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| - Apesar de milhões de pessoas, em todo o mundo, todos os dias, fazerem o conhecido teste da zaragatoa, para diagnóstico da Covid-19, uma onda de publicações nas redes sociais garante que a prática envolve um risco elevado para o organismo humano: “Sabe o ‘cotonete’ que usam para testar Covid? O local em que se ‘obtém uma amostra’ para o teste Covid-19 é chamado de barreira cerebral de sangue. É uma única camada de células que protege o cérebro (…) Se, de alguma forma, a sua barreira hematoencefálica estiver comprometida, ela tornar-se-á uma ‘barreira hematoencefálica com vazamento’, que é um cérebro inflamado! De seguida, permite que bactérias e outras toxinas entrem no seu cérebro e infetem o tecido cerebral, o que pode levar à inflamação e, por vezes, à morte”.
Sobretudo para os leigos na matéria, e tendo em conta que o teste é doloroso para muitas pessoas, o raciocínio parece fazer sentido e dar alguma razão ao provérbio popular ‘não se morre da doença, morre-se da cura’.
No entanto, será que é mesmo verdade que a inserção da zaragatoa através do nariz para diagnosticar a infeção pelo novo coronavírus pode causar a inflamação do cérebro e, no limite, levar à morte?
A resposta é não, tal como também comprovou a plataforma brasileira de verificação de factos “Aos Fatos”.
O Polígrafo contactou Henrique Veiga-Fernandes, imunologista e investigador na Fundação Champalimaud, que é peremptório na avaliação do caso: “Essa alegação de que a recolha com zaragatoa poderá causar infeção no cérebro, eventualmente a morte, é obviamente falsa“.
O cientista explica que “a zaragatoa tem contacto com uma mucosa, uma superfície do corpo com ligação ao exterior, essencialmente respiratória. Na superfície dessa mucosa estão células do aparelho respiratório. É essa zona que é tocada por uma zaragatoa. Porque é que é uma zona incómoda? Porque tem bastante enervação. A zaragatoa é um instrumento médico totalmente acético que só é utilizado num indivíduo e não causa qualquer risco de infeção“.
Quanto à violação da barreira hematoencefálica pelo cotonete gigante durante a colheita de secreções, Veiga-Fernandes deixa claro que “essa barreira nem se localiza na zona onde é feita a recolha. Na realidade não tem uma localização anatómica específica, mas tem a ver com o facto de, no cérebro, todos os vasos sanguíneos terem uma estrutura diferente do resto do corpo, porque têm um outro tipo de células que envolvem os vasos que têm de controlar o tipo de substâncias que chegam ao órgão. Ou seja, há uma proteção acrescida. É uma barreira que não deixa passar substâncias com um certo tamanho ou com determinadas propriedades químicas. Portanto, jamais haverá um risco de ser comprometida num procedimento de diagnóstico com uma zaragatoa”.
O investigador da Fundação Champalimaud conclui que “a zaragatoa é inserida no nariz ou na boca e não consegue alcançar a barreira hematoencefálica. Anatomicamente é bastante diferente, está longe do cérebro. Não há qualquer possibilidade de comunicação”.
Como tal, é falsa a alegação de que o teste de diagnóstico à Covid-19 pode causar inflamação no cérebro e, em casos limites, a morte. No plano científico é consensual que o procedimento, utilizado em todo o mundo, é seguro e absolutamente recomendado.
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Avaliação do Polígrafo:
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