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| - “Ontem recorde da Gronelândia -62.4ºC. Se fosse num deserto americano com um valor de +50ºC, teria sido difundido em toda a comunicação social, várias vezes”, lê-se numa publicação no Facebook, datada de 1 de fevereiro de 2022.
Exibe a imagem de um mapa meteorológico, sem que seja feita qualquer referência à sua origem ou à fonte da informação do registo de uma temperatura mínima inédita neste território dinamarquês.
Em primeiro lugar, o recorde mencionado nesta publicação é falso. Ainda que se tivesse registado tal temperatura (os tais -62.4ºC), esta não seria a mais baixa de sempre neste local.
De acordo com a Organização Meteorológica Mundial, no dia 22 de dezembro de 1991, uma estação meteorológica automática na Gronelândia assinalou a temperatura de -69,6°C (-93,3°F). Este é o registo da temperatura mais baixo de sempre no Hemisfério Norte.
“Este registo de temperatura foi descoberto após quase 30 anos por ‘detetives climáticos’ com o Arquivo de Clima e Extremos Climáticos. Ele eclipsa o valor de -67,8°C registrado nos locais russos de Verkhoyanksk (fevereiro de 1892) e Oimekon (janeiro de 1933)”, informa-se num artigo da organização.
Segundo a mesma fonte, o recorde de temperatura mais baixa do mundo é de -89,2° C (-128,6 ° F). Foi registado pela estação meteorológica de altitude Vostok na Antártida, no dia 21 de julho de 1983. Portanto, é claramente falso que a temperatura indicada na publicação constitua um recorde mínimo na Gronelândia.
Mas importa também analisar a premissa que envolve a publicação. O autor afirma que se esta notícia fosse de “um deserto americano com um valor de +50ºC”, teria tido visibilidade nos meios de comunicação social. Ou seja, sugere que a atenção mediática está voltada para o aquecimento global, numa tentativa de desvalorizar o fenómeno.
Ao Polígrafo, Francisco Ferreira, presidente da ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável, questionado sobre se é errado utilizar o argumento de que o registo de temperaturas muito baixas em determinados locais prova que o aquecimento global não existe, explica que, neste contexto, “o relevante é o conjunto de medições de temperaturas à escala global“.
O ambientalista destaca as conclusões do relatório sobre mudanças climáticas do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC). No documento, afirma-se que “cada uma das últimas quatro décadas foi sucessivamente mais quente do que qualquer década que a precedeu desde 1850”.
O mesmo relatório estima que as atividades humanas tenham causado “cerca de 1,0°C de aquecimento global acima dos níveis pré-industriais, com uma variação provável de 0,8°C a 1,2°C”. E prevê que “o aquecimento global atinja 1,5°C entre 2030 e 2052, caso continue a aumentar no ritmo atual“.
“Ou seja, olhando para a temperatura global á superfície, há um aumento entre 0,99 e 1,10 graus Celsius. Fazendo uma analogia, tal como não é um andorinha que faz a Primavera, não é um local poder estar mais frio num determinado ano que pode ser utilizado na argumentação de que não está a haver aquecimento global”, aponta Francisco Ferreira.
Segundo o responsável da ZERO, importa também notar que “as alterações climáticas decorrentes do aquecimento global originam eventos meteorológicos extremos que podem ser ondas de calor ou também ondas de frio e recordes de temperaturas baixas em determinadas circunstâncias; mais um vez o que é preciso é fazer uma análise das médias e das tendências e globalmente essas são de um aquecimento generalizado”.
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Avaliação do Polígrafo:
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