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| - “Enquanto os ‘especialistas’ vão para as televisões mentir, os dados oficiais do SNS não mentem: internamentos, ambulatório e mortes em ambiente hospitalar estão a níveis históricos baixos, incluindo já 2021. Qual a desculpa deles agora? Querem confinar por isto? Criminosos”, lê-se na mensagem da publicação com centenas de partilhas no Facebook, datada de 8 de janeiro, mostrando um gráfico com dados do Serviço Nacional de Saúde (SNS) que parecem indicar um decréscimo nos indicadores de “soma dias de internamento”, “soma ambulatório” e “soma óbitos”.
O gráfico em causa é autêntico e foi recolhido a partir do Portal da Transparência do SNS, na categoria referente a morbilidade e mortalidade hospitalar.
No entanto, é apresentado de forma descontextualizada. Mais, na verdade não inclui dados de 2021, ao contrário do que se alega na publicação, na medida em que esses dados ainda não estão disponíveis no Portal da Transparência do SNS.
A informação referente aos indicadores de morbilidade e mortalidade hospitalar ainda não vai além de novembro de 2020. Os dados de dezembro de 2020 e de janeiro de 2021 ainda não foram publicados.
De qualquer modo, até novembro de 2020 parece verificar-se um decréscimo dos referidos indicadores, em comparação com os anos anteriores. Como é que se explica esse decréscimo?
Questionado pelo Polígrafo, Filipe Froes, pneumologista e coordenador do Gabinete de Crises da Ordem dos Médicos, explica que “a resposta em medicina intensiva, indispensável para controlar o impacto da Covid-19 no SNS, fez-se à conta da requalificação de outros serviços“.
“As condições de trabalho e maquinaria necessárias para as Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) reduzem a lotação hospitalar e, consequentemente, o número de internados. Numa enfermaria onde cabiam 20 camas regulares, agora cabem 10 reconvertidas em UCI, por exemplo”, afirma o pneumologista.
“As condições de trabalho e maquinaria necessárias para as Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) reduzem a lotação hospitalar e, consequentemente, o número de internados. Numa enfermaria onde cabiam 20 camas regulares, agora cabem 10 reconvertidas em UCI, por exemplo”, afirma o pneumologista Filipe Froes.
De resto, apesar de se registar um menor número de internados ao nível global, “os doentes Covid-19 são geralmente mais graves e trabalhosos“, assima como “é exigida uma duplicação de circuitos para separar doentes Covid-19 e não Covid-19 e mais recursos humanos, o que coloca grande pressão no SNS“.
Quanto ao decréscimo do número de óbitos em ambiente hospitalar, Filipe Froes diz que se justifica através da “diminuição da capacidade de internamento e da resposta ao nível hospitalar“, o que contribui não apenas “para o aumento global da mortalidade em Portugal”, mas também para um “um desvio da mortalidade para fora dos hospitais, nomeadamente em outras instituições, tais como os lares“.
Por sua vez, João Gouveia, presidente da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos (SPCI), sublinha que “numa enfermaria normal, o rácio de enfermeiros por doente deve rondar em média um enfermeiro para seis a oito doentes“, enquanto que “em UCI existe, na pior das hipóteses, um enfermeiro para cada dois doentes“.
O presidente da SPCI aponta também para “o espaço recomendado para as camas e equipamento, de 25 metros quadrados, maior do que aquele que é ocupado numa enfermaria regular, factor que reduz a capacidade de internamento“.
Além da reconversão das unidades hospitalares, João Gouveia indica que “o encerramento e redução de algumas atividades hospitalares em março, aliado ao clima de medo que se instalou, contribuiu para uma menor procura dos serviços de saúde que se traduz na redução do número de internamentos globalmente“.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falta de contexto: conteúdos que podem ser enganadores sem contexto adicional.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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