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| - “Sticky Fingers”, editado em 1971, foi o nono álbum de estúdio dos Rolling Stones e carregava um peso histórico e simbólico único. Foi o primeiro disco que editaram na década de 70 do século passado; o primeiro com a etiqueta “Rolling Stones Records”, depois das ligações à Decca Records e à London Records; foi o primeiro em que Mick Taylor – guitarrista que substituiu o fundador Mick Jones após o seu afastamento – participou do princípio ao fim; e a famosa língua surgia pela primeira vez impressa, na capa interior do disco.
Ao nível artístico e criativo, não foi o famoso logo dos Stones o que mais marcou esta edição. Sem conseguir ofuscar o peso que ainda hoje aquela peça de design tem – é uma das imagens de t-shirt mais populares, mas já lá vamos – o protagonismo de “Sticky Fingers” vai, além das canções, claro (“Brown Sugar”, “Wild Horses” e “Can´t You Hear Me Knocking” fazem parte do alinhamento), para o trabalho criativo de Andy Warhol e a sua equipa. A capa do disco tem a sua assinatura e é-lhe atribuída a ideia de colocar um fecho verdadeiro na capa, sobre a foto de umas calças de ganga justas que, quando puxado, permite ver a roupa interior. Uma produção demasiado dispendiosa para sobreviver à primeira edição. As seguintes resignaram-se às duas dimensões e tinham apenas a fotografia, sem qualquer adereço adicional.
Mais perene que o fecho foi o logo que acabaria por imortalizar-se. E é aqui que introduzimos Jon Pasche, então um jovem com 24 anos a estudar no exclusivo Royal College of Art. A editora dos Stones pediu àquela conceituada escola para sugerir um estudante que pudessem desafiar para desenvolver o poster da digressão europeia de 1970. Uma curiosidade adicional: foi dali, do Royal College of Art, que já tinha saído a capa do disco “The Dark Side of The Moon”, dos Pink Floyd.
O trabalho de Pasche agradou ao agente dos Stones e à banda e o jovem designer foi desafiado para pensar num logótipo que pudesse ser usado em papel de carta e outros formatos de comunicação da banda, uma história que relata com detalhe numa entrevista ao Victoria and Albert Museum, depois deste museu londrino ter adquirido os originais do famoso logo.
Citado pelo The Guardian, Jon Pasche recorda o momento em que Mick Jagger lhe passou “uma imagem de Kali, a deusa hindu, de que ele gostava muito. A Índia estava muito na moda naqueles tempos, mas achei que algo naquela linha poderia ficar datado muito rapidamente.” O designer procurava algo “anti-autoridade, mas acho que a ideia da boca surgiu quando encontrei Mick Jagger pela primeira vez, nos escritórios dos Stones. Entrei numa espécie de sala de administração com as paredes forradas a madeira e ali estava ele. Cara a cara com ele, a primeira coisa em que reparamos é na dimensão da sua boca e dos lábios.”
Na entrevista que concedeu ao Victoria and Albert Museum, Pasche confessa que não foi Jagger que determinou o seu trabalho “inicialmente, mas pode ter tido influência ao nível do inconsciente.” O relato do primeiro encontro deixa isso bem evidente.
Duas semanas após o pedido de desenvolvimento do logo, Pasche entregou a versão final a Mick Jagger – aquela que foi adquirida pelo museu londrino -, este partilhou-a com os restantes elementos da banda e a aceitação foi unânime.
O designer recebeu as 50 libras acordadas pelo trabalho e os Rolling Stones ganharam uma imagem de marca que perdura e tem um valor incalculável. Percebendo o valor do que tinham em mãos, em 1984 decidiram adquirir todos os direitos de autor daquela imagem, tendo pago a Pasche 26 mil libras, de acordo com o “The New York Times”. Pasche voltaria a aumentar a sua conta bancária à custa da famosa língua em 2008, quando o Vistoria and Albert Museum lhe entregou 50 mil libras em troca dos desenhos originais, escreve o “The New York Times”.
Os direitos de autor continuam a render, ainda hoje. A famosa imagem é frequentemente utilizada em diversos artigos, nomeadamente em t-shirts. Uma sondagem realizada em 2018 no Reino Unido e que contactou 2 mil adultos concluiu, escreveu o Independent, que aqueles lábios e aquela língua vermelhos são as imagebns de t-shirt mais icónicas de todos os tempos, ultrapassando Che Guevara, que surgiu na segunda posição, ou o Hard Rock Cafe, em terceiro.
Avaliação do Polígrafo:
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