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| - “Nós fomos o primeiro partido político a alertar para os efeitos da inflação“, destacou ontem Luís Montenegro, líder do PSD, na entrevista à CNN Portugal, ao ser questionado sobre as “ideias” que o diferenciam do PS. “Apresentámos, antes do Governo, um programa de emergência social. Nós chegámos ao Orçamento do Estado e dissemos quais eram as oito prioridades que tínhamos, nomeadamente no domínio fiscal, ajuda aos jovens, um IRS máximo de 15% para os jovens casais, para eles poderem fixar-se e terem condições e poder de compra para poder acudir às suas despesas mais essenciais, nomeadamente a habitação”.
É verdade que o PSD foi “o primeiro partido político a alertar para os efeitos da inflação”?
De facto, no dia 2 de setembro, o PSD apresentou um “Programa de Emergência Social” na Assembleia da República, estruturado em “sete eixos”:
– “Atribuição, entre setembro e dezembro deste ano, de um vale alimentar no valor de 40 euros por mês a todos os pensionistas e reformados que recebem uma pensão/reforma até 1.108 euros. A medida abrange cerca de 2 milhões e 300 mil pessoas”;
– “Atribuição, entre setembro e dezembro deste ano, de um vale alimentar no mesmo valor de 40 euros por mês a todos os que estão na vida ativa e auferem um rendimento até ao 3.º escalão do IRS. A medida abrange cerca de 2 milhões e 300 mil pessoas”.
A opção por vales alimentares motivou aliás críticas da parte de Eurico Brilhante Dias, líder da bancada parlamentar do PS, que considerou ser uma medida de “caridadezinha” e “paternalismo”.
Na comparação com o Governo do PS, Montenegro foi mais lesto a alertar para os efeitos da inflação e necessidade de um programa abrangente de apoio aos cidadãos para enfrentar o aumento do custo de vida, financiado pelo excedente da receita fiscal.
Contudo, a alegação de que foi “o primeiro partido político a alertar para os efeitos da inflação” vai mais longe e acaba por não ter fundamento.
Em agosto de 2022, por exemplo, a líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, defendeu que a resposta à inflação exigia “medidas fortes” ao nível dos preços da energia, habitação e alimentação.
“Se o Governo quer controlar a inflação, tem por onde começar: impor um tecto aos custos da energia”, abrangendo “eletricidade, gás e combustíveis”, sublinhou Martins.
Noutro exemplo, em julho de 2022, o PCP apresentou um Projeto de Lei que visava “criar o regime de controlo de preços sobre os produtos do Cabaz Alimentar Essencial, que garante o controlo das margens dos operadores do setor da distribuição alimentar e logística”.
“A inflação homóloga registada em junho, de 8,7% (numa tendência crescente que já registou 7,2% em abril e 8% em maio), sendo um valor altíssimo, não reflete plenamente o aumento de preços que se verificou em muitos bens alimentares essenciais. Esta situação vem demonstrar mais uma vez que o poder político não pode ‘lavar as mãos como Pilatos’, face aos constantes abusos da grande distribuição”, acusaram os comunistas na exposição de motivos.
Recuando mais no tempo, logo em abril de 2022, no âmbito da discussão da proposta de Orçamento do Estado para 2022, na Assembleia da República, o então secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, alertou para “a falta de respostas aos problemas dos trabalhadores e do povo” e, sobre a inflação, avisou que “apesar de se poder prolongar até 2027, o Governo continua a considerá-la passageira“.
“Este Orçamento do Estado traduz-se num corte salarial. O Governo podia e devia apresentar medidas de combate à inflação, mas não o faz por causa dos grandes grupos económicos”, declarou Jerónimo de Sousa, numa altura em que Montenegro ainda nem tinha sido eleito líder do PSD.
Nesse mesmo debate parlamentar de abril de 2022, a líder do Bloco de Esquerda criticou o ministro das Finanças, Fernando Medina, por ter dito que “aumentar os salários para responder à inflação é uma ilusão”. E alertou: “Com tudo mais caro, os serviços públicos ficam com menos meios.”
Embora com propostas distintas, mais focadas na redução da despesa do Estado e da carga fiscal, o partido Iniciativa Liberal também alertou para os efeitos da inflação através de uma publicação de maio de 2022 nas redes sociais, verificada aliás pelo Polígrafo.
“Nesta altura em que o custo de vida em Portugal aumenta por via da inflação, o PS consegue ir buscar mais 3 mil milhões em impostos aos bolsos dos portugueses. Podia usar essa receita adicional para baixar mais os impostos sobre os combustíveis ou reduzir o IRS para salários baixos como pede a Iniciativa Liberal. Tem o dever moral de o fazer e aliviar assim a vida dos portugueses mas já veio dizer que não o fará”, criticaram os liberais, também quando Montenegro ainda não era líder do PSD.
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Avaliação do Polígrafo:
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