relativamente aos que o citam com caráter de atualidade: foi feita em agosto de 2020 (apesar de republicada a 28 de janeiro), o que invalida a referência a “estudo mais recente”.
Depois de agosto de 2020 já foram publicados estudos com conclusões que refutam a alegada eficácia da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19. É o caso do “Solidarity Therapeutics Trial”, monitorizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e com pré-publicação a 15 de outubro, no qual se concluiu que “os medicamentos tiveram pouco ou nenhum efeito na redução da mortalidade ou tempo de internamento“, não evitando as 1.253 mortes ocorridas durante a investigação.
Retornando ao conteúdo colocado em agosto no The Gateway Pundit, o acesso ao suposto estudo pode ser efetuado por uma ligação que remete para uma página designada por “c19study”.
Nessa página são divulgadas diversas estatísticas, de forma confusa, com a indicação de que foram obtidas a partir de uma base de dados com 253 estudos. Em nenhuma delas pode ser encontrada a informação de que os países que utilizaram a hidroxicloroquina para combater a Covid-19 tiveram uma taxa de mortalidade 79% menor do que aqueles que a interditaram.
Na parte relativa à utilização geográfica da hidroxicloroquina torna-se evidente a fragilidade da informação veiculada. O mapa apresenta uma versão sobredimensionada da utilização daquela substância, através da inclusão de diversos países que fazem uma prescrição apenas residual da substância na categoria “uso misto” e de outros que não estão sequer a utilizar este fármaco na classificação “uso alargado” (como é o caso do Uruguai).
O Polígrafo verificou como é catalogado Portugal neste mapa e as respetivas fontes de classificação, assim constatando a diferença entre o que é reportado e a realidade. Segundo o “c19study”, Portugal (juntamente com a Dinamarca) é o único país da Europa ocidental que faz um “uso alargado” da hidroxicloroquina. Ora, quer a Direção-Geral da Saúde (DGS) quer o Infarmed – Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde não só nunca aconselharam a sua utilização (numa primeira fase adoptaram uma posição cautelosa), como até, desde o final de maio de 2020, recomendaram a suspensão da sua utilização.
Das quatro fontes utilizadas para justificar esta catalogação de Portugal, nenhuma é oficial e duas vão justamente em sentido contrário, relatando a suspensão do uso da hidroxicloroquina.
Em suma, é falsa a alegação de que existe um estudo recente a indicar que países que utilizam hidroxicloroquina têm uma taxa de mortalidade 79% inferior aos demais. A informação remonta já a agosto e remete para um site que não apresenta qualquer estudo com essa conclusão, mas sim diversos dados que não são verdadeiros.
_________________________________
Avaliação do Polígrafo:
|