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| - O alerta surgiu via Twitter, no domingo, dia 6 de junho: “Os noticiários na RTP3 têm [António] Costa a dizer que temos menos casos da mutação nepalesa do que o Reino Unido – e logo a seguir o infecciologista [António] Silva Graça a explicar que, comparando as amostras analisadas (menos de 10.000 em Portugal, 500.000 no Reino Unido), afinal a mutação, cá, é 18 vezes mais frequente“.
De facto, o primeiro-ministro António Costa falou aos jornalistas, este domingo, a propósito da saída de Portugal da “lista verde” de destinos seguros do Reino Unido. “Quer a chamada variante delta, que anteriormente se designava como a variante indiana, quer esta mutação nepalesa, o Reino Unido tem muito mais casos do que a generalidade dos outros países e, designadamente, muito mais casos do que Portugal. Não pode ser a frieza dos números a explicar esta decisão”, afirmou.
Porém, no mesmo dia, em declarações à RTP, o infecciologista António Silva Graça apresentou dados diferentes sobre a mutação nepalesa, defendendo a implementação de medidas cautelosas em Portugal. “Esta estirpe do vírus, que desconhecemos ainda como se vai comportar, é na realidade, provavelmente, 18 vezes mais frequente neste momento em Portugal do que no Reino Unido“, declarou Silva Graça.
E sublinhou: “Nós temos uma análise que não chega a 10 mil amostras e no Reino Unido foram analisadas quase meio milhão“.
Ambas as alegações – de Costa e Silva Graça – têm sustentação factual, mas a forma como Costa apresenta os dados pode ser enganadora. O Polígrafo contactou o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) e consultou os dados mais recentes compilados no portal Outbreak.info, que monitoriza as variantes do novo coronavírus.
Ao Polígrafo, fonte oficial do INSA informa quem território português foram detectados 74 casos da variante indiana, sendo que a sub-linhagem desta variante (mutação nepalesa) representa apenas 12 dessas infeções. Ora, comparando estes números com os casos identificados no Reino Unido – mais de 12.000 infeções ligadas à variante indiana, das quais 36 associadas à mutação do vírus -, confirma-se que os britânicos apresentam um número mais elevado de infeções nas duas variáveis.
De acordo com os dados do portal Outbreak.info, a prevalência cumulativa na amostra da variante indiana é de 3% no Reino Unido e de 1% em Portugal, mas os dados específicos da mutação nepalesa são distintos.
Tendo em conta o número de sequências genéticas analisadas, cerca de 8 mil, a prevalência desta mutação em Portugal na amostra é de 0,14%. No Reino Unido, onde foram analisadas cerca de 425 mil sequências, a prevalência cumulativa na amostra é de cerca de 0,008%.
Significa isto que, estabelecendo um termo de comparação entre as sequências analisadas pelos dois países, é verdade que, em Portugal, a mutação nepalesa é cerca de 18 vezes mais frequente do que no Reino Unido.
Ainda assim, no referido portal aponta-se para o enviesamento destes números. Isto porque as sequências utilizadas “são uma amostra do número total de casos – geralmente uma amostra enviesada – e podem não representar a verdadeira prevalência das mutações na população”.
“Em geral, é importante notar que o número de casos para qualquer linhagem/mutação pode ser significativamente afetado pelo número geral de casos e taxas de sequenciação genética em qualquer local”, ressalva-se.
Confirma-se que o Reino Unido apresenta, neste momento, mais casos associados à mutação nepalesa do que Portugal, mas essa estatística isolada pode ser enganadora. Por outro lado, a prevalência nas amostras analisadas pelos dois países revela que Portugal tem atualmente 18 vezes mais frequência de casos detetados, tal como afirmou Silva Graça.
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Avaliação do Polígrafo:
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