schema:text
| - “É assim que os pastores aterrorizam as crianças e entram na mente delas e criam zumbis. Devotos e pagantes”, comenta-se numa das publicações em causa (datada de 12 de março, no Facebook) que mostra uma ilustração de ursos a devorarem crianças.
“Deus manda dois ursos matarem 42 crianças porque elas zombaram da careca de Eliseu“, cita-se supostamente a partir da Bíblia. Mais precisamente do livro histórico do antigo testamento II Reis, do segundo capítulo.
“Histórias que eles não contam na Igreja”, sublinha-se.
O II Reis é um dos livros históricos do antigo testamento da Bíblia e está dividido em 25 capítulos. Narra a história do profeta Elias que “dividiu o Rio Jordão e foi levado para o céu numa carruagem de fogo”.
Consultando o segundo capítulo, no último segmento intitulado como “Eliseu purifica a nascente de Jericó”, deparamos com uma história similar à da publicação sob análise. Passamos a transcrever: “Eliseu partiu dali para Betel. Pelo caminho, apareceram uns rapazitos, vindos da povoação, que se puseram a troçar dele e a dizer: ‘Vai-te embora, careca!‘. Eliseu voltou-se para eles, olhou-os bem e amaldiçoou-os em nome do Senhor. Nesse mesmo momento, saíram duas ursas do bosque, que despedaçaram quarenta e dois daqueles rapazes. Dali, Eliseu partiu para o monte Carmelo, donde voltou para Samaria”.
A única diferença é mesmo o sexo dos ursos que afinal são ursas.
O Polígrafo contactou o padre Miguel de Salis Amaral, docente de Teologia na Universidade Pontifícia da Santa Cruz, em Roma, e consultor teólogo do Promotor da Fé, no Vaticano, que explicou o conteúdo desta passagem da Bíblia.
“A passagem da Bíblia que me indica fala do profeta Eliseu, de quem uns jovens fazem troça por causa da falta de cabelo. O texto diz assim: ‘Então subiu dali a Betel; e, subindo ele pelo caminho, uns meninos saíram da cidade, e zombavam dele, e diziam-lhe: Sobe, calvo; sobe, calvo!’ 2 Reis 2,23-24″, começa por explicar.
“A intenção desta passagem é mostrar que não se deve troçar do enviado de Deus. É um ensinamento da Bíblia que aparece noutros lugares. Às vezes em sentido negativo, como neste caso, através de uma punição (o envio dos ursos). Outras vezes, em sentido positivo, como no caso de David, que teve várias ocasiões para matar Saúl, mas nunca o fez porque, como o texto indica, David afirmava que Saúl era o ungido de Deus e por isso não o poderia matar sem ficar impune (veja-se 1 Samuel 26,7-25)”, sublinha.
De resto, “o facto de levar a cabeça rapada era visto como um sinal religioso, ou pelo menos essa era uma possibilidade (como se pode ver em Isaías 15,2). Portanto, a zombaria dos meninos não se dirigia tanto ao facto físico de que o profeta não tinha cabelo, e sim ao facto de ele ser um profeta. Isso fazia que a troça fosse particularmente grave“.
__________________________
Avaliação do Polígrafo:
|