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| - Esta segunda-feira, 6 de fevereiro, Luís Montenegro falou sobre o incêndio que deflagrou num prédio na Mouraria que provocou dois mortos e vários feridos. O líder do PSD defendeu a responsabilização do Executivo de António Costa em relação ao sucedido e deixou apelos diretos ao Governo: “Não meta a cabeça na areia e encare de frente esta temática [da imigração].”
Reiterou a necessidade de “fiscalização” e “planeamento” e lembrou a recente rejeição do projeto-lei do PSD para a criação de um programa nacional de atração de imigrantes. “Eu lamento profundamente que o Partido Socialista e o Governo não tivessem aproveitado o impulso do maior partido da oposição e não se tivessem colocado ao nosso lado na promoção de um programa transversal e universal para sabermos quem é que precisamos e queremos em Portugal e para podemos acolher e integrar esses colaboradores do nosso desenvolvimento”, afirmou Montenegro.
Nas redes sociais, a declaração está a ser destacada, sendo notada a utilização da expressão “colaboradores”. Numa montagem em vídeo que circula no Twitter, as palavras do líder social-democrata estão a ser colocadas lado a lado com afirmações de André Ventura sobre a temática da imigração. E afirma-se: “A única diferença entre Dupont e Dupont era o formato do bigode. Descubra as diferenças entre Montenegro e Ventura.”
Foi recuperada a seguinte alegação do líder do Chega na Assembleia da República: “Que imigração queremos para Portugal? Precisamos ou não de imigração? Precisamos! Mas devemos ser capazes de fazer uma reflexão sobre o tipo de imigração que queremos.” O excerto pertence a uma intervenção de Ventura na reunião plenária de 6 de maio de 2021 sobre a polémica que envolvia o complexo do Zmar e a requisição civil do mesmo, no período mais crítico da pandemia no concelho de Odemira.
No entanto, na montagem analisada, é omitido o seguimento deste discurso. A seguir, Ventura classificou a imigração islâmica como um “perigo para Portugal”, bem como referiu que países como a Suécia e a Alemanha viram a taxa de crimes sexuais aumentar devido à entrada de islâmicos nos países. Esta declaração mereceu protestos das bancadas à esquerda, sendo audíveis palavras como “mentiroso” ou “fascista”.
Ou seja, denota-se desde logo que o excerto utilizado nesta comparação foi cortado de modo a suprimir a principal ideia defendida por André Ventura nesta ocasião, de cariz radical e assumindo uma posição xenófoba em relação à comunidade islâmica. Existe, de facto, uma semelhança evidente entre as expressões utilizadas pelos dois líderes partidários nos discursos, mas o contexto em que as proferem são também eles completamente diferentes.
Mais, o projeto de lei apresentado pelo PSD no Parlamento, que visava a criação de um programa nacional de imigração, foi rejeitado e duramente criticado pelo Chega, que o equiparou às propostas do Bloco de Esquerda. Ventura disse ter ficado confuso com a marcação deste debate por parte do PSD – “achei que era do BE” – e desafiou o partido a dizer se concorda ou não com a fixação de quotas por áreas profissionais. “Para bem da direita, do futuro de qualquer alternativa, é importante que se esclareça isso. Nós não nos coligamos com partidos semelhantes ao BE, connosco não contarão em nenhuma solução de Governo”, avisou o líder do Chega.
Assim, é facto que um vídeo que reúne declarações de André Ventura e de Luís Montenegro sobre a política de imigração portuguesa evidencia semelhanças no discurso de ambos em relação à necessidade de “escolher” os imigrantes que “queremos e precisamos”.
No entanto, Montenegro di-lo no recente contexto do incêndio numa habitação precária que vitimou dois cidadãos estrangeiros, e associa esta necessidade a um programa de planeamento da imigração apresentado pelos sociais-democratas. Por sua vez, as declarações de Ventura têm quase dois anos e foram proferidas a propósito da ocupação [requisitada pelo Estado] de um complexo turístico por imigrantes em Odemira durante a pandemia. Depois de se referir à necessidade de selecionar quem entra no país, assumiu-se mesmo contra a imigração islâmica. Ou seja, os dois discursos são apresentados sem o devido contexto.
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Avaliação do Polígrafo:
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