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  • Quem lê o título é levado a pensar que se trata de uma revelação recente. Mas não é o caso. Até podemos ignorar que o texto é de abril de 2018 e que está a ser partilhado nas redes sociais outra vez — tanto em português, como em inglês. Mas não podemos ignorar que o médico em questão — Hardin B. Jones, professor na Universidade da Califórnia (Berkeley) — morreu em 1978 e o artigo citado foi escrito mais de 20 anos antes. A frase não é, portanto, recente — e, como veremos, está longe de ser verdadeira. “[Hardin B. Jones] passou 25 anos a mapear a esperança de vida de doentes que receberam quimioterapia como tratamento principal após receberem um diagnóstico de cancro e aqueles que não fizeram o tratamento”, escreve o site ‘Sempre Questione?’. Hardin B. Jones completou o doutoramento em 1944 e 12 anos depois publicou um artigo na revista científica Transactions of the New York Academy of Sciences com o título “Considerações demográficas do problema do cancro”. Tendo em conta o conteúdo do artigo pode, de facto, tratar-se do mapeamento referido pelo site, o problema é que a descrição feita pelo site brasileiro “Sempre Questione?” não corresponde exatamente ao que Jones escreveu. Por um lado, o artigo do professor de Berkeley é uma análise de trabalhos anteriores e não um trabalho de investigação desenvolvido pelo próprio. Por outro, e mais importante, Jones não se refere especificamente à quimioterapia. Problemas cardíacos, infertilidade ou outro cancro. Como a ciência contorna os riscos dos tratamentos oncológicos O site continua com as alegadas conclusões de Jones: “Ele descobriu que os pacientes, em 97% dos casos, morriam da quimioterapia muito mais cedo e aqueles que se recusaram viveram até quatro vezes mais”. Também aqui se detetam problemas. Primeiro, a referência aos “97% de casos de cancro” não diz respeito ao artigo de Hardin Jones, mas a um artigo publicado na revista Clinical Oncology, em 2004 (com dados de 1998), escrito por outros autores — mas já lá vamos. Depois, não há nenhuma parte do artigo do professor de Berkeley que permita tirar esta conclusão: em lado nenhum está escrito que os doentes não tratados viveram mais quatro anos. Jones duvidava da eficácia dos tratamentos contra o cancro, mas não especificamente da quimioterapia, que em 1956 nem sequer era um tratamento padrão contra o cancro. No site, escreve-se: “O mais provável é que, em termos de esperança de vida, a probabilidade de sobrevivência não seja melhor com do que sem tratamento e há a possibilidade de que o tratamento possa fazer diminuir o tempo de sobrevivência dos casos de cancro”, escreveu Hardin B. Jones, em 1956, no artigo da revista científica Transactions of the New York Academy of Sciences. Dificilmente Jones se estaria a referir à quimioterapia porque, até aos anos 1960, os principais tratamentos contra o cancro eram a cirurgia e a radioterapia. E, mesmo agora, a quimioterapia é usada, muitas vezes, como um tratamento complementar (usado antes ou depois da cirurgia para remover o tumor, por exemplo) e não como tratamento principal — exceção feita aos cancros do sangue e medula, por exemplo. Os primeiros tratamentos de quimioterapia especificamente contra o cancro surgiram nos anos 1940 e destinavam-se a tumores do sangue. “Infelizmente, as remissões mostraram-se curtas e incompletas e esta perceção criou um ambiente de pessimismo que contaminou a literatura [científica] dos anos 1950”, escreveram Vincent T. DeVita Jr. e Edward Chu, no artigo “A História da Quimioterapia do Cancro”, publicada na revista científica Cancer Research, em 2008. No entanto, a investigação não parou e desde os anos 1990 a taxa de sobrevivência dos doentes com cancro tem vindo, globalmente, a aumentar. Depois de apresentar as alegadas conclusões do professor de Berkeley, é o próprio site “Sempre Questione?” a interrogar-se se ainda são válidas à luz dos tratamentos de hoje (tão diferentes de há mais de 40 anos), mas prefere considerar que sim. Uma ideia contrária àquela que é apresentada pela informação científica disponível. “Nos anos 1970, quatro em 10 mulheres diagnosticadas com cancro da mama sobreviviam além dos 10 anos, agora são oito em 10”, escreve o Cancer Research UK, na sua página oficial, dando um exemplo do sucesso dos tratamentos contra o cancro. O Cancer Research UK, enquanto instituto de investigação e divulgação sobre cancro, no Reino Unido, reuniu os 10 mitos sobre cancro mais frequentes na internet e o mito “os tratamentos contra o cancro matam mais do que curam” está nessa lista. A instituição assume que os tratamentos contra o cancro são agressivos, que os efeitos secundários podem ser difíceis de suportar e que, por vezes, o tratamento não resulta — sobretudo nas fases mais avançadas da doença —, mas também diz que são estes tratamentos que permitem eliminar os tumores ou, no mínimo, aumentar a esperança de vida dos doentes. “É importante ressaltar que num número crescente de casos os medicamentos funcionam. Por exemplo, mais de 96% dos homens curam-se, atualmente, de cancro do testículo em comparação com menos de 70% na década de 1970, em parte graças a um medicamento que ajudamos a desenvolver chamado cisplatina. Agora, três quartos das crianças com cancro são curadas em comparação com cerca de um quarto no final da década de 1960 — a maioria delas está viva hoje diretamente graças à quimioterapia”, exemplifica o Cancer Research UK. Para dar força ao argumento de crítica à quimioterapia, o site “Sempre Questione?” cita uma entrevista da “How stuff works?” com o oncologista N. Simon Tchekmedyian dizendo que foram feitos avanços limitados nas drogas de quimioterapia e que, na maior parte das vezes, a quimioterapia não faz nada de diferente do que fazia há umas décadas. O problema é que as referências à entrevista estão descontextualizadas e incompletas. Na entrevista, o médico e professor na Universidade da Califórnia (Los Angeles) admite que “não houve muitos avanços na quimioterapia convencional na última década” (e não nos últimos 40 ou 50 anos), mas acrescenta que “tivemos grandes avanços em áreas como a terapia biológica, incluindo anticorpos, terapia genética e uma variedade de outras coisas”. E ainda destaca que houve grandes avanços na diminuição dos efeitos secundários. “Raramente — se alguma vez — temos de receber um doente no hospital por causa dos efeitos secundários da quimioterapia.” Oito novos tratamentos contra o cancro explicados por três oncologistas. O segredo é reduzir e personalizar Antes de terminar a notícia, o site “Sempre Questione?” volta a citar Hardin Jones, que teria, alegadamente, dito que “o cancro é um negócio” e que as pessoas que mais lucram com os tratamentos não são os doentes, mas a indústria farmacêutica. E até partilha um vídeo com estas alegações. O problema é que a pessoa no vídeo não é Hardin Jones, que morreu em 1978, mas o naturopata Peter Glidden. É Glidden quem cita o “estudo dos 97%”, ao mesmo tempo que aproveita para vender as suas práticas de naturopatia. O dito estudo é o artigo publicado na revista Clinical Oncology e sobre ele recaem dois problemas: a forma como foi feito e a interpretação que tem sido dada pelos grupos que se manifestam contra os tratamentos médicos convencionais. A equipa de Graeme Morgan, médico no Centro de Cancro no Norte de Sydney (Austrália), considera que a quimioterapia só acrescenta um benefício de 2-3% na sobrevivência a cinco anos — a somar aos 60% dos casos que sobrevivem ao cancro na Austrália. Ou seja, a quimioterapia ajuda 2-3% dos 40% dos casos que, à partida, não sobreviveriam ao cancro. Mas o que tem sido veiculado pelos grupos anti-quimioterapia é que apenas 2-3% das pessoas sobrevivem ao cancro quando sujeitos a quimioterapia. A interpretação está, claramente, errada, mas o estudo já tinha problemas antes disso. Na mesma revista, um grupo de investigadores do Centro de Cancro Peter MacCallum (Austrália) publicou um comentário em que critica o artigo da equipa de Graeme Morgan. Primeiro, porque inclui no estudo doentes a quem nunca seria aconselhado um tratamento de quimioterapia; depois, porque deixa de fora cancros, como a leucemia, para os quais a quimioterapia é o tratamento recomendado e cuja taxa de sucesso é elevada. Entre estas e outras falhas, os autores do comentário consideram que a “abordagem subestima a contribuição da quimioterapia para o tratamento de doentes com cancro”. Logo, as conclusões do artigo dão uma ideia errada da verdadeira contribuição da quimioterapia para a sobrevivência dos doentes. “Parece desenhado intencionalmente para deixar de fora os tipos de cancro para os quais a quimioterapia fornece mais benefícios e usou exclusivamente a sobrevivência a cinco anos, negligenciando completamente que em alguns cancros comuns (como o cancro da mama) a quimioterapia previne recidivas tardias [até aos 10 anos ou depois]”, diz David H. Gorski, oncologista no Instituto do Cancro Barbara Ann Karmanos, no site Science Based Medicine. Conclusão O texto divulgado pelo site “Sempre Questione?” apresenta várias falhas: o trabalho de Hardin Jones não é recente; as conclusões que lhe são atribuídas não são do próprio; e são usadas declarações de outra pessoa como se do professor de Berkeley se tratasse. Mas o ponto principal é que, com a confusão criada e os trabalhos científicos de baixa qualidade citados, acaba por se passar a ideia de que a quimioterapia mata mais do que trata — e essa informação está, claramente, errada. Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é: Errado No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é: FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos. Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.
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