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| - No final da entrevista à TVI, na noite de quinta-feira, 3 de novembro, foram apresentados a Rui Rio três apontamentos de Paulo Rangel, na corrida pela liderança do PSD, que este último considera serem as diferenças entre os dois candidatos. São eles a “forma como pensa a Justiça”, a “liberdade de imprensa” e o “papel da comunicação social”.
Logo de seguida, Rio foi confrontado com palavras proferidas em 2008 por Manuela Ferreira Leite, ex-líder social democrata: “Em tempos, Manuela Ferreira Leite sugeriu que em algumas matérias seria útil suspender a democracia para que fossem feitas algumas reformas. Já deu por si a pensar no mesmo?”
Rio reagiu de imediato, dizendo que “a doutora Manuela Ferreira Leite, lembro-me bem disso que dizem, nunca disse isso. Disse o contrário. Mas depois isto é daquelas coisas que colam como se tivesse dito”. O líder do PSD garantiu ainda que o que Ferreira Leite disse foi que “isto em democracia é difícil de resolver”, mas que “se formos para ditadura tudo bem, suspende-se a democracia seis meses e resolve-se tudo. Mas estamos em democracia”. Assim, Rio considerou que a ex-líder “não disse que fazia”, antes “criticou. Foi exatamente ao contrário”.
Recuando a 2008 e às declarações de Manuela Ferreira Leite durante um almoço organizado pela Câmara de Comércio Luso-Americana, é possível verificar que não só as palavras utilizadas foram exatamente as que estão em causa, como a então líder do PSD questionou mesmo se não seria “bom” haver “seis meses sem democracia”, defendendo mais tarde que se tratava de um enquadramento irónico. “Quando não se está em democracia é outra conversa, eu digo como é que é e faz-se. E até não sei se a certa altura não é bom haver seis meses sem democracia. Mete-se tudo na ordem e depois então venha a democracia”, afirmou Ferreira Leite.
“Agora, em democracia, efetivamente, não se pode hostilizar uma classe profissional para de seguida ter a opinião pública contra essa classe profissional e então depois entrar a reformar, porque nessa altura estão eles todos contra. Não é possível fazer uma reforma da justiça sem os juízes, fazer uma reforma da saúde sem os médicos”, continuou a então líder social-democrata.
“Quando não se está em democracia é outra conversa, eu digo como é que é e faz-se. E até não sei se a certa altura não é bom haver seis meses sem democracia. Mete-se tudo na ordem e depois então venha a democracia”.
“Qualquer político que pretenda alterar um sistema não o pode fazer contra esse sistema. Portanto eu acho que estão arrumadas, no mau sentido, as reformas da educação, saúde, Administração Pública, justiça. Fizeram-se umas coisitas, mas não é a reforma”, considerou.
É certo que Ferreira Leite tinha antecedido estas declarações com uma longa exposição de várias críticas ao Governo, afirmando, com recurso à ironia, que em democracia não se fazem reformas sem as classes socioprofissionais. Ainda assim, as palavras foram alvo de várias críticas por parte dos socialistas, que argumentaram não haver “ironia quando se apela a uma ideia de interrupção da democracia”.
Em suma, ao contrário do que afirmou Rui Rio, Manuela Ferreira Leite sugeriu mesmo que fosse feita uma pausa na democracia, de forma a que tudo fosse colocado “na ordem”.
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Avaliação do Polígrafo:
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