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| - A 21 de março deste ano eram conhecidos, pela primeira vez, os resultados positivos da TAP, que apresentou lucros de 65,6 milhões de euros em 2022. No ano anterior, os prejuízos tinham sido na ordem dos 1,6 mil milhões de euros, o que motivou uma avaliação positiva por parte de Christine Ourmières-Widener, a CEO da empresa, que atribuiu este desempenho aos “fortes resultados operacionais, pelo efeito positivo da política de cobertura cambial implementada, pelas medidas de reestruturação implementadas no Grupo e pelo reconhecimento de impostos diferidos referentes a prejuízos fiscais”.
Visão ligeiramente distinta tem o deputado liberal Bernardo Blanco que, na última segunda-feira à noite na SIC Notícias, em debate com Carlos Pereira, o deputado do PS que reuniu com a CEO da TAP na véspera da sua audição no Parlamento, dividiu os lucros da companhia em duas fatias: benefícios fiscais e cortes salariais.
“Ao contrário das outras companhias, que receberam dinheiro e já o devolveram ou começaram a devolver, a TAP não devolveu nada nem vai devolver, já admitiu. Além disso, os resultados deste ano, metade daquele ‘lucro’ é benefício fiscal (…) e a outra metade tem que ver com cortes dos trabalhadores. Disseram que não iam despedir ninguém e, de repente, mais de um terço das pessoas já saíram”, argumentou o liberal.
Esta análise, que peca por ser simplista, não está, porém, totalmente errada. É verdade que quase metade do lucro de 2022 da TAP resulta de efeitos fiscais, mais precisamente os 31,7 milhões de euros obtidos em imposto sobre o rendimento. A este montante, divulgado no relatório de contas entregue pela TAP à CMVM, deve somar-se o resultado antes de impostos, que chega aos 33,9 milhões de euros.
Para chegar a este valor, disse Alexandra Reis a 5 de abril, no Parlamento, ajudaram os cortes salariais que a empresa levou a cabo nos últimos anos. Sem apontar um número específico, a ex-administradora atirou para o ar umas “várias dezenas de milhões de euros”, um montante que terá assim ajudado aos lucros finais da companhia.
A verdade, porém, é que o documento entregue pela TAP contorna esta situação: na categoria “custos com pessoal”, a companhia revela ter gasto mais em 2022 do que em 2021, num aumento de 373 milhões para 417 milhões de euros, ou seja, de 11,6%. Ainda assim, é inegável que a TAP tem prescindido de numerosos funcionários e que, depois dos despedimentos coletivos, tem tentado resolver o problema. Mas não com muito sucesso: em 2022, a companhia conseguiu aumentar o quadro de pessoal para os 6.988 trabalhadores, mais 362 do que em 2021, mas menos 2.018 do que em 2019, antes da pandemia de Covid-19.
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Avaliação do Polígrafo:
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