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| - Mais de 20 ativistas da Climáximo bloquearam no dia 17 de outubro a entrada da sede da Galp Energia, em Lisboa, em protesto contra o papel das petrolíferas no aumento do custo de vida e crise climática. João Camargo, ativista daquele movimento pró-ambientalista, realçou em declarações ao jornal “Expresso” que “os lucros recorde da Galp de 420 milhões de euros no primeiro semestre estão diretamente relacionados com o aumento dos preços e da inflação“.
Tem fundamento? Questionado pelo Polígrafo, Diogo Sousa, porta-voz da Galp Energia, refuta a ideia de que os lucros da empresa em causa estejam diretamente relacionados com o aumento dos preços e a inflação. Ao invés disso, atribui o aumento dos lucros no primeiro semestre à produção e exploração no mercado externo, nomeadamente no Brasil e em Angola.
“Mais de 80% dos resultados da Galp são provenientes da produção de petróleo e gás no Brasil e em Angola, no primeiro semestre de 2022. A contribuição da venda de combustíveis em Portugal para os resultados é de 3%“, sublinha, classificando o lucro com origem em Portugal como “residual“. Destaca também que a Galp Energia utiliza 50% do seu capital no investimento em “renováveis e novas energias/negócios de baixo carbono“.
“A Galp assegura 4,8 GW de novos projetos de renováveis e entra na energia eólica no Brasil“, realça.
De resto, o porta-voz remete para um discurso do presidente executivo da empresa, Andy Brown, em recente conferência, quando disse que “embora reconheça que a Galp desfrutou de alguns cash flows mais saudáveis este ano após dois anos de Covid-19 muito difíceis”, está “preocupado que isso seja visto como ‘excessivo‘”.
“A Galp tem um capital de 8 mil milhões de euros aplicado em todo o mundo, principalmente no Brasil. Os nossos ganhos no primeiro semestre representam um retorno anual de 10% sobre o capital investido. Este valor é inferior ao retorno médio dos investimentos das empresas na Europa“, salientou Brown que, aliás, deverá abandonar o cargo de presidente executivo no final deste ano.
Indicou ainda que “80% dos cash flows dos seus negócios” são provenientes “de produção de petróleo upstream no Brasil e em Angola”. Quanto aos lucros em território nacional, o CEO referiu que “a Galp perdeu 135 milhões de euros ao importar gás para a Península Ibérica em 2022 no primeiro semestre do ano, devido a interrupções no fornecimento da Nigéria. Apesar de sofrermos com essas perdas, nunca procuramos invalidar contratos ou procurar indemnização”.
Também contactado pelo Polígrafo, João Duque, economista e professor catedrático no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), considera que os lucros da Galp Energia estão sobretudo ligados aos aumentos dos preços no mercado internacional, sendo a inflação apenas um dos fatores em equação.
Mais especificamente, indica que a principal fonte de lucros reside na exploração e produção de petróleo no Brasil e em Angola. “Eles beneficiam dos resultados no upstream. (…) Não ganham aqui, eles ganham porque estão a vender petróleo no mercado internacional”, conclui.
Por sua vez, João Duarte, economista e professor na Nova School of Business and Economics (Nova SBE), ressalva que os lucros não são assim tão excessivos quanto parece, na medida em que se atentarmos nos valores dos períodos homólogos dos dois anos anteriores – perdas de 22 milhões de euros na primeira metade de 2020 e 166 milhões de euros de lucro em 2021 -, “estamos a olhar para anos atípicos devido à pandemia”.
“Este setor sendo muito regulado, no geral, é perfeitamente possível de se ter uma boa ideia da estrutura de custos e dos projetos de investimento. E sendo uma empresa pública – é obrigada a relatar as contas em termos de balanço -, é possível ter uma ideia se são lucros muito acima do esperado. Mas olhando para a média da Galp de anos anteriores à pandemia, a Galp apresentava lucros de 700, 800 milhões de euros“, sublinha.
Pelo que, considera, um lucro de cerca de 400 milhões de euros na primeira metade do ano “não está muito acima dos lucros que a Galp já apresentou no passado”.
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Avaliação do Polígrafo:
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