schema:text
| - “Segundo Cavaco Silva, o PSD devia entender-se com o Chega. É uma opinião legítima, entenda-se, mas que surpreende um total de zero pessoas, excepto as que estiveram hermeticamente fechadas numa arca criogénica nos últimos 40 anos”, começa por escrever o autor da publicação, partilhada no Facebook a 20 de dezembro de 2021.
O post enumera depois várias ações do antigo Presidente da República que levam o autor a concluir que a defesa de uma coligação com o Chega não é imprevista: “Falamos do mesmo Cavaco que se sentia perfeitamente integrado no regime fascista, política e moralmente abonado por três fascistas no exercício de funções. O mesmo Cavaco que recusou uma pensão a Salgueiro Maia e atribuiu a dois inspectores da PIDE, António Augusto Bernardo e Óscar Cardoso. O mesmo Cavaco que boicotou Saramago por motivos ideológicos. O mesmo Cavaco que apelidou o 10 de Junho de “dia da raça”. O mesmo Cavaco que votou contra a resolução da ONU, aprovada por esmagadora maioria, em 1987, que exigia a libertação imediata de Mandela. The list goes on, pelo que não existe surpresa alguma em ver Cavaco do lado dos neosalazaristas. A única surpresa é não ter sido ele a fundar o Chega. Ou ter assentado arraiais num partido de centro-direita com designação oficial de ideologia de centro-esquerda. Isso sim, surpreende.”
O Polígrafo encontrou várias publicações no Facebook que mostram o mesmo frame da suposta entrevista ao “Observador”, todas partilhadas entre o fim de dezembro de 2021 e janeiro de 2022, ou seja, depois de terem sido marcadas as eleições legislativas de 30 de janeiro.
“Cavaco quer uma aliança PSD/CHEGA. Cavaco tem razão assim junta gatunos com ladrões, porque no tempo do Cavaquismo era só gatunos!”; “Ups… a múmia acordou e já alinhou a estratégia do PSD”; “Inacreditável! A múmia do PSD não só admite acordos com o Chega, como afirma que é a “melhor solução”! Já sabemos com o que contamos”, pode ler-se nos vários posts que dão a entender que Cavaco Silva está a referir-se às legislativas.
Mas será que o antigo líder social-democrata defendeu uma coligação com o Chega?
O frame da peça do Primeiro Jornal da SIC que está a ser partilhado nas redes sociais é verdadeiro. Trata-se de um excerto de uma entrevista cedida pelo antigo Presidente ao programa “Sob Escuta” da “Rádio Observador”, que pode ver aqui. A entrevista data de 17 de dezembro de 2020, dois meses depois de se terem realizado as eleições regionais nos Açores.
Questionado sobre se a solução regional encontrada pelo PSD – de subir à governação em coligação com o CDS-PP e o PPM e com os acordos de incidência parlamentar com o Chega e o Iniciativa Liberal – era preferível a ter tido uma continuação de um governo socialista nos Açores, Cavaco Silva garantiu: “Não tenho a mínima dúvida.”
“Não conheço o [José Manuel] Bolieiro, mas as informações que me chegam são extremamente positivas. Não tenho um conhecimento aprofundado desta política açoriana, mas tenho uma confiança muito forte de que é um contributo para a melhoria do funcionamento da vida democrática dos Açores, temos de aguardar…”, prosseguiu.
O entrevistador questionou novamente: “Mesmo com este polémico apoio do Chega, que foi necessário?
“Bem, esse foi entendimento que, nos Açores, foi encontrado por parte do líder do PSD, não quero criticá-lo por isso. Acho que não o devemos criticar por isso. Ele conhece melhor os Açores, muito melhor do que qualquer um que o criticou por ter formado Governo. A realidade dos Açores é muito desconhecida por alguns que aqui criticaram a opção do agora Presidente do Governo Regional (…) Não tenho dúvidas, quanto à afirmação que faço, de que era tempo de mudar”, garantiu Cavaco.
Ora, algumas das publicações que estão agora a ser partilhadas, a propósito das eleições legislativas de 30 de janeiro, têm o claro intuito de descontextualizar as declarações de Cavaco Silva, que remontam ao final de 2020, quando este justificava e defendia a solução de governação encontrada à direita, no Governo Regional dos Açores.
__________________________________________
Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falta de contexto: conteúdos que podem ser enganadores sem contexto adicional.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
|