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| - O debate quinzenal com o primeiro-ministro realizado ontem na Assembleia da República foi marcado por dois temas: a pandemia de Covid-19 e as medidas de austeridade que eventualmente se avizinham. Os assuntos são diferentes, mas a sua relação é hoje umbilical, uma vez que o tema austeridade só surge no debate político como uma possível consequência dos danos arrasadores – “um choque inimaginável“, segundo o ministro das Finanças, Mário Centeno – que, previsivelmente, a pandemia do novo coronavírus provocará na economia nacional.
André Ventura, deputado único do partido Chega, foi o mais contundente com António Costa, exigindo-lhe “uma resposta definitiva” sobre um assunto acerca do qual o líder do Executivo vinha dando, em intervenções públicas sucessivas, sinais pouco claros. Perguntou o líder do Chega: “Vamos cortar pensões? Vamos pagar o subsídio de Natal? Vamos ter aumentar o IVA? Vamos ter de aumentar o IRS?” Leia-se: Vamos ter ou não austeridade?
Ao responder-lhe (pode ver aqui a gravação do debate na ARTV), o primeiro-ministro pegou numa folha do “Expresso” com a entrevista que dera ao jornal uns dias antes. No título podia ler-se: “Austeridade? ‘Não dou uma resposta que amanhã não possa garantir’”.
Logo de seguida, Costa deu a entender que o título da entrevista induzia os leitores em erro. Isto porque, alegadamente, não teria dado aquela resposta a uma pergunta sobre austeridade. Depois citou a frase que verdadeiramente teria dito quando lhe foi colocada a questão sobre austeridade: “Foi uma má ideia e seria uma má ideia. O país não precisa de austeridade, precisa de relançar a economia”.
A pergunta impõe-se: Será mesmo verdade que as afirmações de António Costa foram descontextualizadas pelo jornal “Expresso”?
A resposta é negativa. Depois da intervenção do chefe do Executivo, o jornal “Expresso” apressou-se a desmenti-lo de forma clara, disponibilizando no seu site a transcrição literal daquele segmento da entrevista, acompanhada do respetivo áudio, que não deixa lugar para dúvidas. Leia a sequência de perguntas e respostas:
“Na última semana perguntaram-lhe sobre se admite que venha a ser necessário aplicar medidas de austeridade.
Foi uma má ideia e seria uma má ideia. O país não precisa de austeridade, precisa de relançar a economia.
Escolheu sempre as palavras ‘espero que não’, ‘evitar’…
Lembra-se da sua pergunta anterior sobre a incerteza?
Lembro-me. Ia perguntar se não estamos na circunstância do ex-presidente dos EUA, que respondeu a uma pergunta assim dizendo ‘read my lips’.
[Risos] Pode ler à vontade o que está nos meus lábios [sorriso]. Mas já ando nisto há muitos anos para não dar hoje uma resposta que amanhã não possa garantir. E acho que há um fator fundamental para sairmos desta crise, que é mantermos confiança. E a confiança tem de assentar em todos percebermos qual é o grau de incerteza em que vivemos e qual é o grau de compromisso que podemos assumir”.
Em conclusão, é falso que o “Expresso” tenha manipulado as declarações de António Costa na entrevista que deu ao jornal. Ao afirmá-lo no Parlamento, o primeiro-ministro faltou à verdade.
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Avaliação do Polígrafo:
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