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  • “Ivar Giaever, prémio Nobel da Física, nega a farsa das alterações climáticas produzidas pelo homem”, anuncia-se numa publicação no Facebook, de 15 de junho, que inclui um vídeo do cientista a negar o aquecimento global. O autor da publicação resume as principais ideias: “o aquecimento global é uma farsa, as mudanças climáticas são de origem natural, o CO2 [dióxido de carbono] é muito bom para o crescimento das plantas e a elevação do nível do mar é a mesma dos últimos 300 anos. O Polo Sul não tinha tanto gelo há muito tempo.” Mas será que o prémio Nobel da Física negou mesmo a crise climática? Sim, o vídeo é de 2015 e foi captado durante a 65.ª edição da Reunião do Prémio Nobel de Lindau. Em apenas 6 minutos e 39 segundos, o físico assegura que “a temperatura [do planeta] tem estado bastante estável”; “nunca fez tanto frio no Polo Sul como agora”; “o aumento do CO2 é muito bom para o crescimento das plantas”; e “não há nenhuma subida do nível do mar incomum”. Para justificar todas estas afirmações, Ivan Giaever mostra um conjunto de gráficos. No entanto, há um consenso científico e inúmeros estudos que provam que todas as afirmações de Giaever estão erradas. Além disso, o vídeo foi gravado há sete anos, ou seja, além de não ser viável aplicar os dados disponíveis da altura para retirar conclusões atuais, muitas dessas informações são retiradas do seu contexto. Em primeiro lugar, importa sublinhar que, tal como explicou ao Polígrafo a investigadora Fátima Abrantes, Giaever não é especializado em alterações climáticas, mas sim em “supercondutores e túnel de eletrões (electron tunneling), ou fenómenos de tunneling em sólidos”. “Parece-me que usam o facto de os Nobel de 2022 estarem ligados ao aquecimento global para irem buscar o nome de outro Nobel da Física para baralhar”, defende a líder do grupo de investigação “oceanografia e alterações climáticas” do Centro de Ciências do Mar (CCMAR). Aumento da temperatura média global é residual? Não. Giaever afirma que “de 1880 a 2015 a temperatura aumentou de 288k a 288,8k (0,3%)” e por isso considera “que a temperatura tem estado bastante estável”. Ao lamentar esta afirmação, Filipe Lisboa, físico e investigador na área das alterações climáticas, diz que “este é um claro exemplo em que os números também podem ser usados como meio de manipulação”. O especialista explica que o aumento verificado pode parecer pequeno em comparação com a temperatura global absoluta em Kelvin (k), “mas é uma mudança muito grande na temperatura da superfície global, especialmente num período tão breve quanto 130 anos”. O investigador faz uma comparação para explicar: “No fundo, usar as unidades absolutas de temperatura para descrever um aumento da temperatura média global é equivalente a viver num trigésimo andar e dizer que vou aumentar as prateleiras de minha casa em 0.3 % relativamente à base do prédio. Se o trigésimo andar ficar a 90 metros de altura, isso quer dizer que todas as prateleiras ficaram quase 30 cm acima do que estavam anteriormente”. No vídeo, o Nobel da Física chega mesmo a afirmar que 2014 não foi o ano mais quente desde que se tem registo (sendo que o vídeo foi gravado em 2015). Ora, tal como refere Fátima Abrantes, esta afirmação é contrariada por duas análises levadas a cabo por cientistas da NASA e da Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos da América (NOAA), que garantiram, em janeiro de 2015, que 2014 foi o ano mais quente da Terra desde 1880. No que diz respeito aos dados atuais, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) e as análises da NASA revelam que 2020 foi um dos três anos mais quentes de que há registo, sendo que 2016 continua a ocupar o primeiro lugar. A década 2011-2020 foi a mais quente de sempre e a temperatura global em 2020 foi cerca de 14,9ºC, ou seja, 1,2ºC acima do nível pré-industrial (1850-1900). Dados da temperatura do oceano manipulam os números da temperatura média global da Terra? A ideia de que os dados de temperatura foram manipulados através dos dados do oceano está totalmente errada, segundo Filipe Lisboa. “É verdade que a temperatura à superfície tem aumentado, mas esse aumento não é tão dramático como o aumento de calor armazenado pelos oceanos. Temperatura e calor são conceitos muito diferentes que um físico laureado com o prémio Nobel conhece muito bem”, sustenta. O aumento de temperatura é, de acordo com Filipe Lisboa, “indubitável”. No entanto, esclarece o investigador, “o aumento de calor, isto é, energia armazenada pelos oceanos, é ainda bastante desconhecido, mas os cientistas sabem que esse aumento de energia disponível nos oceanos tem efeitos dramáticos”. Numa referência aos dados divulgados pelo Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC) em 2013, Fátima Abrantes clarifica que o oceano absorveu mais de 90% do excesso de energia acumulada pelo sistema climático entre 1971 e 2010 (como se mostra no gráfico abaixo), como resultado do aumento da concentração dos gases efeito de estufa (dióxido de carbono, metano, entre outros). Portanto, continua a especialista, “retirando o aumento de temperatura do oceano pode dar-se a ideia de que o aumento da temperatura global é menor do que na realidade tem sido”. É verdade que “nunca fez tanto frio no Polo Sul como agora” e “há mais gelo do que nunca”? “Em ambos os polos, o gelo marinho cresce e decresce anualmente, é um efeito claro e sazonal. Embora a quantidade máxima de cobertura varie de ano para ano, não há efeito no nível do mar devido a esse processo cíclico”, explica o especialista em alterações climáticas. Aliás, estas declarações são corroboradas por um estudo publicado pela NASA, em 2018, que mostra que o crescimento da área e volume do gelo marinho tem sido mais rápido durante os meses de inverno, mas no verão, é contrabalançado pelo degelo causado pelas altas temperaturas. Também o relatório do IPCC, publicado em 2019, indica que a extensão de gelo marinho do Ártico continua a diminuir em todos os meses do ano. Além disso, o gelo hoje é mais fino: “Desde 1979, a proporção de área de gelo espesso com pelo menos cinco anos diminuiu em aproximadamente 90%”. Ao falar de números que comprovam a diminuição dos mantos de gelo, Filipe Lisboa faz referência às estimativas de mudanças recentes no gelo terrestre da Antártida, feitas pelo IMBIE – uma colaboração internacional de cientistas que estuda a contribuição do manto de gelo para a subida do nível do mar. “Entre 1992 e 2017, os mantos de gelo da Antártida perderam 2.720 giga-toneladas (Gt) para os oceanos, a uma taxa média de 108 Gt por ano (Gt/ano). Com uma redução na massa de 360 Gt/ano, o que representa um aumento anual médio global do nível do mar de 1 mm, essas estimativas equivalem a um aumento no nível médio global do mar de 0,3 mm/ano”, adianta o investigador. O aumento do CO2 faz com que as plantas cresçam mais rápido? Filipe Lisboa aponta que este é um argumento muito utilizado por aqueles que preferem ver o lado positivo das alterações climáticas. Só que “esta filosofia de ‘mais é melhor’, defendida por Giaever, é equivalente a um médico dizer para tomar um comprimido e eu tomar quatro seguidos por pensar que vou ficar curado mais rapidamente. O mais provável é que não corra bem”, avisa o investigador. De facto, admite Fátima Abrantes, o CO2 é excelente para o crescimento das plantas, mas não chega. “É preciso nutrientes e os ciclos biogeoquímicos do azoto e do fósforo também têm que ser considerados”, acrescenta. No mesmo sentido, Filipe Lisboa explica que a “disponibilidade indiscriminada” de CO2 não é benéfica para as plantas. Pelo contrário, “pode matá-las”, garante. Para mais, é importante perceber que uma terra mais quente origina o aumento de desertos e terras áridas, reduzindo a área disponível para cultivo. Também um estudo disponível no site da NASA mostra que o aumento dos níveis de CO2 contribuiu largamente para o esverdeamento entre um quarto e meio das terras do planeta com vegetação, mas alerta que esse efeito de fertilização “diminui com o tempo”. Além disso, em todo o caso, o CO2 é “o principal culpado das alterações climáticas” e atinge concentrações “que não eram vistas há pelo menos 500 mil anos”. “Não há nenhuma subida do nível do mar incomum”. Confirma-se? Quando questionada se a subida do nível do mar é normal, como diz Giaever, a resposta de Fátima Abrantes é imediata: “Não, não é verdade”. Na realidade, “toda a variabilidade acontece de forma diferente de região para região e isso é importante ter sempre em mente. Mas este tipo de afirmação terá sempre de ser acompanhada dos dados que a confirmam e da ligação ao trabalho que o prova”, sustenta. Como já foi verificado pelo Polígrafo, segundo os dados disponibilizados pelo Serviço de Monitorização do Meio Marinho do programa Copernicus, o nível médio das águas do mar “aumentou a uma taxa média de 3,2 milímetros por ano desde 1993, representando um aumento total de cerca de 9 cm entre 1993 e 2021”. Nesse plano, Filipe Lisboa explica que a “expansão da água, devido a um aumento de calor disponível, é o principal fator de aumento do nível médio do mar. Depois, há também a componente de degelo sobre os glaciares”. É importante perceber que, ao contrário do que diz no Nobel da Física de 2015, “não só existe um aumento do nível médio do mar como esse aumento tem vindo a acelerar e isso é devido ao aumento de calor no oceano” – tal como mostra o gráfico de um estudo mencionado pelo especialista. Em suma, todas as conclusões retiradas por Ivan Giaever estão erradas, sejam aplicadas em 2015 ou em 2022. Logo, a publicação partilhada é falsa e não prova que o aquecimento global e as alterações climáticas são uma fraude. ___________________________________ Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute. The sole responsibility for any content supported by the European Media and Information Fund lies with the author(s) and it may not necessarily reflect the positions of the EMIF and the Fund Partners, the Calouste Gulbenkian Foundation and the European University Institute.
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