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  • “Nós [Governo] temos duas preocupações. Por um lado, garantir o poder de compra dos pensionistas. E temos outra preocupação fundamental, que é garantir a sustentabilidade futura da Segurança Social”, começou por afirmar ontem António Costa, numa entrevista que visou sobretudo o pacote de medidas apresentado pelo seu Executivo a 5 de setembro. O primeiro-ministro disse mesmo que o Governo não poderia, de “uma forma responsável”, ter “um ano de inflação absolutamente extraordinária e atípico como é este ano e transformar esta inflação num efeito permanente”. À TVI e CNN Portugal, o secretário-geral do Partido Socialista fez questão de “situar a questão na sua dimensão intertemporal”, referindo que Portugal, nos últimos 20 anos, teve “inflações que nunca ultrapassaram os 2%” e que, “nos últimos cinco anos, a inflação foi, em média, de 0,8%”. Será assim? Ao Polígrafo, fonte oficial do gabinete do primeiro-ministro explicou que António Costa se referiu à média anual da inflação dos últimos 20 anos e que os dados em que se baseou pertencem ao Instituto Nacional de Estatística (INE). Os indicadores são, porém, distintos. Costa mencionou a média anual nos últimos 20 anos, e não a dos últimos 20 anos. Vamos por partes. De acordo com o INE, os primeiros anos do século XXI não foram os melhores para o poder de compra dos portugueses: em 2002, por exemplo, a média anual de inflação foi de 3,6%, um valor que desceu 0,4 pontos percentuais logo em 2003, para 3,2%. As quedas foram consecutivas até ao ano de 2005, mas foi só em 2009 que Portugal registou uma inflação abaixo dos 2%. Neste caso, foi também a primeira inflação negativa do novo milénio: -0,83%. A partir desse ano, só em 2011 e em 2012 é que se registaram inflações acima dos 2% (3,7% e 2,8%, respetivamente), sendo que entre 2013 e 2021 os valores ficaram sempre entre os 1,37% e os -0,28%. Em média, a inflação foi de 1,6% nos 20 anos que antecedem 2022, mas a verdade é que nem sempre a média anual esteve abaixo dos 2%, como afirmou António Costa. Quanto aos últimos cinco anos, não restam dúvidas de que a inflação atingiu os valores mais baixos das últimas décadas (1,27% em 2021, 0,01% em 2020, 0,34% em 2019, 0,99% em 2018 e 1,37% em 2017), registando uma média de 0,8%. A precisão neste segundo indicador acaba por equilibrar a imprecisão na forma como o primeiro-ministro utilizou os dados relativos às últimas duas décadas.
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