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| - Em 2018, o coletivo humorista “Porta dos Fundos” lançou um episódio alusivo à época natalícia. Intitulado “Se Beber, Não Ceie“, foi um sucesso enorme, tendo sido premiado com um Emmy. Este ano, Fábio Porchat e Gregório Duvivier, entre outros, decidiram repetir a experiência, mas com contornos diferentes – e polémicos. “A Primeira Tentação de Cristo” gerou uma turbulência assinalável. A razão: Jesus Cristo é retratado como gay.
A Netflix, que distribui o filme na sua plataforma, foi duramente criticada nas redes sociais. Além disso, apontou-se também para uma quebra de milhões de subscritores da plataforma de streaming mais popular do mundo.
“O universo do streaming está cada vez maior e a Netflix segue como plataforma predominante. No entanto, em dezembro de 2019 tem sido um ano desafiador para a gigante, que viu de perto o crescimento lento de seus assinantes. De acordo com a Agência Nacional do Cinema – ANCINE, cerca de 2 milhões de clientes cancelaram o serviço nos últimos 12 dias de dezembro. Por que as pessoas cancelaram o serviço? Cristãos têm promovido boicote à Netflix após a plataforma de streaming lançar mais um filme polêmico produzido pelo Porta dos Fundos”, pode ler-se num artigo que foi amplamente divulgado nas redes sociais.
De facto, criaram-se várias petições para retirar do ar o episódio natalício do grupo de comédia brasileiro. Uma delas conta já com mais de 2 milhões de assinaturas.
Mas será verdade que a Netflix perdeu 2 milhões de clientes à custa de um especial de Natal da Porta dos Fundos? Verificação de factos.
Em primeiro lugar, não há qualquer informação oficial do número de clientes disponibilizada pela Netflix. No último relatório da plataforma de streaming constam apenas dados referentes até Setembro de 2019 e são referentes às receitas, não ao número de subscritores. É impossível afirmar, pelo menos para já, se houve uma quebra de clientes em Portugal, no Brasil, ou em qualquer outro país em que tenha sido disponibilizado o especial de Natal da “Porta dos Fundos”.
A assessoria de comunicação da Netflix brasileira avançou à agência noticiosa UOL que, no mês de abril, o Brasil já teria mais de 10 milhões de inscritos na plataforma. A partir desse mês, não havendo números oficiais, torna-se difícil calcular o número de clientes.
O Boatos.org, plataforma de fact-checking brasileira, avança que se gerou uma confusão com uma notícia saída no dia 10 de dezembro, que apontava para uma possível perda de 4 milhões de clientes em 2020 da Netflix nos Estados Unidos. Porém, essa possível perda devia-se ao crescimento de outras plataformas de streaming.
Estas informações foram dadas por analistas norte-americanos, e sublinhavam o crescimento da concorrência da Netflix: “Laura Martin, analista da Needham & Company, um banco de investimentos americano, afirmou (…) que a companhia pode perder cerca 4 milhões de assinantes nos EUA em 2020 devido à proliferação de novos serviços de streaming que oferecem planos mais baratos, caso não haja uma reestruturação do negócio por parte da Netflix”, pode ler-se no artigo.
A projeção, juntamente com a revolta dos internautas com o episódio de Natal da “Porta dos Fundos”, gerou uma confusão que acabou por propagar desinformação nas redes sociais.
Avaliação do Polígrafo:
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