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| - “Bebés foram abortados vivos, colocados em geladeira para colher linhagens de células utilizadas em algumas vacinas, diz pesquisadora”. Este é o título do artigo, com origem numa página do Brasil, que está a ser partilhado nas redes sociais desde a sua publicação em fevereiro de 2021.
No respetivo texto lê-se que “kinhas celulares derivadas de bebés abortados usados na produção ou teste de várias vacinas, incluindo uma série de vacinas contra a Covid-19, muito provavelmente vieram de bebés que foram abortados vivos e, de acordo com a prática geral, conforme descrito em literatura médica, podem ter sido colocados em uma geladeira enquanto ainda viviam, onde aguardavam o desmembramento antes de terem seus órgãos retirados, descobriu um pesquisador”.
Estas alegações têm algum fundamento?
Questionado pelo Polígrafo, João Júlio Cerqueira, médico especialista em Medicina Geral e Familiar, começa por salientar que essas células retiradas de fetos abortados são utilizadas na produção de vacinas e que “graças a essas células imortais conseguimos salvar milhões de vidas“.
Atualmente, indica Cerqueira, “existem vacinas que utilizam linhas celulares imortalizadas conhecidas como WI-38 ou MRC-5”. Alguns exemplos são as vacinas contra a Hepatite A (VAQTA/Merck, Havrix/GlaxoSmithKline e parte da Twinrix/GlaxoSmithKline), Rubéola (MERUVAX II/Merck, parte da MMR II/Merck e ProQuad/Merck), Varicela (Varivax/Merck e parte da ProQuad/Merck), Raiva (IMOVAX/Sanofi Pasteur) e a vacina oral para o Adenovírus Tipo 4 e Tipo 7 (Barr Labs).
Relativamente às vacinas contra a Covid-19, Cerqueira sublinha que “existem diferentes fases de produção das vacinas”. Nesse sentido, “todas as vacinas presentes no mercado e aprovadas pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA) – vacinas da Pfizer, Moderna, Astrazeneca e Janssen – utilizaram células imortalizadas em alguma fase. As vacinas de Adenovírus como as da Astrazeneca e Janssen continuam a utilizar células imortalizadas para a produção de vacinas. No entanto, nenhuma das vacinas contém DNA de células fetais abortadas. Isso é falso“.
Mais, a recolha dessas células não se processa como está descrito no artigo. “O texto dá a entender que o aborto foi intencional, no sentido de colher essas células imortalizadas que são utilizadas hoje em dia. Isso não aconteceu. Foram abortos legais realizados à época que foram doadas para investigação médica. Em segundo lugar, a grande maioria das células imortalizadas tem décadas de existência, não sendo necessário recorrer a abortamentos para dar continuidade à produção de vacinas. Os abortos que ocorrerem, iriam ocorrer de qualquer forma. Mas graças à ciência, esses abortos conseguiram levar à salvação de milhões de pessoas”, assegura.
Questionado sobre se essas células poderiam ser substituídas na produção de vacinas, Cerqueira afirma que “existem vacinas que deixaram de utilizar linhas celulares imortalizadas” e “existem vacinas para a Covid-19 que não utilizam, em nenhuma fase de produção, linhas celulares imortalizadas”.
“No entanto, não vejo por que razão se deve deixar de utilizar este tipo de linhas celulares imortalizadas, se forem o método mais eficiente e barato de produção das vacinas. A única coisa que sobra será a componente ideológica de algumas pessoas não se quererem vacinar com estas vacinas por questões religiosas ou éticas. Não por questões de necessidade prática”, considera.
“Negar a realidade, negar tratamentos por questões ideológicas, poderá significar a morte dessas pessoas. Temos assistido a isso com a Covid-19. Temos assistido a situações dessas com os Jeová e recusa de transfusões de sangue. É preciso sensatez a avaliar estas questões e, no caso da vacina, se o próprio Vaticano considera moralmente aceitável a utilização de vacinas para a Covid-19, não vejo porque isto seria um argumento contra a sua utilização”, conclui.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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