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| - A mensagem deixada na publicação do Facebook é simples: “Viva Ucrânia.” O conteúdo que nos leva a esta verificação é, no entanto, o das imagens partilhadas: textos em inglês onde a embaixadora dos Estados Unidos na Ucrânia, Bridget Ann Brink, é apresentada como tendo sido presa depois de cometer um crime de traição. Antes de avançarmos convém esclarecer já que o governo norte-americano negou estas acusações e confirmou que a embaixadora não tinha sido presa. A informação é, portanto, falsa.
A publicação do utilizador que indica residir em Évora é composta por imagens de um vídeo partilhado no Rumble (uma plataforma de partilha de vídeos canadiana), cujo texto foi originalmente publicado no site Real Raw News, um site apontado por várias instituições internacionais como produtor de conteúdos falsos.
A informação contida neste site destina-se a fins informativos e educativos e de entretenimento. Este site contém humor, paródia e sátira. Incluímos esta exoneração de responsabilidade para nossa proteção, de acordo com o aconselhamento jurídico”, lê-se na página de apresentação.
A embaixadora não foi presa
O autor do site descreve que Bridget Ann Brink teria sido detida no dia 8 de outubro de 2022 e acusada de traição por entregar em mãos e de forma clandestina dinheiro a altos funcionários ucranianos. O Departamento de Estado, por sua vez, negou que a embaixadora tivesse sido presa, de acordo com a informação fornecida à agência de notícias The Associated Press: “Isto é falso. A embaixadora dos Estados Unidos na Ucrânia não foi detida.”
Na data em que o site indica que teria sido detida na Califórnia, a embaixadora encontrava-se na Ucrânia. Na segunda-feira depois da alegada detenção, Bridget Brink, enquanto embaixadora norte-americana em Kiev, esteve reunida com o Presidente ucraniano e manteve a sua atividade profissional nos dias seguintes.
???????? Undaunted. Слава Україні!
???????? Непохитні. Слава Україні! pic.twitter.com/z2hiIVrhiE
— Ambassador Bridget A. Brink (@USAmbKyiv) October 10, 2022
Depois, a publicação descreve a Ucrânia como um “país conhecido por albergar pedófilos e cientistas de armas biológicas”. Duas linhas de argumentação usadas pela propaganda russa e os movimentos de desinformação vindos daquele país. E que, no caso das armas biológicas, foram amplificadas pela Fox News ao deturpar as declarações da subsecretária de Estado, Victoria Nuland.
As afirmações relacionadas com os cientistas ucranianos e as armas biológicas, por exemplo, já haviam sido verificadas anteriormente, incluindo pelo Observador, em março deste ano. Apesar das acusações russas (já antigas) contra a Ucrânia e outros países da antiga União Soviética, não foram encontradas quaisquer provas de que tais laboratórios existam em solo ucraniano (ou noutros países), nem que o governo americano os financie.
O que os Estados Unidos financiam na Ucrânia, por exemplo, são laboratórios de diagnóstico e biodefesa, como reportou o jornal The New York Times. Mais, os documentos apresentados pela Rússia como “prova” não provam nada disso, afirmaram 10 biólogos russos que analisaram o documento (apoiados por centenas de signatários), citados pelo jornal The Intercept.
Fact Check. Existem laboratórios de armas biológicas em Azovstal?
Em relação à pedofilia, não é possível negar que exista violência sexual contra crianças no país, mas a acusação pode ter uma outra leitura: a retórica homofóbica usada pela propaganda russa. Quem se manifesta a favor da Europa e contra o regime do Kremlin é assim contra os valores conservadores russos de família e religião, os manifestantes pró-democracia são classificados de homossexuais pela propaganda russa (independentemente da orientação sexual), que também associa a homossexualidade à pedofilia. Vale a pena lembrar que a pedofilia não depende da orientação sexual e que se trata de um distúrbio psiquiátrico.
O site cria notícias falsas
A publicação da Real Raw News descreve como a embaixadora teria sido detida, numa operação que mais se assemelha a um rapto: Bridget Ann Brink estaria a dormir na casa da família, na Califórnia, foi algemada, a boca tapada com fita adesiva e colocada num carro civil (descaracterizado). A história continua afirmando que Joe Biden teria autorizado (sem a aprovação do congresso) o envio de milhares de milhões de dólares, desviados dos cofres do Estado através de offshores controladas pela agência de inteligência CIA, para a Ucrânia. O dinheiro teria seguido em maços de notas de 100 dólares, embrulhados em celofane, num avião de carga.
A posição do criador do site torna-se clara quando o governo do Presidente Joe Biden é classificado de “regime criminoso”. O site foi mesmo cancelado pela Google exatamente por contestar os resultados das eleições presidenciais norte-americanas de 2020.
A página foi lançada em abril de 2020 e começou a publicar em dezembro desse ano, as publicações são escritas como se se tratasse de notícias e os títulos são sensacionalistas e facilmente se tornam virais. Depois de verificar várias informações falsas do site, o PolitiFact (do Instituto Poynter) decidiu investigar a página e quem estava por trás dela. A página era gerida por Michael Baxter (pseudónimo de Michael Tuffin), único autor de todos os textos. O mesmo autor, que se apresenta como antigo jornalista e professor de Inglês, tem criado várias outras páginas e canais de YouTube que promovem teorias da conspiração e notícias falsas — como afirmar que Hillary Clinton morreu e que o que vemos na televisão é uma imagem criada por computador.
Conclusão
A informação, apresentada sob a forma de notícia, que indica a deteção da embaixadora dos Estados Unidos na Ucrânia, Bridget Ann Brink, por traição é falsa. O Observador e outros órgãos de comunicação social não encontraram qualquer prova das alegações apresentadas na publicação, relacionadas com a detenção, com o desvio de dinheiro dos cofres norte-americanos e com os laboratórios de armas biológicas na Ucrânia.
O site que publicou inicialmente a história e o seu criador são conhecidos por divulgarem notícias falsas e teorias da conspiração, que são replicadas em várias plataformas diferentes alcançando um número elevado de utilizadores. Os conteúdos desta página já foram bloqueados anteriormente pelo Facebook e pela Google.
Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de factchecking com o Facebook.
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