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| - Num debate com sucessivos momentos de tensão, o líder do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, chegou a referir-se ao PAN como um “partido ditador” que tem “um gosto diferente dos portugueses e não se contenta em ser diferente e respeitar a liberdade dos outros, quer impô-la”.
Estava em cima da mesa o tema recorrente da tauromaquia. Dirigindo-se à adversária, Rodrigues dos Santos vincou: “Inês Sousa Real, permita-me dizer uma coisa. Segundo a última sondagem feita pela Eurosondagem em 2019, há três milhões de portugueses que são aficionados. Sabe quantos votos teve o PAN? 14o mil. Sabe que há 87% dos portugueses que diz que não é contra as touradas“.
Verdade ou falsidade?
De facto, a Eurosondagem realizou, entre os dias 14 e 19 de dezembro de 2019, um estudo de opinião com o seguinte título: “O que pensam os portugueses das touradas” (pode consultar aqui).
A sondagem foi encomendada pela ProToiro – Federação Portuguesa de Tauromaquia, com o objetivo de “conhecer a opinião dos cidadãos com mais de 15 anos de idade e residentes em Portugal Continental, sobre o que pensam os portugueses das touradas”, segundo o que está descrito na respetiva ficha técnica. Foram inquiridas 1.100 pessoas no total.
“Portugal é um dos países onde se realizam atividades com toiros (touradas, largadas e outros). Qual a sua postura em relação e este espetáculo?” A esta pergunta, 30,3% dos inquiridos respondeu que é aficionado, gosta ou aprecia a atividade. Por outro lado, 33,7% indicou ser-lhe indiferente que existam ou não estas atividades e 22,7% afirmou não ser aficionado, mas não concordar que se tire a liberdade a quem gosta de assistir a atividades com toiros.
Por fim, apenas 11% dos inquiridos assumiu ser contra a realização deste tipo de atividades.
Quando os resultados do estudo de opinião foram publicados, em janeiro de 2020, a Basta (Plataforma para a abolição das touradas em Portugal) insurgiu-se contra o que considerou ser uma “ridícula sondagem“, com o objetivo de “manipular a opinião pública e condicionar o voto dos deputados em relação ao aumento do IVA das touradas”.
Em contraposição, a Basta apontou para uma outra sondagem realizada pela Universidade Católica Portuguesa (encomendada pela Basta) em 2018. “Com perguntas simples e diretas, demonstra exatamente o contrário em relação à simpatia da população portuguesa pelas touradas”, destacou.
Nesse estudo sobre a praça de touros do Campo Pequeno foram inquiridos 1.009 residentes na cidade de Lisboa. “Já assistiu a touradas na praça de touros do Campo Pequeno desde a sua reabertura em 2006?” A esta pergunta, 89% dos inquiridos respondeu “não“. E à questão sobre se “concorda com a utilização de dinheiros públicos para financiar/apoiar touradas”, 75% dos inquiridos assumiu ser contra.
Rodrigues dos Santos indicou especificamente a sondagem de 2019 como base factual da sua alegação. Mas ao concluir que “há três milhões de portugueses que são aficionados” a partir de um inquérito a 1.100 pessoas, além de nos 30,3% se incluírem as opções “gosta” e “aprecia” (não apenas “aficionado”), aproximou-se do limiar da extrapolação.
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Avaliação do Polígrafo:
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