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| - “Volodymyr Zelensky, o comediante Presidente da Ucrânia, é um judeu sionista com cidadania israelita. O primeiro-ministro, Denis Aschmahul, também, além de outros 10 ministros. Estão a cooperar com os grupos neonazistas. No final, são os mesmos que reclamam de anti-semitismo”; “Não, caros colegas jornalistas, Volodimyr Zelensky não é um herói e jamais o será. É apenas um assassino sionista e neonazista financiado pelos EUA”; “Esta é uma fotografia de Zelensky, que também tem nacionalidade israelita, e que nas Nações Unidas votou contra o reconhecimento do Estado da Palestina e contra sanções impostas a Israel”.
Estes comentários feitos acerca de Zelensky contêm várias imprecisões e até algumas assumpções falsas e enganadoras, como o suposto facto de o presidente ucraniano deter cidadania israelita. Apesar de os seus laços a Israel serem inegáveis, e de Zelensky ser judeu, este afirma apenas conhecer o país e algumas “pessoas de lá”, sendo que nas funções de Presidente da Ucrânia visitou Israel somente por uma vez.
Deixando de lado as especulações, os factos apurados pelo Polígrafo são os seguintes: Zelensky foi empossado para o cargo de Presidente da Ucrânia a 20 de maio de 2019. Antes disso, a sua participação na política nacional e internacional tinha sido nula, sabendo-se que trabalhou como ator, comediante e produtor/diretor cinematográfico.
As relações entre a Palestina e a Ucrânia não são de conflito. Em 1988, a República Socialista Soviética da Ucrânia reconheceu a independência da Palestina, um ato que viria a ser compensado em 1992, um ano depois do fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e da sua declaração de independência, quando a Palestina reconheceu a Ucrânia como um Estado.
A 2 de novembro de 2001 foram estabelecidas entre os dois países relações diplomáticas e, no mesmo dia, foi aberta a Embaixada da Palestina na Ucrânia. As visitas dos respetivos presidentes começaram em 1996 e, de acordo com a informação disponível na página do Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano, a última visita ocorreu em junho de 2018, quando os ucranianos aterraram na Palestina para uma terceira ronda de consultas políticas.
O que aconteceu desde então? Zelensky subiu ao poder, sim, mas a verdade é que as trocas comerciais se mantiveram e a Ucrânia continuou a exportar bens como gorduras, óleos animais ou vegetais, farinhas e cereais, açúcar, entre outros, para a Palestina.
Pouco tempo depois de ter assumido o cargo de Presidente da Ucrânia, Zelensky surgiu lado a lado com Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, em Kiev, no primeiro encontro entre os dois líderes judeus. Não foram muitas as conquistas, além dos acordos bilaterais entre os países, mas o discurso de Netanyahu parece ter agradado a Zelensky, que voou até Israel em janeiro de 2020.
Este mês de janeiro de 2020 não é irrelevante na história. Pouco tempo antes da visita oficial a Israel (22 e 24 de janeiro), a Ucrânia saíra orgulhosamente do comité da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o Exercício dos Direitos do Povo Palestiniano, mais precisamente a 6 de janeiro. Porquê? Porque o conjunto de 25 países que integravam o comité era considerado como demasiado anti-Israel, o que não será de estranhar, tendo em conta o respetivo objetivo de “criar resoluções que critiquem Israel e que sancionem as tentativas de aniquilar a auto-determinação do povo palestiniano”.
Posteriormente, a 19 de janeiro, o jornal “The Times Of Israel” publicava uma entrevista a Zelensky, “um homem sério”, que firmou as suas relações com Israel e as descreveu como “especiais”:
“Os judeus conseguiram construir um país, elevá-lo, sem nada além de pessoas e cérebros. O povo judeu em Israel é um povo único, uma população única. Tem força económica. Existem muitos países no mundo que se podem proteger, mas Israel, um país tão pequeno, consegue não apenas proteger-se, mas enfrentar ameaças externas, responder. Este é um povo unido, forte, poderoso. E apesar de estarem sob ameaça de guerra, aproveitam todos os dias.”
Salto para outubro de 2021, quando o Presidente de Israel, Isaac Herzog, visitou a Ucrânia e avaliou positivamente a implementação das disposições bilaterais do Acordo de Livre Comércio, que entrou em vigor a 1 de janeiro de 2021. Podia dizer-se que as relações estavam melhores do que nunca, mas Netanyahu já não entrava em cena. Tinha sido substituído, em junho desse ano, por Naftali Bennett.
Em contexto de guerra, o que se sabe é que Israel tem funcionado como um peacemaker entre a Rússia e a Ucrânia, com visitas a Moscovo e chamadas telefónicas com Zelensky. Sobre este papel, o primeiro-ministro da Autoridade Nacional Palestiniana, Mohammad Shtayyeh, já teve uma palavra a dizer.
“É gozar com a política internacional que Israel, um Estado ocupante, esteja a tentar ser um mediador para acabar com a crise na Ucrânia”, afirmou Shtayyeh aos ministros do gabinete durante uma reunião. Sublinhe-se ainda que Shtayyeh ainda não teve qualquer encontro presencial com Zelensky.
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Avaliação do Polígrafo:
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