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| - “Esta semana fiz o IP3 nos dois sentidos. Lembram-se de António Costa, em 2018, a dizer que ou fazia a requalificação do IP3 ou dava o tempo de serviço aos professores? Eu não me esqueci e pensava que iria encontrar o IP3 menos emparedado e menos perigoso. Engano meu. O tipo é mesmo aldrabão! Mentiroso compulsivo. Lembrou-se daquela no momento e depois nunca mais se preocupou em cumprir a palavra. É difícil para quem não a tem! Meteu no bolso o IP3 e os quase três anos que nos roubou!”, lê-se no texto que acompanha três fotografias alegadamente captadas no Itinerário Principal (IP) 3, entre Viseu e Coimbra.
A publicação data de 29 de maio de 2021 e já foi partilhada 180 vezes.
Em julho de 2018, o primeiro-ministro António Costa esteve presente no arranque das obras de requalificação da IP3. Nessa ocasião, fez questão de referir que o investimento nas estradas nacionais iria implicar a falta de investimento noutras áreas: “De repente toda a gente acha que é possível fazer tudo já e ao mesmo tempo, é preciso termos em conta que, quando decidimos fazer esta obra, significa que estamos, simultaneamente, a decidir não fazer outra obra. Quando estamos a decidir fazer esta obra, estamos a decidir não fazer evoluções nas carreiras ou vencimentos“.
“Quando estamos a decidir fazer esta obra, estamos a decidir não fazer evoluções nas carreiras ou vencimentos”.
Na publicação afirma-se que António Costa se referia aos professores. Apesar de não ter mencionado esta classe profissional diretamente no discurso, a verdade é que nessa altura estava instalada a discórdia entre o Governo e os sindicatos em relação ao tempo de serviço congelado que os docentes iriam recuperar. Grande parte das reações a esta intervenção do primeiro-ministro surgiram de sindicatos de professores.
Os professores exigiam recuperar os noves anos, quatro meses e dois dias de serviço congelado, mas, em outubro de 2018, foi aprovado o decreto-lei que definiu que os professores iriam recuperar apenas dois anos, nove meses e 18 dias.
Passado um ano, em 2019, Mário Nogueira relembrou no congresso da Fenprof: “Não esquecemos que o primeiro-ministro foi o rosto de um Governo que, não raras vezes, desrespeitou e desconsiderou os professores, desprezando os seus direitos, não hesitando em recorrer à chantagem — a ponto de ameaçar demitir-se se o tempo de serviço cumprido fosse integralmente recuperado — e tentando virar as populações contra os professores, como fez quando colocou em alternativa a recomposição da carreira docente ou as obras […] do IP3“, disse.
Já em relação às obras no IP3 e às fotografias apresentadas no post, o Polígrafo contactou a Infraestruturas de Portugal (IP) que informou que “as imagens foram captadas no decorrer dos trabalhos de requalificação do troço do IP3 entre o Nó de Penacova (km 59+000) e a Ponte sobre o Rio Dão (km 75+160)”.
Segundo a IP, “esta empreitada foi concluída em meados do mês de abril deste ano. A conclusão da obra de reabilitação do troço entre o Nó de Penacova e a Ponte sobre o Rio Dão, constitui a primeira fase do projeto geral de requalificação e duplicação do IP3, numa intervenção a executar ao longo de 75 quilómetros na mais importante via de ligação entre Coimbra e Viseu”.
“A segunda fase deste empreendimento consiste na duplicação e requalificação do troço entre o Nó de Souselas e o Nó de Viseu. Está a ser desenvolvido o projeto, incorporando as medidas determinadas na DIA, sendo que após a sua conclusão, a IP irá proceder ao lançamento da empreitada”, esclarece a mesma fonte.
Ao Polígrafo, Álvaro Miranda, da Associação de Utentes e Sobreviventes (AUS) do IP3 confirma que as imagens da publicação foram captadas no IP3, mas indica que, pelo menos duas não são atuais, uma vez que a “primeira fase das obras de requalificação foi concluída a meados de abril”. A associação cedeu fotografias atuais dos locais fotografados no post.
A associação ressalva que, no caso da segunda imagem que surge na publicação, “esta diz respeito a uma zona do traçado que já deveria estar concluída. Aquando do decorrer dos trabalhos a empresa que os estava a executar faliu. Teve que ser aberto um novo concurso. Neste momento a obra teve início em abril com um prazo de execução de 240 dias“.
Segundo a AUS do IP3, esta primeira fase das obras de requalificação foi concluída com o atraso de um ano. “A segunda fase tem como prazo de conclusão 2024. No nosso entender, tendo em conta a sua envergadura, será muito difícil concluir a obra dentro do prazo”, antecipa a associação.
Trata-se de um investimento previsto de 134 milhões de euros e quando os trabalhos estiverem concluídos, o percurso que liga Coimbra a Viseu será feito em menos 22 minutos em relação aos 65 minutos atuais.
Em suma, é seguro concluir que as obras no IP3 ainda não estão concluídas na sua totalidade e que a primeira fase, apesar de concluída, contou com um ano de atraso. No entanto, também é verdade que o ano previsto para a conclusão da segunda fase da requalificação é 2024, pelo que, para já, a obra ainda se encontra dentro do prazo imposto. Importa ressalvar ainda que algumas das fotografias apresentadas no post, de 29 de maio, estão desatualizadas, sendo apresentadas erroneamente como atuais.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Verdadeiro: as principais alegações do conteúdo são factualmente precisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Verdadeiro” ou “Maioritariamente Verdadeiro” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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