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| - Não há provas de que funcionários do governo americano trabalharam no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) durante as eleições de 2022. Autor da peça de desinformação, o blogueiro foragido Allan dos Santos distorce uma declaração de Mike Benz, conspiracionista e ex-secretário do presidente Donald Trump, para sugerir uma suposta influência da agência humanitária Usaid no pleito brasileiro.
Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam centenas de curtidas no Instagram e de compartilhamentos no Facebook até a tarde desta quinta-feira (20). Os posts também circulam no Threads.
Agora nós temos documentos oficiais do governo dos EUA. Gente da administração dos EUA trabalhando no TSE no BRASIL. XANDÃO já teria que estar PRESO. Allan dos Santos pede união da direita sobre a Usaid.
Não há provas de que funcionários da administração do ex-presidente americano Joe Biden tenham trabalhado no TSE durante as eleições de 2022, como afirma Allan dos Santos em vídeo. O blogueiro atribui a declaração ao ex-secretário de Trump Mike Benz. Aos Fatos não encontrou declarações públicas de Benz sobre o caso.
A declaração enganosa de Santos foi feita um dia após a participação de Benz no podcast War Room, do ex-estrategista de Trump Steve Bannon, em 4 de fevereiro. Em nenhum momento, o ex-funcionário do Departamento de Estado americano confirmou ou apresentou provas de uma suposta contratação de membros do governo dos Estados Unidos pelo TSE.
Benz, no entanto, disseminou outras teorias conspiratórias sobre a atuação do governo americano no Brasil. Ele alegou, sem provas, que a Usaid teria gasto “dezenas de milhões de dólares dos contribuíntes americanos” para pressionar o Congresso brasileiro a aprovar leis contra desinformação e censurar políticos de direita, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Como explicou Aos Fatos, no entanto, nenhuma lei de combate à desinformação foi aprovada no Brasil nesse período — o que impediria, portanto, a suposta atuação do Legislativo contra a campanha de Bolsonaro. Além disso, não há registros de que o ex-presidente tenha sido impedido de publicar nas redes em qualquer momento.
Aos Fatos procurou o TSE para pedir um posicionamento sobre a acusação, mas não obteve retorno até o momento. A lista de funcionários do tribunal pode ser conferida aqui.
A reportagem também solicitou informações ao canal Timeline, mas também não recebeu resposta.
Usaid e TSE. Em busca no portal oficial do governo americano, Aos Fatos não encontrou nenhum registro de que o TSE tenha recebido qualquer tipo de auxílio financeiro da Usaid ao longo de 2022.
Em maio de 2021, o tribunal promoveu, em parceria com a agência, o lançamento de um Guia de Combate à Desinformação elaborado pelo Cepps (Consórcio para Eleições e Fortalecimento do Processo Político).
Em dezembro do mesmo ano, a corte, representada por seu então presidente Luís Roberto Barroso, participou do evento “Eleições e a transformação digital”, promovido pela Cepps e pela Usaid, que tratou sobre o fortalecimento da democracia e o combate às ameaças digitais.
Conspiração. Desde o anúncio sobre o desmanche da Usaid, promovido por Trump e por Elon Musk no início de fevereiro, diversas teorias conspiratórias e mentiras envolvendo a agência começaram circular nas redes.
Aos Fatos desmentiu algumas delas, como a alegação de que a agência humanitária teria enviado dinheiro à Smartmatic, empresa britânica que teria sido responsável pela contagem de votos no Brasil, e que a organização teria financiado uma revista em quadrinhos no Peru com personagens trans.
O caminho da apuração
Aos Fatos analisou a entrevista de Mike Benz, citado nas peças enganosas, e constatou que em nenhum momento o ex-funcionário do Departamento de Estado americano mencionou a alegação.
A reportagem ainda pediu informações à revista Timeline sobre os documentos citados por Allan dos Santos e um posicionamento do TSE sobre as acusações. Em ambos os casos, não obtivemos retorno.
Por fim, contextualizamos as teorias conspiratórias sobre a Usaid que têm circulado nas redes com base em reportagens anteriores.
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