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| - Faz o que eu digo, não faças o que eu faço. O ditado é velho e, agora, a Internet está a vesti-lo a Jair Bolsonaro, que sempre criticou com ferocidade a corrupção mas que, afinal de contas, parece ter-se servido dela, quando era militar.
“Por que Bolsonaro se aposentou do Exército com atestado de insanidade mental, aos 33 anos, e agora pode assumir a presidência do Brasil? Ele ficou curado? Ou o atestado era falso?”; “Jair Bolsonaro se aposentou com 33 anos de idade, após apenas 15 anos de contribuição e tem rendimentos de Capitão de cerca de 10 mil reais até hoje”. Estas são apenas duas das muitas reações de indignação que circulam, neste momento, nas redes sociais, depois de uma denúncia que dá como certo o presidente do Brasil ter-se reformado do Exército com apenas 33 anos, utilizando, para isso, um atestado de incapacidade mental que é provavelmente falso.
Se Jair Bolsonaro o tivesse feito, não seria o primeiro nem, com certeza, o último militar a fazê-lo. Mas a teoria borrega logo no passo inicial da verificação. Uma pesquisa no Google por “Bolsonaro reforma 33 anos atestado”, não apresenta qualquer link, sobre o caso, que redirecione para um órgão de comunicação social confiável. Não é de estranhar, tendo em conta que as publicações que lançam o alarme no Facebook não apresentam, regra geral, qualquer fonte.
Portanto, a informação que circula nas redes sociais e que continua, a cada minuto que passa, a indignar muitas pessoas, é falsa. O site de verificação de notícias “boatos.org” avança que na origem do boato podem estar três acontecimentos distintos que, juntos, parecem ter criado a ferramenta perfeita para descredibilizar o presidente do Brasil.
O primeiro acontecimento relaciona-se com a polémica em que Bolsonaro se viu envolvido, enquanto militar, depois de ter sido alvo de um processo disciplinar, no seguimento da publicação de um artigo na revista Veja, em 1986. Lá, reivindicava o aumento de salários para os militares. Foi condenado a 15 dias de prisão, a história não teve mais desenvolvimentos, e a vida de Bolsonaro no Exército prosseguiu.
Um ano depois, a mesma revista publicou uma reportagem que garantia que Bolsonaro estava a preparar um atentado num quartel. Nessa altura, o militar tinha 33 anos, mas o tribunal acabou por absolvê-lo e, naturalmente, não foi expulso do Exército.
O terceiro acontecimento relaciona-se com a saída das forças armadas, que aconteceu já em 1989, quando foi eleito vereador do Rio de Janeiro. À semelhança do que acontece com os militares portugueses, Bolsonaro foi para a reserva depois de ser eleito. Estar na reserva implica que o militar continue a ser remunerado. Porém, também significa que o militar poderá ser chamado, a qualquer momento, para defender o país. Por isso não se trata de uma reforma.
Em conclusão, Bolsonaro não está reformado do Exército, mas sim na reserva; aos 33 anos teve, efetivamente, um percalço no percurso militar que, ainda assim, não implicou qualquer saída; sobre o atestado, ou a sua eventual falsidade, não parece haver qualquer relação, mesmo que fraca, com a realidade. Felizmente, para os apoiantes, infelizmente, para os opositores.
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