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| - “Portugal regista uma forte dependência externa em relação ao abastecimento de trigo, há mais de uma década que o grau de autoaprovisionamento é inferior a 10%. Em 2021, apenas 6,3% da utilização interna de trigo (consumo humano, alimentação animal, utilização industrial) era satisfeita pela produção nacional, o que compara com 59,9% em 1990″, lê-se no post difundido no Facebook, datado de 26 de maio.
Confirmam-se estes dados?
De facto, a 26 de maio, o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou um destaque com dados recentes sobre a economia do trigo em Portugal. O primeiro parágrafo do documento foi copiado, palavra a palavra, para servir de descrição da publicação em análise, o que comprova desde logo a sua autenticidade.
Além de ter diminuído o grau de autoaprovisionamento, como se pode ver no gráfico abaixo, o que, devido a questões relativas à autossuficiência e segurança alimentar, se tem tornado “ainda mais preocupante”, o INE prevê uma redução na área de trigo semeado este ano: “O trigo deverá registar uma diminuição da área semeada (-10% no trigo mole e -5% no trigo duro, face à campanha anterior).
De acordo com o INE, “no final da década de 80, o principal fornecedor de trigo a Portugal eram os Estados Unidos. No entanto, em 1991, este fornecedor perdeu relevância, dando lugar a países da União Europeia, com destaque para a França“. O Instituto nota ainda que a Ucrânia e a Rússia têm pesos residuais (0,5% e 0,3%, respetivamente) na estrutura nacional das importações de trigo (média 2012-2021) e que, por conseguinte, a suspensão das importações deste cereal com origem nestes países “dificilmente poderá afetar o abastecimento interno deste cereal”.
Ainda assim, destaca o INE, “a instabilidade resultante da intervenção militar da Rússia na Ucrânia refletiu-se na cotação internacional do trigo o que, face à dependência externa de Portugal desta commodity, irá muito provavelmente aumentar o desequilíbrio da balança comercial. Tanto mais que, no que se refere à produção nacional em 2022, as previsões agrícolas apontam para uma diminuição da produtividade de 10%, face a 2021, numa campanha igualmente marcada pelo aumento significativo do preço dos meios de produção que, em conjunto com as condições meteorológicas adversas, contribuíram para a diminuição da área instalada (-8%)”.
“A instabilidade resultante da intervenção militar da Rússia na Ucrânia refletiu-se na cotação internacional do trigo o que, face à dependência externa de Portugal desta commodity, irá muito provavelmente aumentar o desequilíbrio da balança comercial”.
Neste contexto, “mantendo-se o consumo interno ao nível de 2021 e admitindo, como hipótese técnica, que o preço de exportação do trigo no porto de Rouen se manteria, até ao final de 2022, ao nível registado a 18 de maio passado (443€/tonelada), o INE prevê “um agravamento do défice próximo de 60%” este ano face a 2021, correspondente a cerca de 165 milhões de euros. Isto “considerando os dados já conhecidos do comércio internacional de bens para o 1º trimestre de 2022”.
O INE informa ainda que nos primeiros três meses de 2022 “as importações nacionais de trigo aumentaram 90,0%, face ao mesmo período de 2021, em resultado das variações positivas no índice de preço unitário (+34,3%) e no índice de volume (+41,5%)”.
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Avaliação do Polígrafo:
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